quarta-feira, 30 de abril de 2014

Querência amada - Porto Alegre - RS

Gastar Sola Mundo Afora é muito bom, mas vez ou outra é preciso voltar ao torrão natal para recarregar as baterias. Por isso, aproveitando o feriado, vamos rumo ao Sul prometendo voltar com novidades, dicas e, é claro, muitas fotos!

Pista do Aeroporto Salgado Filho - Porto Alegre.

Um bom feriado a todos!

terça-feira, 29 de abril de 2014

Tour pela Baia da Guanabara - Rio de Janeiro - RJ

Mais um feriado se aproxima e, para aqueles que vão curtir estes dias de folga no Rio de Janeiro, aqui vai uma dica de programa imperdível: passear de barco pela Baia da Guanabara.

Já curtiu um passeio de escuna na Baia da Guanabara?

Há várias opções de roteiros, mas todas elas incluem  as belas paisagens que O Gastando Sola Mundo Afora já teve a oportunidade de trazer até você na série Vistas da Baia da Guanabara. Se você ainda não viu, aproveite para conferir clicando nos links abaixo:

As empresas que oferecem estes passeios estão localizadas na Marina da Glória e a contratação do tour pode ser feita diretamente ou através de agências de turismo. Dependendo do roteiro é possível avistar o arquipélago das Cagarras, habitat natural de aves marinhas como fragatas, atobás e gaivotas. Se a opção for pelo tour que costeia a baia, prepare-se para admirar praias, ilhas, fortalezas e ter uma vista inédita do Pão de Açúcar. Seja qual for o roteiro, com um pouco de sorte também é possível apreciar os golfinhos que costumam brincar nestas águas.

Se você pretende aproveitar esta dica, não esqueça de colocar roupa de banho na bagagem. As embarcações param em locais de águas tranquilas para banhos e mergulhos em meio a cardumes de peixes coloridos. E outra coisa, não esqueça a máquina fotográfica!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Águas Calientes - Peru

Águas Calientes é uma pequena povoação situada aos pés das montanhas e serve como ponto de apoio para aqueles que vão visitar Machu Picchu. Como o deslocamento de Cuzco consome um tempo precioso, via de regra os turistas preferem passar a noite aqui e subir a Machu Picchu no dia seguinte para ver o nascer do sol e aproveitar melhor o tempo.

Não há muito o que fazer por aqui. Além dos restaurantes e do mercado de artesanato, tem os banhos termais - daí o nome da cidade: "águas quentes" em espanhol. Considerando que o objetivo de quem visita Águas Calientes é na verdade ir a Machu Picchu, o mais recomendável é não se exceder, dormir cedo e se preparar para o "grande dia". Sempre é bom lembrar que há muito o que ver em Machu Piccchu e que o terreno é cheio de altos e baixos, ou seja, é bom estar preparado para uma boa caminhada.


Vista da cidade a partir do Mercado de Artesanato.

Ponto de saída dos ônibus que seguem à Machu Picchu.

Um fato curioso é a estrada de ferro que passa, literalmente, dentro da cidade. Enquanto almoçava, passou uma composição muito rente ao restaurante, fazendo tremer os pratos e talheres. No início é um pouco perturbador, mas a gente acaba se acostumando. Enquanto me preparava para dormir, me perguntava se os trens passariam pela minha janela durante a noite. Felizmente não, pois a ferrovia encerra suas atividades no final da tarde.


A estrada de ferro passa rente aos restaurantes.

Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook:
Trilha Inca Curta  - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu  - um dia na cidade sagrada dos Incas.


Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru, o artigo Cuzco, a versão cotidiana de uma cidade turística - Peru, o relato do caminho até Machu Picchu em Trilha Inca Curta e da experiência de estar em Machu Picchu em Machu Picchu - Peru.

domingo, 27 de abril de 2014

Viajar é preciso - Rio de Janeiro - RJ

Entardecer no Aterro do Flamengo e, enquanto os pescadores se divertem dando banho nas iscas, ao longe um navio de cruzeiro desliza suavemente com seus milhares de turistas debruçados nas amuradas. Apesar da distância é possível ver o clarão dos flashes e me pergunto pra que flash se estão tão longe da costa?

E la nave vá!

