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quinta-feira, 23 de julho de 2020

Cadê meu kit?! Mais um causo de viagem - Cavalcante - GO

Te aprochega vivente! Enquanto essa tal de pandemia não se aquieta, vou te contar mais um causo de viagem desse gaúcho que mora no Rio e resolveu gastar sola na Chapada dos Veadeiros lá pelos idos de 2018.

Antes de começar a história, esclareço que perrengue só é ruim na hora em que acontece. Na verdade eles são o tempero que dá sabor à aventura. São deles que nos recordamos - e rimos - nas conversas entre amigos e são eles que mantém viva a memória dos personagens envolvidos. Não é mesmo?

E por fim, preciso informar aos que não me conhecem que ando sempre com um kit de sobrevivência na mochila e que o mesmo não é fraco não! Já salvou a mim e meus companheiros de muita enroscada, tanto em trilhas quanto no asfalto. Enfim, vamos aos fatos.

O causo da Cachoeira Rei do Prata

Os detalhes dessa trilha - verdadeiramente sensacional - estão disponíveis no artigo Trilha da Cachoeira Rei do Prata, aqui mesmo no blog, que contém informações importantes para quem deseja se aventurar por aquelas bandas. Agora o foco é o que aconteceu depois de termos realizado a trilha.

Naquele dia saímos bem cedo da pousada para percorrer um trecho de aproximadamente 60 km em estrada de chão batido, que nos levou ao ponto inicial da caminhada. Quem costuma viajar pelo interior sabe que essas picadas cobertas de costeletas acabam com qualquer veículo, por mais forte que seja, e o nosso já estava pra lá de Bagdá. 

A estrada e os veículos que protagonizaram esse causo
Os protagonistas desse causo.

Na ida foi tudo bem. Depois de aproveitarmos o dia em meio a natureza fantástica do lugar foi chegado o momento de retornar aos carros, que nos levariam a um restaurante para encerrarmos a noite.

Chegamos no estacionamento por volta das 18:30. Como eu estava na turma da frente fui o primeiro a chegar e depositar minha mochila no porta malas do carro. E, assim como eu, os demais membros da expedição foram chegando e colocando suas mochilas sobre a minha.

Foi aí que se deu a origem desse causo ...

Grupo completo, carga carregada, todos acomodados em seus respectivos assentos, hora de partir. Haviam dois carros e o primeiro saiu lépido e fagueiro. Sentado ao lado do motorista vi quando ele tentou dar a partida repetidas vezes sem sucesso. Fiquei na minha, imaginando que fosse manha de carro velho. Ledo engano! Lá pelas tantas o rapaz puxou o rádio e tentou contato com a primeira viatura:

- Fulano, na escuta? Pane elétrica no carro. Solicito ajuda.

- ...

E nada. Silêncio absoluto. O outro veículo já estava fora de alcance devido a topografia acidentada da região que bloqueava o sinal de rádio.

Aí teve início um princípio de confusão com todos descendo do carro, dando palpites, querendo ajudar e - essa é que era a verdade, loucos para saírem daquele fim de mundo.

- Fulano, me vê uma chave de fenda - ouvi o motorista dizer ao guia.

- Tá pedindo pra mim? respondeu ele e emendou: não tem no carro?

Na verdade tinha. No meu kit de emergência. Soterrado por não sei quantas mochilas e com o porta-malas trancado. 

E não era só isso. A noite começou a cair e com ela veio o frio. Era junho e lá é clima de deserto. Calor durante o dia e baixas temperaturas a noite.

Em resumo, sentíamos uma mistura de frio, fome, cansaço e frustração por não conseguir fazer aquele maldito motor funcionar.

E no meu caso particular, a frustração era dupla porque tudo que eu precisava naquele momento estava inacessível.

Depois de um tempo, que pareceu uma eternidade, chegou o primeiro carro de volta, vazio. O responsável pela excursão havia estranhado a demora e o mandara de volta adivinhando algum perrengue no caminho.

Após algumas várias tentativas, finalmente conseguiram fazer o carro pegar na base da chupeta. Por pouco não esgotaram a bateria do primeiro carro, nos condenando, talvez, a passar a noite ali.

