quarta-feira, 30 de julho de 2014

Escadaria Selarón - Rio de Janeiro - RJ

Não há como saber com certeza quando a escadaria da rua Manuel Carneiro deixou de ser chamada de Escadaria do Convento para ser conhecida como Escadaria Selarón. O certo é que esta é sem dúvida a mais expressiva e divulgada obra de Jorge Selarón, artista chileno que adotou o Rio de Janeiro como destino final, após percorrer mais de 50 países.

O local ainda guarda muito da irreverência do artista.

Foi por volta de 1990 que Selarón instalou-se junto à escadaria, em Santa Teresa, mas somente em 1994 deu início ao seu azulejamento. De início a obra não foi muito bem aceita pelos vizinhos, que estranharam a iniciativa do artista. Posteriormente, com o advento da fama, as coisas ficaram mais fáceis.

Casa onde funcionava o ateliê do artista.

Considerando que são 215 degraus, com 125 metros de extensão, não há dúvida que se tratava de uma obra de fôlego considerável. Sem contar com patrocício ou subvenções públicas, Selarón utilizava os recursos obtidos com a venda de seus quadros aos turistas que começavam a frequentar o local justamente por causa de seu trabalho. Ele aproveitava estes contatos para pedir que as pessoas lhe enviassem azulejos de seus locais de origem, conseguindo assim uma imensa variedade de peças de todas as partes do mundo.

Hoje a escada é um ponto turístico consagrado.

Enquanto vivo, Selarón manteve a obra em constante mutação. Segundo suas próprias palavras, ele só daria o trabalho por concluído após sua morte. Conforme ia recebendo novas remessas de azulejos, refazia os mosaicos de modo que dificilmente alguém que voltasse a andar por seus degraus os encontraria do mesmo jeito. Em 2005 a Escadaria foi tombada pela prefeitura e o artista agraciado com o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro. Após sua morte em 2013 as alterações cessaram e o trabalho finalmente foi dado como concluído.

Azulejos de diversas partes do mundo formam um verdadeiro mosaico nos degraus da escadaria.

Painel com autoretrato do artista.

A obra de Selarón é tão marcante que inspirou outras pessoas a seguirem seus passos. De acordo com o blog Mosaicos do Brasil, Jessie Audette, uma norte-americana que viveu alguns anos no Rio, levou a idéia para São Francisco, na Califónia, em 2004.

Além da escadaria Selarón possui outras obras espalhadas por Santa Teresa e Lapa, inclusive uma intervenção que foi tema do post Selarón e os Arcos da Lapa, aqui no blog.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Convento de Santa Teresa - Rio de Janeiro - RJ

Desde que cheguei ao Rio em 2009, me chamava a atenção aquela igreja branca na encosta do morro que avistava no caminho do trabalho. Mais tarde vim a saber que se tratava do Convento de Santa Teresa, um mosteiro carmelita, o que serviu apenas para atiçar ainda mais minha curiosidade. Mas o tempo foi passando e, por um motivo ou outro, nunca tive a oportunidade de conhece-la de perto.

Vista da Igreja

Por isso, quando soube que a Expedição Cultura havia programado um tour que incluía uma visita ao Convento, juntei-me ao grupo e fui gastar sola nas ladeiras do bairro mais charmoso do Rio de Janeiro. O roteiro inicia no Passeio Público, segue pela Escadaria Selarón, pelo mosteiro e desemboca no Largo dos Guimarães. Dali parte para incursões em ruazinhas secundárias que guardam verdadeiros tesouros da arquitetura carioca. Como o post de hoje é sobre o Convento de Santa Teresa, os detalhes do passeio ficarão para um futuro próximo.

Das origens aos dias atuais


A ideia de construir um convento na área então conhecida como Morro do Desterro partiu de Jacinta Rodrigues Aires, posteriormente seguida por sua irmã Francisca. As duas eram sobrinhas do Capitão-Mor Manuel Pereira Ramos, que as ajudou na aquisição de um terreno conhecido como Chácara da Bica. Para Jacinta e Francisca a tranquilidade do local era perfeita para a construção de uma ordem dedicada à contemplação e meditação.