Na verdade isto é secundário. Lá no fundo desejo estar entre eles com minha câmera e clicando as luzes da Baia de Guanabara enquanto vamos rumo ao próximo porto. Qual porto? Não importa. O que realmente importa é estar a caminho, conhecendo lugares, fazendo amigos, provando sabores desconhecidos. Viajar amplia os horizontes e enriquece a alma. Por tudo isso, viajar é preciso!

sábado, 26 de abril de 2014

Machu Picchu - Peru

Vencida a Trilha Inca, faltava apenas adentrar Machu Picchu para que o roteiro ficasse completo. Mas, devido ao adiantado da hora (a visitação encerra às 17h00), esta etapa teve que ficar para o dia seguinte.

Assim, seguindo a orientação do guia, às 05h15 já estávamos na fila para pegar o primeiro ônibus da linha que liga Águas Calientes à Machu Picchu. O trajeto dura em média uns 30 minutos, de modo que - quando finalmente entramos na Cidade Sagrada dos Incas - Inti, o Deus Sol, ainda não havia se levantado.

Além da penumbra, uma pesada neblina cercava as ruínas, conferindo ao lugar um tom ainda mais misterioso. O guia ia seguindo tranquilo entre escadarias e paredes de pedra, falando sobre a vida dos habitantes originais e dando detalhes sobre as construções. Enquanto caminhávamos entretidos neste misto de tour e bate-papo, a luz foi surgindo aos poucos e revelando em detalhes as formas que apenas se insinuavam na umidade da manhã.

Pela manhã, a cidade parece flutar entre nuvens.

Como chegamos cedo haviam relativamente poucos turistas ao redor, permitindo uma visitação mais tranquila. O governo peruano autoriza 2.500 visitantes por dia. Considerando que a cidade foi projetada para abrigar em torno de 500 moradores fica fácil perceber que no auge da visitação as ruínas viram um formigueiro de gente.

Visitar Machu Picchu é uma experiência muito pessoal e cada um guarda a lembrança daquilo que mais lhe impressionou. Entretanto, a grandiosidade daquela obra levada a cabo num local tão inacessível é algo que salta aos olhos do turista mais distraído. Até hoje não se sabe ao certo com qual finalidade ela foi erquida, mas o certo é que ela ficou como testemunho da engenhosidade e poder de organização dos incas.

Praça Central com setor agrícola ao fundo.

Há muito que ver por aqui e os guias apresentam um roteiro pré-definido com os principais pontos de interesse. Assim que este roteiro foi concluído, nos despedimos e pude dar início ao que mais gosto: gastar sola a esmo, desta vez em Machu Picchu!

Intiwatana, a pedra de amarrar o sol.

Um detalhe que me chamou a atenção foi a sobriedade e simplicidade das habitações. Os incas não utilizavam móveis e seus poucos utensílios eram guardados em nichos nas paredes. Mesmo o rei dispunha de aposento muito semelhante aos de seus súditos. A única diferença é que para ele havia um ... banheiro! Na verdade um recinto estreito com uma fossa sem assento. O interessante é que havia escoamento dos dejetos para fora da cidade e, quando pesquisadores modernos localizaram o ponto de deságue, foi encontrado um bracelete de ouro, provavelmente perdido por algum soberano ao fazer uso do "trono" real.

Setor residencial.

O local é muito bem sinalizado e pode-se ficar andando a vontade. Diversos guarda-parques espalhados em locais estratégicos orientam e cuidam para que os turistas não cometam excessos ou danifiquem o patrimônio. Infelizmente nem todo visitante tem um entendimento claro sobre a importância do local que está visitando e a presença dos guardas se torna realmente necessária. Um detalhe importante: não há banheiros, nem lanchonetes ou lojas de conveniência por aqui. Todas estas facilidades ficam do outro lado do portão de acesso e quem sai não pode retornar.

Guarda-parque observa movimentação dos visitantes.

Terraços para produção agrícola.

Machu Picchu foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985 e um dos compromissos assumidos pelo governo peruano é o de manter conservada suas características originais. Cumprir este compromisso não é tarefa fácil e no decorrer do dia pude constatar que um verdadeiro exército de operários se movimenta discretamente, cuidando para que tudo fique em ordem. É preciso impedir que o mato tome conta dos muros de pedra, por exemplo, ou que o sistema de abastecimento de água se converta num criatório de mosquitos. Estas atividades tão necessárias precisam ser feitas apesar da presença do público, pois o parque está sempre aberto a visitação. Por isso é comum que alguns setores estejam temporariamente inacessíveis devido a obras de restauro.

Operários retiram vegetação que cresce entre as pedras.

Instalação pedagógica demonstra técnica de construção dos incas.

