sexta-feira, 29 de julho de 2016

Trilha Salcantay - 3º dia - vamos a La Playa! - Salcantay - Peru

Este post é uma continuação de Trilha Salcantay - 2º dia - através da montanha
O acampamento em Collpapampa

Após uma boa noite de sono tudo pareceu bem melhor, inclusive o pé que havia machucado na véspera. Tratei de reforçar o curativo, acabando com o estoque de gaze que trazia para emergências como essa. Em seguida tomamos café e nos despedimos de José, o arrieiro, pois a partir daquele ponto o transporte do equipamento não precisaria mais ser feito a cavalo. Como é de praxe, junto com meus agradecimentos deixei uma boa gorjeta.

Saímos do acampamento em Collpapampa (2.800 m) às 06:15 rumo à localidade de Sahuayacu (1.800 m), mais conhecida como La Playa por ficar nas margens de um grande rio do qual não guardei o nome. O percurso do terceiro dia tem extensão aproximada de 10 km e é mais tranquilo que o dos dias anteriores. A temperatura é amena e as terras áridas e pedregosas dão lugar à floresta sub-tropical, alterando completamente a paisagem.

Pela floresta é mais divertido


Seguimos por uma estrada de chão até chegarmos ao rio Tottora, cujo leito acompanha o vale formado na junção de duas montanhas. A partir deste ponto há duas opções de trajeto. A primeira é continuar caminhando por la carretera (estrada) na encosta do monte localizado na margem direita. A segunda é seguir por uma trilha que corta a elevação situada na margem esquerda. Pela estrada o caminho é mais fácil, mas também mais monótono e empoeirado. Como bons aventureiros que somos optamos pela trilha e fomos adiante, protegidos pela sombra das árvores que ladeavam o caminho.

Ponto em que a trilha se divide entre a estrada e o caminho da encosta

Às 09:20 parada em Waynapocco para um lanche rápido. A área é bem organizada, com banheiros e uma tienda onde é possível comprar água mineral, isotônicos, biscoitos e outras guloseimas. Um burrico pastava por ali, a espera dos petiscos deixados pelos turistas.

Burrico é atração local

Ao contrário das áreas pelas quais havíamos passado nos dias anteriores, esta região é mais densamente povoada. Seus habitantes são, em sua maioria, pequenos agricultores que começam a descobrir as possibilidades oferecidas pelo aumento do turismo. Por isso, além das cascatas e da floresta, avistamos roçados e pontos de venda montados pelos locais em busca de uma renda extra. Foi num destes que paramos por volta das 11:35 na localidade de Pgllu. Era uma pequena tienda construída com as matérias primas disponíveis no local: madeira, palha e pedras. O estabelecimento é novo - fora inaugurado há apenas uma semana! Ao fundo o marido da senhora que atendia no balcão quebrava pedras com uma enorme marreta, certamente providenciando material de construção para ampliação do estabelecimento.

O caminho da encosta e suas paisagens

Sempre há tempo para um café


Chegamos a La Playa por volta das 13:00 para almoço no Camping Restaurant Canela. O lugar é bem organizado, com instalações confortáveis e cercado pela natureza. Há um pátio interno gramado onde as pessoas podem descansar e dar uma lagarteada ao sol. Aproveitando que havíamos chegado cedo, sentei e tirei as botinas para dar um alívio aos pés e ao pobre dedão magoado. Como o trajeto a pé estava encerrado, calçei as sandálias e fiquei mais a vontade.

Na parte da tarde havia a opção de seguir para as águas termais de ônibus e de lá para Santa Teresa (1.500 m), local do terceiro acampamento. Entretanto não estava minimamente disposto a compartilhar piscinas de água quente com um bando de desconhecidos. Por isso pedi ao guia que contratasse um transporte particular, dentre os vários disponíveis na entrada do camping. Pouco tempo depois Christian retornou, informando que havia conseguido alugar um carro com motorista por S/ 30,00 - o mesmo preço da passagem do ônibus!! O preço normal, segundo ele, oscila entre S/ 50,00 e S/ 60,00, mas ele encontrou um motorista novo e regateou até conseguir um bom preço. Pedir ao guia que fizesse a negociação foi estratégico, pois devido a minha cara de gringo os prestadores de serviço normalmente cobram pelo menos o dobro do valor regular.

As tigelas bebedouros

Enquanto aguardava o guia retornar fiquei observando os carregadores de outro grupo organizarem algumas bagagens no pátio central. Como de costume, após colocarem as mochilas agrupadas a espera de seus donos, deixaram três bacias com água para que os viajantes pudessem se refrescar quando chegassem. Entrementes dois cachorrinhos que andavam brincando por ali aproveitaram as bacias para matar a sede. Coisas que acontecem.