Entusiasmado com tanta devoção, Gomes Freire de Andrade, então Governador, auxiliou Jacinta e Francisca em sua obra. Assim, no dia 24 de junho de 1750 foi lançada a pedra fundamental da igreja e convento "debaixo da invocação e Título de Nossa Senhora do Desterro, para religiosas que hão de professar a regra de Santa Teresa", conforme Provisão do Bispo de 15 de junho do mesmo ano. A ordem é contemplativa e ascética e suas religiosas vivem isoladas do mundo exterior, ou seja, enclausuradas. Tais princípios definiram o espaço arquitetônico do convento e da igreja, que preservam o isolamento das irmãs, inclusive nas missas, das quais elas participam atrás de grades.

O Convento de Santa Teresa tornou-se uma importante referência na cidade, a ponto do Morro do Desterro vir a se chamar Santa Teresa devido a ele. Mais tarde o nome viria a designar o bairro que se formou no entorno.

Roda utilizada para levar itens a clausura do mosteiro.

Em 2007 igreja e convento passaram por obras de restauração. O trabalho foi coordenado pela equipe técnica da Secretaria do Patrimônio Cultural da Prefeitura (SEDREPAHC) e incluiu as fachadas frontais do convento, da torre sineira e da Igreja. Também foram restaurados o interior da antiga igreja e sua sacristia, o pátio frontal com seus acessos, jardins, iluminação e portões de ferro fundido.

Detalhe de altar lateral com relicários,

Tanto os prédios quanto seu interior são despojados, estando de acordo com os princípios de humildade e desapego proposto pela ordem religiosa. Exceção para a igreja, que apresenta uma decoração mais exuberante como forma de exaltar a santidade do local. Além do altar mor, há dois altares laterais  onde se destacam diversos relicários.

Grade por onde as carmelitas acompanham a missa.

Diariamente é celebrada uma missa, na parte da manhã, aberta à comunidade. Como as monjas não podem ter contato com o mundo externo, o acompanhamento da cerimônia é feito através de grades escuras, que bloqueiam inclusive a visão para o interior do convento. O uso de pontaletes aguçados na grade serve para desencorajar a aproximação dos curiosos.

Altar lateral.

Embora as tentações da vida mundana tenham feito o interesse por este tipo de ordem declinar com o passar do tempo, o Convento conta hoje com 13 irmãs em seu claustro. Como o contato com o mundo exterior é totalmente vetado, elas contam com o apoio de auxiliares que vivem na parte externa do Convento para a realização de tarefas essenciais para a sobrevivência da comunidade como compra de suprimentos, contato com órgãos públicos, socorro em emergências, etc.

Vista do centro da cidade a partir do adro da igreja.

Janela frontal do convento.

As janelas externas estão permanentemente fechadas e são protegidas por grades, as quais também apresentam os pontaletes aguçados.

Convento de Santa Teresa

Endereço: Ladeira de Santa Teresa nº 52 - Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 3518-8902
Para visitar: aproveite o horário das missas. Caso não seja possível, entre em contato com antecedência para agendar um horário.


Fonte:

SEDREPAHC - PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Convento de Santa Teresa. Disponível em http://www0.rio.rj.gov.br/patrimonio/proj_convento_steresa.shtm. Acessado em 25 jul. 2014.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pagando os pecados em Santa Teresa - Rio de Janeiro - RJ

Dando prosseguimento a série iniciada em novembro de 2013, fomos novamente gastar sola no outrora bucólico bairro de Santa Teresa para acompanhar o desenvolvimento das obras necessárias para o retorno do bondinho. Nossa última visita fora em fevereiro deste ano (para ver este post, clique aqui) e o que pudemos constatar é que a situação continua praticamente a mesma daquela época, ou até pior, uma vez que um novo canteiro de obras foi iniciado na rua Almirante Alexandrino sem que as obras já iniciadas estivessem concluídas.


Largo do Curvelo, ainda em obras.