Próximo do meio-dia o nevoeiro já havia se dissipado e o sol finalmente pode se fazer presente, dando um novo colorido a paisagem. Após uma última volta pela vielas estreitas era hora de subir as escadas de pedra pela última vez e me dirigi ao portão de saída, rumo a estação de ônibus. Em menos de uma hora estava em Águas Calientes, num restaurante, aguardando que meu pedido ficasse pronto. Em questão de minutos o tempo fechou e um aguaceiro se abateu sobre a cidade. Imediatamente lembrei dos que ainda estavam lá em cima e agradeci a Inti por ter me permitido conhecer Machu Picchu em sua prença.

A Casa do Vigia.

Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook. E se gostou, curta!

Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru, o artigo Cuzco, a versão cotidiana de uma cidade turística - Peru e o relato do caminho até Machu Picchu em Trilha Inca Curta.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ogunhê! Salve Jorge! - Rio de Janeiro - RJ

Oficialmente, São Sebastião é o Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro, mas o coração do povo carioca elegeu São Jorge como seu companheiro nesta missão. As demonstrações de fé e confiança em seu poder são diárias, porém elas se intensificam e transbordam em manifestações públicas no dia 23 de abril de cada ano, data consagrada ao Santo Guerreiro.

Missa campal no Campo de Santana.

As homenagens se extendem por toda cidade, sendo mais intensas no entorno da Praça da República e no Campo de Santana. Aqui fica a Igreja de São Jorge e muito cedo os devotos formam filas para ver a imagem em tamanho natural do santo montado em seu cavalo.

Sincretismo a toda prova


Embora seu título de santo tenha sido cassado em 1969, São Jorge desperta tanta devoção em seus fiéis que a própria Igreja Católica promove celebrações dedicadas a sua memória. Durante os festejos do dia 23 de abril são celebradas missas de hora em hora como forma de atender a todos que acorrem em busca de conforto e proteção.

Para as religiões de matriz africana, São Jorge é Ogum, o orixá guerreiro, também associado ao ferro e a metalurgia. Ogum sempre foi rei e para os adeptos destas religiões nunca perdeu a majestade.

Orientador Espiritual promove limpeza de fiel.

Aliás, é interessante notar que para os devotos o importante é prestar a homenagem que o santo, ou orixá, merece. Durante as celebrações católicas, orientadores espirituais de diferentes correntes religiosas atendiam as pessoas que transitavam entre os credos sem qualquer problema, numa clara demonstração de sincretismo religioso difícil de encontrar em outros lugares.

Fiel ergue ramo de arruda para a Benção dos Objetos, durante missa campal.

Não há dúvida que São Jorge é um santo popular por excelência, adorado e venerado por todos, mas principalmente pelas camadas mais simples da população. E é tocante ver as formas como esta devoção se manifesta em gestos cotidianos, como oferecer cerveja a sua imagem como se oferece a um amigo. Ou estampar num cartaz o sentimento que vai dentro do coração.

Vendedor de lembranças aproveita para dar o seu recado.


Em Abaretiba, nossa página no Facebook, está disponível o álbum de fotos desta festa: São Jorge, o santo popular por excelência.






quarta-feira, 23 de abril de 2014

Trilha Inca Curta - Machu Picchu -Peru

Todos os caminhos levam a Cuzco


O alto nível de organização demonstrado pelos Incas explica, ao menos em parte, a grandeza e a força de seu império. Além de guerreiros, os Filhos do Sol eram também agricultores, artesãos, mercadores e construtores de primeira linha. Ergueram cidades e centros de produção agrícola em espaços conquistados a duras penas às montanhas, em locais que mesmo hoje seriam considerados inacessíveis.

Para conectar Cuzco, a capital do império, com as diversas localidades espalhadas por boa parte da América do Sul, teceram uma malha de estradas com mais de 30.000 km. Ou seja, os caminhos incas não se restringiram apenas ao Peru, abrangendo países como Argentina, Equador, Chile e Brasil. Boa parte destas vias de comunicação existem até hoje e alguns trechos tem sido utilizados para prática de trilhas. É o caso dos caminhos que levam à Machu Picchu.

A Trilha Inca


É um dos trechos remanescentes do antigo caminho que ligava Cuzco à Machu Picchu, ainda com calçamento de pedras original cobrindo boa parte de seu leito. Pode ser considerado uma das rotas de trilha mais famosas que existem, atraindo trilheiros de diversas partes do mundo, tanto pelo desafio da altitude quanto pelas belas paisagens e sítios arqueológicos que se avista no decorrer do percurso. É importante saber que os conquistadores espanhóis não passaram para o lado esquerdo do rio Urubamba, de modo que os vestígios incas nesta região escaparam da destruição que vitimou outras localidades e encontram-se muito bem conservados. Este fato histórico também explica porque Machu Picchu chegou até nossos dias tão bem preservada.