Resumo da história: chegamos ao restaurante por volta das 21:00 horas, varados de fome! E foi assim que eu aprendi a não me separar da minha mochila sob hipótese alguma. Pelo menos também foi assim que eu pude apreciar o estrelado céu noturno do Cerrado. Acreditem, é uma visão memorável e inesquecível.

Para saber mais sobre segurança na trilha leia o artigo Gastando sola com segurança - guia básico de sobrevivência para iniciantes.

Sobre o kit

O conteúdo do kit varia em função de vários fatores, tais como o local da trilha, estação do ano, tempo de duração da empreitada, infraestrutura disponível no destino, entre outros. Entretanto, há um pequeno grupo de itens que não podem faltar e que já provaram sua utilidade em muitas ocasiões - que teriam sido bem piores se eles não estivessem comigo naquele momento.


Kit básico de sobrevivência
Núcleo duro do meu kit de sobrevivência.


A base do kit é a seguinte:
  • hidratação: cantil e purificador de água;
  • iluminação: lanterna de cabeça e de facho;
  • fogo: isqueiro e iscas para acelerar a combustão;
  • orientação: bússola;
  • cutelaria: canivete de resgate;
  • ferramentas: alicate multifuncional;
  • cordame: dois rolos com 6 m de paracord e uma pulseira do mesmo material com bússola e pederneira;
  • fixação: dois prendedores.
Além desses itens, costumo levar um kit de primeiros socorros, poncho descartável, rações de emergência e mais algumas cositas que podem ser úteis.

E antes que alguém pergunte:
  • isqueiro dá de dez a zero em pederneira, não pesa e ocupa pouquíssimo espaço. Na hora do aperto é fogo rápido e garantido;
  • porque prendedores? Pois é. Essa foi uma das coisas que a experiência me ensinou. São um recurso valioso no meio do nada. Servem até pra segurar a roupa no varal. 
Seja como for, monte o seu conjunto e não saia de casa sem ele. O tempo e os perrengues vão se encarregar de mostrar o que é essencial e o que é acessório em caso de necessidade!!




segunda-feira, 22 de junho de 2020

Causos de viagem - perdido em Curitiba - PR

Enquanto a pandemia não deixa a gente sair de casa, o jeito é ir revivendo antigas histórias de viagem para não perder o jeito e não deixar cair no esquecimento - afinal são tantas aventuras que lá pelas tantas o cérebro se confunde ...

Essa aconteceu num passado distante, quando eu trabalhava numa empresa de automação de acervos bibliográficos (sim, isso existe) e viajava pelo Brasil demonstrando o produto, dando cursos, fazendo manutenção e suporte, essas coisas típicas daquela profissão.

Nesta ocasião a empresa onde trabalhava, agendou uma série de visitas que começava na Bahia e ia descendo até chegar em Curitiba, passando por umas três ou quatro outras cidades no meio do caminho. Algumas visitas eram rápidas, outras levavam alguns dias, de modo que eu trocava de hotel com relativa frequência. E foi aí que se deu o problema.

Quando cheguei em Curitiba estava exausto e faminto. Fui direto ao hotel e, lá chegando, fui informado que meu quarto ainda não estava arrumado. O atendente perguntou se eu não preferia dar uma volta - era domingo - em vez de ficar esperando no saguão. Aceitei a ideia e fui direto para a Boca Maldita em busca de um mata-fome qualquer. Entretanto ...

Eis a Boca Maldita

Eu havia passado vários dias na cidade anterior e, chegando no aeroporto, fora direto para o hotel de forma automática - movido pelo hábito. Só  na hora de voltar é que me apercebi que não lembrava o nome do hotel atual, apenas o da semana anterior!!

Fiquei zigue-zagueando pelas calçadas, olhando vitrines sem enxergar, até que uma vaga sugestão de nome se formou em minha mente. De posse desse vislumbre fui até um taxista e larguei direto:

- o senhor sabe se existe um hotel chamado ... aqui em Curitiba?
- com esse nome não, mas tem um parecido - respondeu ele;
- é pra lá que a gente vai então - disse eu.