Na prática a rua Joaquim Murtinho permanece interditada, com bloqueio das entradas de garagem, impossiblidade de estacionamento na via e desvio dos ônibus que passavam por ali. Isso sem falar que apenas um lado da rua segue em obras até o momento, o que significa que, concluída esta etapa, o transtorno permanecerá enquanto o outro lado não estiver concluído.


Apesar de ser um destino turístico, Santa Teresa sofre com a morosidade das obras.

Sempre é bom lembrar que o bairro é um dos principais destino turístico do Rio de Janeiro e a circulação de turistas é uma importante fonte de renda para os comerciantes da região. Muitos tem investido em melhorias e criação de novos negócios, como hostels, pousadas, restaurantes e lojas de souvenirs. Entretanto, devido as dificuldades de acesso, o retorno deste investimento pode se ver ameaçado pela queda no número dos visitantes.

Rua Almirante Alexandrino, ou o que restou dela ...

Vazamentos tem se tornado constantes devido às obras.

E para completar o cenário, na madrugada de ontem, dia 20, o rompimento de uma tubulação da CEDAE (companhia de abastecimento de água da cidade) alagou o Largo dos Guimarães e converteu a Ladeira do Castro numa cachoeira. Segundo alguns moradores, não é a primeira vez que isto acontece, sendo que na última ocasião o reparo demorou três dias para ser feito! Além do desperdício da água tratada, o vazamento é mais um transtorno a ser enfrentado pelos moradores, comerciantes e turistas que se sentem ignorados pelo poder público.

Morar em Santa Teresa, principalmente nas áreas mais atingidas, está exigindo uma dose extra  de paciência. A série continua e esperamos que a próxima visita traga melhores notícias.


Veja mais fotos no álbum Pagando os Pecados em Santa Teresa (clique aqui) em Abaretiba, nossa página no Facebook.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Foto do GSMA será utilizada em disco de múscia africana nos Estados Unidos

English version bellow

Uma das vantagens de escrever um blog é ter a possibilidade de alcançar uma audiência sem fronteiras, literalmente! Através das ferramentas de análise do site é possível acompanhar de onde os leitores estão acessando a internet e assim ter uma idéia do poder de penetração das postagens. Desta forma ficamos sabendo que o blog é muito acessado nos Estados Unidos, por exemplo. E foi de lá que recebemos uma mensagem de Helder Tsinine, um músico moçambicano radicado em Boston, que se interessou por uma das fotos utilizadas na matéria Tchova e o Burro Sem Rabo (clique aqui para ler a postagem).

Tchova é este carrinho empurrado pelo garoto.

O texto é um relato da viagem à Moçambique e fala sobre o hábito moçambicano de transportar todo tipo de mercadoria em pequenos carrinhos de tração humana, as tchovas. Helder viu a matéria e entrou em contado conosco porque está produzindo um álbum com músicas de sua autoria cujo nome é justamente Tchova Nholo que, segundo ele, significa "ter esperanças e nunca desistir", solicitando permissão para utilizar a foto acima na produção do disco.

A imagem original foi tratada digitalmente e serviu de base para as peças gráficas de divulgação dos shows e capa do cd a ser lançado.

Peça de divulgação com imagem estilizada da foto original.

Em tempos de globalização, é interessante perceber como a tecnologia pode atuar como fator de integração entre as pessoas, pois uma foto tirada por um brasileiro em Moçambique foi encontrada por um moçambicano residente nos Estados Unidos!

Desejamos sucesso ao Elder em sua carreira e vamos torcer para que Tchova Nholo traga os resultados esperados.

Para saber mais, veja o perfil de Helder Tsinine no Facebook clicando aqui.

A globetrotter picture from GSMA


One of the advantages of writing a blog is to have the possibility to reach an audience without borders, literally! Analysing results from site tools  we can monitor from where readers are accessing the internet and get a sense of the power of penetration of posts. Thus we realised that the blog is very accessed in the United States, for example and was from there I received a message from Helder Tsinine, a Mozambican musician living in Boston who was interested in one of the photos used in the article Tchova and No Tail Donkey (click here to read the post).