Há duas opções de Trilha Inca:
  • Trilha Inca Curta: inicia no quilômetro 104 da ferrovia que liga Cuzco a Águas Calientes e dura dois dias. A extensão é de 14 km e a altitude máxima é de 2700m. O pernoite é feito em hotel, na cidade de Águas Calientes;
  • Trilha Inca ou Trilha Longa: inicia no quilômetro 82 da mesma ferrovia e dura quatro dias. Sua extensão é de 40 km, sendo que a altitude máxima chega a 4200m e os pernoites são feitos em barracas.
Ambas as trilhas levam a Intipunku, a Porta do Sol, e dali a Machu Picchu.

Desta vez o Gastando Sola Mundo Afora foi conferir como é a Trilha Curta e já podemos adiantar que não faltaram emoções nesta jornada. Isto sem falar que retornamos ao Brasil planejando voltar ao Peru para a Trilha Longa.

Um susto no km 104

 Enquanto me preparava para a viagem ao Peru e lia sobre a Trilha, estranhava o fato de todos dizerem que ela começa no km 104 e nunca citarem uma estação ou ponto de controle.

Quando o trem parou no meio do nada e o condutor anunciou que aquele era o famoso km 104 tive minha resposta. Não há estação ou qualquer outro tipo de estrutura. O trem simplesmente para e os que irão realizar a trilha descem.

Km 104 - aqui tem início a Trilha Inca Curta.

Havia combinado com  a agência que encontraria meu guia neste ponto para dali darmos início a caminhada, mas não foi o que aconteceu. Aos poucos os grupos foram se organizando e seguindo em frente e nada do guia aparecer. Preocupado perguntei a um dos guias presentes no local como deveria proceder, pois estava sozinho. Seguindo sua orientação, fui com o grupo até o Posto de Controle de Chachabamba. Pelo visto é relativamente comum ocorrer este tipo de problema e o melhor é aguardar no posto, uma vez que é proibida a trilha desacompanhada de guia.

Felizmente o desconforto não durou muito tempo. Com um sorriso maroto o jovem que me orientara apontou para um rapaz que vinha correndo pela ponte pênsil e disse:

- Creio que aquele lá é o teu guia!

Feitas as apresentações, fico sabendo que Richard, o guia, fora atacado e mordido na perna por um cachorro.  De início pensei em cancelar a trilha, mas ele insiste dizendo que não há problema. E na verdade não há muito o quê fazer mesmo. Para consultar um médico será necessário ir até Águas Calientes de qualquer forma.

Caminhando nas alturas


O caminho segue as curvas de nível da montanha.

A trilha em si não apresenta maiores dificuldades. O caminho é estreito na maior parte do tempo, mas bastante regular e desimpedido - afinal, esta era uma estrada para uso rotineiro e não poderia ser diferente.

Alguns trechos da trilha preservam o calçamento original.

A dificuldade fica por conta da altitude. O Posto de Controle de Chachabamba está a uns 2100m e Intipunku, o ponto mais alto, a 2700m acima do nível do mar, o que significa uma rampa de 14km de extensão com um desnível de 600m a ser vencido num ambiente de ar rarefeito. Para superar este desafio preparo físico é fundamental, mas a atitude mental não pode ser negligenciada. Com a fadiga pode vir o desânimo e se isto ocorrer será extremamente penoso concluir a jornada.

Ao longo do caminho há abrigos onde se pode fazer paradas técnicas para organizar o equipamento, reidratar e realizar lanches rápidos. É proibido comer ao longo da trilha, principalmente nos sítios arqueológicos, e também não se pode deixar nada para trás. Todo o lixo produzido deve ser levado para ser descartado no Posto de Controle de Machu Picchu.

Um dos abrigos existentes ao longo da trilha.

Felizmente a paisagem ao redor se encarregava de nos distrair e motivar para seguir adiante. Neste dia o tempo estava firme e a temperatura amena, o que também favoreceu o sucesso da empreitada. Com algumas horas de marcha atingimos o sítio arqueológico de Wiñay Wayna, um impressionante centro de produção agrícola constituído por terraços que ocupam boa parte da montanha. Era daqui que os Incas tiravam o sustento da terra, aproveitando cada centímetro da encosta graças a esta admirável obra de engenharia.


Setor residencial de Wiñay Wayna, com terraços ao fundo.