Depois do almoço fomos assistir a uma apresentação sobre a produção de café orgânico feita pelo Sr. Abel, um dos proprietários do estabelecimento. Cheio de disposição, ele nos levou aos fundos da propriedade, onde fica a plantação de café, e começou a colheita dos grãos, os quais ia depositando numa sacola. De acordo com ele há duas variedades plantadas: o cátimor e o arábico, sendo que o segundo produz bem numa altitude em torno de 2.000 m.

Uma vez colhidos, os grãos são descascados e, posteriormente, torrados. Neste dia foi utilizado o método tradicional, que consiste em colocar os grãos num recipiente de barro conhecido como Canalla e torrá-los lentamente em fogo de lenha. O interessante é que todos podem participar e aprender na prática como realizar o procedimento. Aliás, este foi um dos melhores momentos da visita. Uma vez torrado, basta moer e voilá, o café está pronto para ser consumido.

Torrando café na Canalla

Depois de tanto esforço é claro que acabei comprando dois pacotes para trazer ao Brasil. Diga-se de passagem que um já se foi e o sabor é o mesmo daquele que provei em terras peruanas.

Santa Teresa


O percurso de carro até Huadquña (o nome quéchua de Santa Teresa, 1.560 m) leva uns 40 minutos e é feito em uma estrada de chão batido em condições regulares de conservação. Fomos eu, o guia, o cozinheiro e todo o equipamento (barraca, tralhas de cozinha, etc.).  O carro até que não era dos piores, embora a suspensão já estivesse dando evidentes sinais de desgaste de tanto rodar naquela buraqueira.

Ficamos no Camping do Sr. Genaro, o qual é bem localizado e possui instalações melhores do que o de Collpapampa. Outra vantagem é que aqui o banho quente custava apenas S/ 5,00 e o banheiro tinha vidro nas janelas!!

Como chegamos cedo, Christian e eu aproveitamos para ir ao centro de Santa Teresa. Meu estoque de gaze havia acabado e era preciso trocar o curativo do dedão. Além disso, depois de passar três dias no meio do nada, estava curioso para conhecer o povoado. O interessante é que todos os prédios são novos. Conforme me contou o guia, a cidade original ficava um pouco mais abaixo e foi completamente destruída por ocasião de uma enchente há alguns anos, tendo sido totalmente reconstruída no local atual. Como ao lado da farmácia havia uma lan-house aproveitei para mandar uma mensagem para casa dizendo que estava vivo e bem (não falei sobre o acidente, claro). Paguei S/ 0,50 por quinze minutos de uso.

O centro de Santa Teresa

Retornamos ao acampamento para a janta. Nesta noite um representante da Vertical Zip Line veio apresentar a atração para os turistas ali acampados. Trata-se de uma tirolesa muito conhecida pelos amantes de esportes radicais. São mais de 3 km de extensão divididos em 5 linhas, cada uma com um estilo próprio.

Para participar é preciso se inscrever com antecedência, pois a empresa envia um ônibus para recolher os interessados. Depois, este mesmo ônibus leva os turistas até a hidrelétrica, de onde a trilha segue até Águas Calientes.

Durma-se com um barulho destes


O tempo estava bom e a temperatura agradável, por isso me preparei para dormir confiante que seria outra noite repousante. Ledo engano! Uma balada com música "aos berros" como se diz lá em casa não me deixou dormir sossegado. E para completar, um argentino bêbado, cuja barraca ficava próxima a minha, foi arrastado pelos colegas porque queria brigar com outro viajante e ficou por um longo tempo bradando bravatas e chamando o oponente de maricón.

No dia seguinte tive uma conversa séria a respeito desses incidentes com o guia, mas isto já é assunto para o próximo episódio da série!

(continua no próximo post)

Este post é uma continuação de Trilha Salcantay - 2º dia - através da montanha

Veja os álbuns com as fotos de cada dia de trilha em nossa página no Facebook:
Trilha Salkantay - 1º dia de Mollepata a Soraypampa;
Trilha Salkantay - 2º dia de Soraypampa a Collpapampa;
Trilha Salkantay - 3º dia de Collpapampa a Santa Teresa;
Trilha Salkantay - 4º dia - Tirolesa e caminhada desde a hidrelétrica até Águas Calientes;
Trilha Salkantay - 5º dia - Visita à Machu Picchu.

Seguindo o modelo da viagem anterior, quando realizamos a Trilha Inca, iremos alternando entre fotos e relatos de modo a transmitir o mais fielmente possível as emoções desta jornada.

Acompanhe nossas publicações no Instagram através da hashtag #gsmasalcantay.

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