The text is an account of a trip to Mozambique and talks about the habit of Mozambicans carry all kinds of goods in small human-powered carts, the tchovas. Helder has read the post and came in contact with us because it is producing an album with songs of his own whose name is rightly Tchova Nholo which, he said, means "hope and never give up", requesting permission to use the picture in the disc production .

The original image was digitally processed and formed the basis for the graphic elements for disclosure shows and the cover of the CD that will be released.

In times of globalization, it is interesting to see how technology can act as an integrating factor among people, because a picture taken by a Brazilian in Mozambique was found by a Mozambican resident in the United States!

We wish success to the Elder in his career and let's hope Tchova Nholo bring the expected results.

To learn more, see Helder's profile on Facebook, clicking here.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Memorial dos Pretos Novos - Rio de Janeiro - RJ

Imagine comprar uma casa e, ao fazer uma reforma, descobrir que ela foi construída sobre um cemitério de grande valor histórico e arqueológico. Pois foi exatamente o que aconteceu com o casal Petrúcio e Maria De La Merced Guimarães em 1996, ano em que adquiriram o imóvel localizado na Rua Pedro Ernesto e descobriram que o mesmo fora construído sobre o antigo Cemitério dos Pretos Novos.

A existência deste cemitério era conhecida há mais tempo pelos historiadores, mas sua localização exata havia se perdido devido aos sucessivos aterros e alterações na paisagem urbana no local, daí a importância da descoberta feita pelo casal.

A área situada onde hoje fica o bairro da Gamboa destinava-se a receber os corpos daqueles que não resistiam à fome, doenças e maus tratos a que eram submetidos os cativos, desde sua captura na África até serem vendidos no mercado do Rio de Janeiro. Na verdade o terreno era apenas mais uma instalação da complexa infraestrutura montada para dar suporte ao lucrativo comércio escravagista e funcionou de 1769 até 1830, ano em que foi oficialmente proibido o tráfico de escravos. Estima-se que neste perído, em torno de 30 mil pessoas tenham sido depositadas anonimamente ali. Para saber mais sobre o tema, veja o post sobre o Cais do Valongo, clicando aqui.

Memorial preserva a memória dos ancestrais africanos

Hoje a antiga residência abriga um memorial, integrante do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos - IPN e se propõe a estimular uma reflexão sobre o passado escravista brasileiro através de exposições permanentes e temporárias, cursos, palestras e oficinas.

Sala da exposição permanente.

Fotografias de escravos em grande formato personificam as vítimas anônimas da escravidão e painéis espalhados pelas paredes contam um pouco desta história. Em 2012 foram inauguradas aberturas no piso, protegidas por pirâmides de vidro, que permitem ao visitante ver o solo do antigo cemitério ainda com alguns vestígios das ossadas ali depositadas.

Obra integrante da mostra Papel de Seda.

Em paralelo à exposição permanente há uma galeria onde artistas da atualidade expões obras de arte contemporâneas de temática variada.


Estrutura aparente permite ver as técnicas de construção utilizadas no passado.

Preservação da memória é o foco principal.

Memorial dos Pretos Novos

Rua Pedro Ernesto, 36 - Gamboa, Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2516-7089
E-mail: pretosnovos@pretosnovos.com.br
Horário: Terça a sexta, das 13 as 19 horas
Entrada franca


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Cais do Valongo - Rio de Janeiro - RJ

Olhando o conjunto de pedras mal alinhadas, cercado por avenidas e distante do mar fica difícil imaginar a importância de que desfrutou o Cais do Valongo em seus tempos áureos, bem como a relevância de seu testemunho para os dias de hoje.

Por outro lado, a história deste pedaço do Rio de Janeiro é na verdade um reflexo de como o tema da escravidão tem sido tratado desde os tempos do Brasil Colônia.

Antigo Cais do Valongo.