O complexo de Wiñay Wayna é monumental e sua altura equivale, aproximadamente, a um prédio de 15 andares. Digo isto porque para seguir na trilha é necessário subir por uma escada que conduz ao topo da construção, para de lá seguir adiante. Enquanto tomava fôlego num dos platôs intermediários, pude comprovar a dificuldade da subida observando membros de outros grupos. Realmente não é fácil.

Escadaria de Wiñay Wayna, um desafio a ser vencido.

Enquanto descansava, também aproveitava para mascar algumas folhas de coca adquiridas na visita que fiz ao Mercado de San Pedro, uns dias antes. Estas folhas são consideradas medicinais e utilizadas diariamente pela população local. Seu efeito é imediato e são muito eficazes contra o soroche, o mal das alturas.

Sanduíche de abacate

Por volta das 13h45 atingimos o setor de acampamentos e aproveitamos para almoçar. Este setor é o último ponto de parada da Trilha Longa e a partir daqui as duas trilhas percorrem o mesmo caminho. Há uma área destinada às barracas, banheiros e chuveiros. Aqui se pode até cozinhar, mas nossa refeição foi leve e, para mim, diferente: sanduíches de abacate com tomates, queijo e presunto. Não sei se devido a fome, a habilidade do guia ou a altitude, mas estava uma delícia!

Na saída do setor de acampamentos fica o Posto de Controle de Wiñay Wayna, última parada antes do destino final: Machu Picchu.

Bom humor é fundamental

Os quilômetros finais foram percorridos sem maiores incidentes. Após um trecho inicial de subida constante a trilha fica mais suave, alternando partes planas com aclives não muito acentuados. Pelo menos até chegar próximo a Intipunku, onde o último obstáculo a ser vencido é uma escadaria bastante íngreme, a qual escalei utilizando pés e mãos.

No topo, Richard me recebe com uma risada divertida e pergunta:

- Amigo Paulo, sabes como chamamos a esta escada? Matagringos!!

Penso com meus botões que o nome não podia ser mais adequado e que, sim, existe humor na trilha.

Em pouco tempo chegamos a Intipunku, de onde se avista a Cidade Sagrada dos Incas. São 16h00 e o sol  começava a declinar, realçando a silhueta da cidadela entre as montanhas. Uma imagem e emoção inesquecíveis.



Machu Picchu vista da trilha.

A pose clássica com Machu Picchu ao fundo - foto de Richard Cerón.

A partir de Intipunku a trilha se converte numa descida constante, oferecendo diversos pontos de onde se pode admirar Machu Picchu de cima. Devido ao horário, os visitantes estão de saída e a cidadela está vazia, como deve ter ficado por séculos até ser redescoberta no início do século XX.

A entrada em Machu Picchu se dará no dia seguinte, após um merecido repouso em Águas Calientes, mas isto já é uma outra história.

Veja os álbuns de fotos sobre essa aventura em Gastando Sola, nossa página no Facebook. E se gostou, curta!

Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru e o artigo Cuzco, a versão cotidiana de uma cidade turística - Peru.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Especial Tiradentes

José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, sempre foi uma figura controversa na história do Brasil. Filho de portugueses, para a Coroa Portuguesa, que o sentenciou a morte, não passava de um traidor. Obtida a independência brasileira, seguiu no ostracismo por ser republicano num império que mantivera a Casa de Bragança no poder. A mesma contra a qual se insurgira.

Monumento à Tiradentes - Rio de Janeiro.
A construção da imagem do Mártir da Independência começa a ser construída somente após a proclamação da república, no contexto da construção de uma identidade nacional para a nação brasileira. Os longos cabelos e a barba não condizem com o status de preso da época, mas aproximam a figura de Tiradentes a de Cristo, numa tentativa deliberada de enaltecer a figura do herói.

Mas se pararmos para pensar a respeito, tanto faz se a figura do herói foi construída pelos ideólogos da república ou forjada na luta contra a tirania. A verdade é que o alferes que se rebelou contra os desmandos da Corte Portuguesa no final do século XVIII talvez hoje encontrasse motivos de sobra para continuar se rebelando. Os títulos são outros, mas os abusos de quem detém o poder são os mesmos de sempre.

Tiradentes precisa ser lembrado, hoje mais do que nunca!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Especial Páscoa

Embora a Páscoa seja uma celebração eminentemente judaico-cristã seu significado simbólico transcende os limites da religião e se transforma num convite à reflexão pessoal. Páscoa é passagem, morte e ressurreição ou, em outras palavras, mudança.

Mas Páscoa também é um momento para o convívio familiar, de dar e receber presentes e carinho. Aproveite cada momento para festejar a vida e a alegria de estar junto de quem lhe quer bem. Uma Feliz Páscoa a todos!