Um pouco de história


A mão de obra escrava foi decisiva para o desenvolvimento econômico e social do Brasil desde os tempos coloniais até a derrocada do Império, mas a visão dos escravos em condições sub-humanas era considerada um espetáculo repugnante, ao qual os "cidadãos de bem" não deveriam ficar expostos. Pode parecer estranho, mas foi esta a justificativa apresentada pelo Vice-Rei do Brasil em 1774 para transferir o desembarque dos navios negreiros da Praia do Peixe (atual Praça XV) para a região do Valongo. Como ainda não havia sido construído o cais, o desembarque era feito por botes.

Em 1779 a infra-estrutura básica para o comércio escravagista estava montada e os negócios entraram em franca expansão. Em 1811 é construído o Cais do Valongo e, ao final da década de 20 do século XIX, o tráfico de escravos viveu seu apogeu, convertendo o Cais do Valongo na principal porta de entrada para negros oriundos em sua maioria de Angola, Moçambique e da África Centro-Ocidental. Estima-se que entre 1811 e 1831 (ano em que foi oficialmente fechado), 500.000 seres humanos escravizados tenham pisado aquelas pedras, sendo que este número ultrapassa a casa de 1 milhão de almas se for considerado o tempo total de funcionamento do porto.

Com o anúncio da chegada da Princesa Thereza Cristina de Bourbon em 1843, futura esposa de Dom Pedro II, a região foi aterrada como parte das obras de embelezamento e melhoramento do Cais do Valongo, que ganhou um pavilhão de luxo e passou a se chamar Cais da Imperatriz, nome pelo qual passou a ser conhecido até bem recentemente.

Para sepultar de vez a vergonha do passado escravista, colonial e monárquico, durante a reforma urbanística de Pereira Passos a região sofreria um novo e definitivo aterro, o qual cumpriu bem sua missão até 2011, quando equipes do Museu Nacional da UFRJ, coordenadas por Tania Andrade Lima, localizaram e trouxeram à luz novamente as pedras pisadas do cais.

De persona non grata da memória nacional o cais se converteu em importante sítio arqueológico e monumento à memória dos escravos que por ali passaram, com reconhecimento internacional: em novembro de 2013 foi declarado pela UNESCO como Patrimônio da Diáspora Africana.

Inserido no projeto de revitalização da área portuária, o entorno do cais foi urbanizado de modo a se tornar uma área de exposição permanente e poder receber de forma adequada os visitantes que desejarem conhecer o local.

A Lavagem do Cais


Com tantas referências simbólicas relacionadas aos negros e à escravidão é natural que o Cais do Valongo possua um significado especial para as religiões de matriz africana, afinal por aqui passaram aqueles que trouxeram suas crenças, saberes e cultura para esta terra.

Por isto, no último dia 05, Mães de Santo, Yalorixás, Babalorixás e demais representantes do Camdomblé se reuniram para honrar os ancestrais com o ritual da Lavagem do Cais do Valongo. Apesar da dor e do sofrimento trazidos pela condição de escravos daqueles que ali desembarcavam, não houve espaço para tristeza ou revolta nesta bela cerimônia. Ao contrário, todos compareceram com suas roupas de festa, trazendo flores brancas, desejos de paz e muita água de cheiro, numa verdadeira celebração à vida que não para.


Mães de Santo a frente do cortejo.

Flores e água de cheiro para homenagear os antepassados.


Flores brancas foram lançadas sobre as pedras do antigo cais.


A mesma terra que acolheu os antepassados recebeu a água de cheiro.

Ao fim da cerimônia, o desejo de um coração cheio de paz.

Como seria de se esperar numa festa, não poderia faltar música, dança e cantoria. Assim, encerrada a cerimônia, os atabaques soaram e logo se formou a tradicional roda de samba, onde o destaque ficou por conta das integrantes do Afoxé Filhos de Ghandi.


Filhas de Ghandi, de verde, garantiram a animação da roda de samba.

Participantes deram show, com muito samba no pé.


Veja mais fotos no álbum Lavagem do Cais do Valongo (clique aqui) em Abaretiba, nossa página no Facebook.