Cruz decorada para Páscoa - Cuzco, Peru.

Ofício das Trevas - Vassouras, Rio de Janeiro.

Tiradentes -MG.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Cuzco, a versão cotidiana de uma cidade turística - Peru

Cuzco é um lugar repleto de singularidades. Aqui a cultura ancestral convive com a herança colonial e os tempos modernos sem conflitos aparentes. E isto não é difícil de perceber, mesmo estando muito próximo do Centro Histórico ou de outros pontos turísticos. Foi o que descobri na manhã do segundo dia, quando sai bem cedinho gastando sola pelas ruas para ver a cidade despertar.

Uma cena comum: mulheres com suas lhamas em busca de turistas para fotos.


Mulheres tradicionalmente vestidas atravessam a rua sob o olhar vigilante da guarda de trânsito.

E nem foi preciso ir muito longe. Bastou caminhar algumas quadras e parar numa esquina por alguns instantes para sentir que o tempo aqui flui em outro ritmo, bem mais devagar, trazendo cenas que mesclam a vida pacata do interior com a rotina de uma cidade grande. Como esta, da guarda de trânsito que acompanhou vigilante duas senhoras que precisavam atravessar a rua. Diga-se de passagem que o zelo se justifica, pois um dos pontos negativos de Cuzco é o trânsito confuso - e sempre engarrafado ao cair da tarde.


Mascar folhas de coca é um hábito por aqui.

Grupo local no assédio aos hóspedes de um grande hotel.

Quando chegava ao Centro Artesanal de Cuzco avistei, do outro lado da rua, um grupo parado em frente a um hotel de luxo e, pelo volume dos sacos que portavam, não foi difícil deduzir que eram vendedores de regalos e artesanías. Cada vez que um hóspede com cara de turista saia pela porta do hotel o grupo se acercava oferecendo suas mercadorias numa corrida para ver quem alcançava primeiro o freguês.


Enquanto fazia pontaria com a teleobjetiva para capturar a caça ao turista que se desenrolava mais adiante, um rapaz com uma grande pasta debaixo do braço chegou bem perto e ficou olhando, curioso. Era Henry, um simpático vendedor de quadros que deve ter achado muito estranho aquele gringo fotografando sabe-se lá o quê! Em pouco tempo a conversa corria solta como se fossemos velhos conhecidos. Depois de explicar a ele o propósito de minha visita prometi publicar sua foto e anunciar seu produto no blog. Então, promessa cumprida. Quando em Cuzco, procurem pelo Henry na praça em frente ao Centro de Artesanato e digam que fui eu quem o indicou.

Henry, pintor de rua e gente boa.
O Centro de Artesanato é um grande pavilhão que reúne diversas bancas dedicadas a venda de toda sorte de lembrancinhas de viagem. Muito provavelmente é aqui que se abastecem os vendedores ambulantes que abordam os turistas pela cidade oferecendo regalos a preços módicos. Embora haja uma indisfarçável padronização nas estampas e evidentes sinais de produção em série nos produtos, é um lugar que merece ser prospectado com calma em busca de manifestações autênticas e originais.

Corredores do Centro de Artesanato são decorados com bandeiras de vários paises.
Foi assim que me deparei com a tenda da Marlene, uma sorridente artesã que ficou muito orgulhosa em explicar que era ela e sua família quem produzia as peças pelas quais eu demonstrava interesse. Eram pequenos Toritos de Pukara feitos em porcelana vitrificada, pintados a mão com pigmentos orgânicos. Gostei tanto que levei cinco, voltei dois dias depois e levei mais cinco. Uma excelente lembrança para os amigos, o problema agora é conseguir me desapegar deles.

Marlene, misto de artesã e vendedora.

Alguns passos mais rápidos depois (as vezes esquecia que por lá o ar é rarefeito) e a respiração começou a ficar ofegante. Era a deixa para uma parada estratégica para um chá de coca. Na rua Matara, onde me encontrava, não faltam opções de bares e lancherias que oferecem o chá, então não foi preciso procurar muito. O curioso, para nós que temos outra ideia do que seja a coca, é que aqui ela é considerada um produto natural, oferecido abertamente e do qual sabem muito bem como obter os efeitos terapêuticos desejados. Quando bate o mal-estar provacado pela altitude, é um santo remédio.

Mate de coca industrializado. Um pouco amargo, mas eficaz contra o soroche.
Descansado e refeito, segui perambulando até chegar ao pórtico conhecido como Portal de Santa Clara, uma construção colonial que deve ter tido alguma função no passado, mas que hoje é apenas um magnífico ponto de referência.

Portal de Santa Clara, próxima a Igreja de São Francisco.

Cruzando pelo portal e seguindo em frente chega-se a praça onde fica o famoso Mercado Municipal ou Mercado de San Pedro, como também é conhecido. Não é um ponto turístico, mas se você, como eu, gosta de saber como vive o povo da região, a visita é obrigatória.

Logo na entrada chama a atenção uma grande faixa anunciando aos amigos do alheio que lhes está proibida a entrada. Aos que se arriscarem, pena de prisão e espancamento! Talvez seja este o segredo da tranquilidade do lugar.


Cartaz na entrada do mercado avisa que está proibido o ingresso de amigos do alheio no recinto.

No Mercado San Pedro encontra-se principalmente gêneros alimentícios e utilidades para o lar, com destaque para as frutas e hortaliças disponíveis em grandes quantidades e com excelente aspecto. Várias carnicerias (açougues) expõem sua mercadoria abertamente e sem refrigeração. Interessante que aqui não há moscas. Será pela altitude?


Açougueira preparando a carne.


Máscaras festivas. O nariz longo é uma alusão aos colonizadores espanhóis.

Além das bancas, há também vendedores ambulantes espalhados pelo mercado, expondo seus produtos no chão com a maior naturalidade.



Vendedora regando seus legumes.

Vendedora em meio aos corredores do mercado.

Vou de banca em banca cumprimentado a todos e perguntando sobre os produtos que oferecem. A recepção é amigável, como sempre, e todos parecem achar graça no meu interesse por coisas, para eles, tão comuns. As entrevistas, além de enriquecerem meu repertório culinário, acabam por proporcionar um benefício muito importante: uma senhora especializada em ervas medicinais me oferece um pacote de folhas de coca por Sl 1,00 (um sole = um real). Receoso, pergunto se pode ocorrer algum efeito colateral e ela, sem cerimônias, põe a língua para fora para mostrar que está mascando enquanto falamos. Com um sorriso explica que não há perigo e mostra a quantidade a ser usada em cada aplicação. Dias depois, encarando as escadarias de Wiñai Wayna, lembrarei desta lição com carinho.

E com isso foi-se a manhã. Retorno a Plaza de Armas para o almoço e, enquanto degustava uma saborosa carne de alpaca, me deparo com esta cena de dois cavalheiros conversando sob a sombra de um guarda-chuva. Cuzco não se cansa de me surpreender.

Um gesto de solidariedade.

Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru.


Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook:
Cusco - flagrantes de um passante;
Mercado de San Pedro - aqui se encontra de tudo;
Trilha Inca Curta  - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu  - um dia na cidade sagrada dos Incas.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Cuzco - Peru

No último dia 06, as 05h40 da manhã, teve início a jornada rumo a Machu Picchu, a Cidade Sagrada dos Incas. Como o roteiro previa a realização da Trilha Inca Curta, um trajeto de 14km a pé pelas montanhas, optou-se por uma estadia de três dias em Cuzco para aclimatação devido a altitude.

Esta decisão não podia ser mais acertada. Para quem vive ao nível do mar, a mudança brusca para uma região de ar rarefeito produz uma série de efeitos no organismo, sendo a fadiga e a dificuldade para praticar atividades físicas simples a mais comum. Além disso, a cidade de Cuzco se revelou um lugar repleto de histórias, usos e costumes que precisavam ser descobertos e registrados.

Cusco, Cuzco ou Q'osqo?


Antes de prosseguir é bom que se diga que aqui foi adotada a forma atual de grafia do nome da cidade: Cuzco, com "z", para diferenciar de cusco, que em espanhol significa "cachorro".

Q'osqo é a forma quechua (idioma incaico) de designar a cidade e significa centro ou umbigo, uma vez que Q'osqo era a capital do Império Inca. Como os colonizadores espanhóis não conseguiam pronunciar o nome do lugar corretamente, acabaram por chamá-la Cusco, certamente com um viés pejorativo.

Do Rio a Lima


A viagem incluía uma parada em Lima, capital do Peru, para troca de aeronave. Como este foi o primeiro destino de um voo internacional, todos os procedimentos de imigração e aduana foram realizados aqui. O Aeroporto Internacional Jorge Chavez é um dos mais modernos da América Latina, tendo recebido prêmios internacionais em reconhecimento a qualidade dos serviços oferecidos.


Área de embarque internacional do aeroporto de Lima.