Fontes:


Saiba tudo sobre o Cais do Valongo - o local por onde entravam os africanos escravos no Brasil no século XIX. Disponível em http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/saiba-tudo-cais-valongo-local-onde-entravam-africanos-escravos-brasil-seculo-xix-731373.shtml. Acessado em 08 jul. 2014.

Prefeitura cria circuito da herança africana. Disponível em http://portomaravilha.com.br/conteudo/ccjb.aspx. Acessado em 08 jul. 2014.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Os Seresteiros Estão de Volta! Rio de Janeiro - RJ

Depois de um longo período de greve dos funcionários do MinC, finalmente o Museu da República voltou a abrir seus portões ao público, que já se ressentia da falta deste importante espaço de lazer.

Foram retomadas as visitas ao Palácio do Catete, que agora inclui uma exposição temática alusiva ao futebol - em virtude da Copa do Mundo - e, principalmente, liberado o acesso aos jardins! Numa região densamente povoada, onde os edifícios se colocam lado a lado, não sobra muito espaço para o verde e os Jardins do Palácio acabam por se tornar um refúgio muito disputado pelos turistas e moradores do bairro.

Seresteiros e visitantes reunidos pela música.

Mas há um grupo em especial que tem motivos para comemorar: os Seresteiros do Palácio. No dia 15 de junho o GSMA publicou o post Greve da Cultura Deixa Seresteiros do Palácio ao Relento (clique aqui para ler) relatando as consequências do fechamento dos jardins para este grupo da terceira idade que há mais de 20 anos se encontra para cantar os eternos sucessos da música popular brasileira. Naquela ocasião D. Evinha nos relatou indignada as dificuldades enfrentadas pelos componentes devido à falta de segurança, instalações e problemas de locomoção (há cadeirantes no grupo).

D. Evinha, tocando pandeiro, é frequentadora assídua dos encontros.

Desta vez a conversa foi em outro tom, compassada pela alegria de estar de volta à "casa" dos seresteiros. Por enquanto está tudo bem, mas um cartaz colocado na entrada anunciava novamente a greve. Vamos torcer para que o bom senso prevaleça e a turma possa continuar se reunindo e desfrutando deste momento tão especial.

Veja mais fotos no álbum Os Seresteiros Estão de Volta (clique aqui) em Abaretiba, nossa página no Facebook.

domingo, 6 de julho de 2014

Praça XV e o fantasma da perimetral - Rio de Janeiro - RJ

Em abril deste ano mais um trecho da antiga perimetral veio ruidosamente abaixo, com farta publicidade sobre os benefícios que as obras de revitalização do porto devem trazer para os cariocas. Por enquanto, apesar das promessas e das belas imagens em animação gráfica mostrando como ficará a cidade depois de tudo pronto, o que se tem é muita poeira, interdições no trânsito de veículos e pedestres e uma paisagem que parece o prenúncio do apocalipse.

Pilastra da antiga perimetral na Praça XV.

No caso da Praça XV, a situação é um pouco mais grave devido a lentidão no desmanche das gigantescas estruturas de concreto armado que davam sustentação as pistas do finado viaduto. Aqui não foi possível utilizar a técnica da implosão devido ao risco de danificar o túnel (conhecido como Mergulhão) que corre por baixo da praça.

Escombros alteram a paisagem e impedem a circulação na cidade.

Considerando que esta dificuldade era amplamente conhecida pelos técnicos que planejaram a operação fica difícil de entender, e aceitar, este cronograma de obras que, na prática, desconsiderou a realização da Copa do Mundo no Rio. Além dos transtornos já relatados, o Centro Cultural da Marinha teve que suspender seu funcionamento por ter seu acesso bloqueado e a paisagem, se já não era muito bonita com a perimetral, ficou completamente desfigurada com os escombros remanescentes. Não seria o caso de ter aguardado o encerramento do torneio para então dar início à demolição?

Agora só resta aguardar que o resultado final seja tão bom quanto o prometido e torcer para que não ocorram mais atrasos, pois as olimpíadas serão em 2016. Será que ficará pronto até lá?

Veja outras fotos no álbum Ruínas da Perimetral (clique aqui) em Abaretiba, nossa página no Facebook.