Curiosamente, para despachar a bagagem foi necessário dar a volta pela rua para entrar novamente no setor das companhias aéreas. Felizmente fazia sol!

De Lima a Cuzco


Logo após a decolagem a paisagem litorânea fica para trás e surgem cadeias de montanhas que formam uma bela paisagem. O percurso é curto e em uma hora e meia aproximadamente se chega a Cuzco. Aqui o aeroporto é menor e mais simples, mas funcional. Na saída, uma multidão formada por funcionários das agências de viagens que vem recepcionar seus clientes, taxistas e vendedores aguarda os turistas. A confusão é grande e é bom ficar atento. Sem esquecer que o corpo pode começar a apresentar os primeiros sinais da falta de oxigenação. O jeito é respirar fundo e caminhar devagar.

La Plaza de Armas


A primeira orientação dada aos recém chegados é para que repousem no primeiro dia e tomem muito chá de coca, uma forma milenar de combater o soroche (mal da altitude). Mas como repousar com tanta novidade correndo lá fora? O jeito foi largar a mala no quarto, passar a mão no equipamento fotográfico e sair gastando sola pelas ruas de Cuzco.

Chafariz da Plaza de Armas, com o Inca Dourado.

Em pouco tempo se chega a Plaza de Armas, local instituído pelo conquistador Francisco Pizarro por ocasião da tomada de Cuzco em 1533 em substituição à praça principal dos incas, localizada no mesmo lugar até hoje.

É nesta praça que se ergue imponente a Igreja de São Domingos, Catedral de Cuzco, e é também aqui que se concentra o setor turístico da cidade, com inúmeros restaurantes, casas de câmbio, hotéis, museus, lojas de artesanatos e ambulantes. Isto sem falar nas mulheres e crianças vestidas com trajes típicos que se oferecem para fotos por apenas un sole, señor (Sl 1,00 equivale a aproximadamente R$ 1,00).


Igreja da Companhia de Jesus.

Após algumas voltas pela praça era hora de ampliar o círculo e explorar seus arredores. Não foi preciso andar muito para perceber que a cidade é uma mescla de arquitetura inca e colonial, pois são muitos os prédios que apresentam a base composta por pedras polidas e perfeitamente encaixadas, característica dos incas, com paredes mais modernas erguidas sobre elas.

Rua típica do centro histórico de Cuzco.

Outro detalhe característico é o recorte dos telhados e a presença de balcões de madeira ricamente decorados, o que não deixa dúvidas sobre a origem espanhola das construções.

Balcões de madeira são comuns por aqui.

Um povo orgulhoso e hospitaleiro


Não há como ouvir o relato dos guias sobre as atrocidades cometidas pelos colonizadores na conquista da América Latina e ficar indiferente. Afinal, aqui ocorreu o genocídio de uma civilização inteira. Vidas foram massacradas e sua cultura destituída de qualquer valor. Na ânsia de sufocar as manifestações religiosas originais, os espanhóis ergueram suas igrejas sobre os palácios incas e substituíram seus deuses por santos católicos.

Cruz enfeitada por ocasião da quaresma.

Mesmo assim, dizem os guias com uma indisfarçável ponta de orgulho, o povo soube como abraçar os novos símbolos impostos e mesclar com suas crenças, num forte sincretismo que se manifesta principalmente agora, na semana santa. O culto a Pachamama seguiu na adoração à Virgem Maria e os artistas da escola cusquenha de arte implantaram símbolos pagãos em diversas obras que enfeitam a catedral de Cuzco. Um exemplo desta resistência cultural é o rosto do conquistador Francisco Pizarro no corpo de Judas, no quadro A Última Ceia.


Artesã em trajes típicos oferece seus trabalhos na Plaza de Armas.

Mas, a julgar pela passagem por Lima e pelas experiências vividas em Cuzco, pode-se dizer que o povo peruano é, além de muito orgulhoso de seu passado, bastante amável e sabe como receber bem o turista. Em mais de uma ocasião tive a oportunidade de constatar isto pela gentileza com que fui tratado por pessoas das mais diversas ocupações, inclusive transeuntes sem relação com prestação de serviços turísticos.

Señor Inácio, com quem aprendi algo sobre as técnicas cirúrgicas dos incas.

E com relação à segurança, posso afirmar que fiz minhas caminhadas pela cidade completamente distraído e com a câmera fotográfica no pescoço, como há muito não fazia. Proeza impensável no Rio de Janeiro dos dias atuais.

Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook:
Trilha Inca Curta  - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu  - um dia na cidade sagrada dos Incas.

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