Claro que no caminho expliquei ao motorista o quê havia acontecido. Ele achou muita graça e disse que eu ficasse tranquilo. Caso esse não fosse o hotel certo, ele conhecia praticamente todos os hotéis da cidade e iríamos de um em um até encontrar!

Felizmente acertamos na primeira. Confesso que suspirei aliviado e, desde então, sempre que me hospedo onde quer que seja, pego um cartãozinho com o nome e endereço do local e coloco na carteira.


terça-feira, 27 de junho de 2017

Lençóis Maranhenses - a próxima aventura !


A redação do GSMA está em polvorosa, pois estamos finalizando os últimos detalhes para a nossa próxima aventura! Desta vez, iremos gastar sola numa região que é considerada a única existente no planeta: Os Lençóis Maranhenses.

Embarcaremos neste sábado, dia 1º de julho, rumo à São Luís - capital do Estado - para de lá seguirmos à Barreirinhas, porta de entrada do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Serão 8 dias de intensa movimentação entre as diversas atrações que nos esperam, pois nesse lugar a paisagem mescla gigantescas dunas de areia com lagoas de água cristalina e praias de água salgada.

Durante a viagem participaremos de um Workshop Fotográfico com André Dib, renomado fotógrafo especialista em fotografar ambientes naturais, com forte presença nas principais revistas de natureza, esporte e turismo do país. Além disso, André conquistou diversos prêmios no Brasil e no Exterior -  entre eles, o concurso da Fundação Nacional de Artes - FUNARTE com o tema Natureza e o de melhor fotografia da National Geographic Brasil.

O objetivo é trazer aos nossos leitores belas imagens desse lugar fascinante, bem como aproveitar os conhecimentos adquiridos para aprimorar cada vez mais nossos futuros registros.

Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - PNLM


Localizado na região nordeste do Brasil, às margens do Rio das Preguiças no Maranhão, o PNLM é formado por 155 mil hectares que abrigam uma condição geológica extremamente rara. Graças as altas dunas de areia - algumas com até 40 metros de altura - a região assemelha-se a um grande deserto, entretanto, devido ao elevado índice de precipitação pluviométrica, as águas represadas entre as dunas formam lagoas de água doce, com tonalidades que variam do verde ao azul, dando origem a oásis de vegetação característica de áreas litorâneas. Esses oásis abrigam comunidades de moradores que, a partir do incremento do turismo, passaram a ter uma nova fonte de renda, atendendo aos visitantes que chegam para conhecer ou percorrer as dunas em trilhas que podem durar até 4 dias. As lagoas mais famosas são a Lagoa Azul e a Lagoa Bonita, reconhecidas pelo seu encantamento e condições de banho.

Ao que tudo indica está será uma aventura inesquecível e que deverá render belas imagens. Como a região é de difícil acesso e não há conexão via internet, estaremos contando tudo que aconteceu nessa semana a partir do dia 08 de julho. Até lá!!

sábado, 18 de junho de 2016

Trilha Salkantay, o caminho da aventura - Salkantay, Peru




Já estamos de volta ao Brasil, com algumas bolhas nos pés, muitas histórias pra contar e uma tremenda vontade de retornar e começar tudo de novo!! Nesta segunda viagem ao Peru não faltaram surpresas e aventuras. Foram 10 dias maravilhosos, de intensa vivência com aquele povo afetuoso e cordial, aprendendo sobre o modo de vida e a cultura herdada dos antigos habitantes do império inca: os quéchuas.

Ainda vai levar um tempo para desempacotar as bagagens e colocar tudo em ordem. Enquanto isso iremos contando como foi dormir em uma barraca sob -20 ºC, caminhar por quatro dias entre montanhas, florestas e vilarejos, bem como ter a oportunidade de transformar em imagens pequenos instantes maravilhosos que retratam como foi toda esta experiência.

Veja os álbuns com as fotos de cada dia de trilha em nossa página no Facebook:
Trilha Salkantay - 1º dia de Mollepata a Soraypampa;
Trilha Salkantay - 2º dia de Soraypampa a Collpapampa;
Trilha Salkantay - 3º dia de Collpapampa a Santa Teresa;
Trilha Salkantay - 4º dia - Tirolesa e caminhada desde a hidrelétrica até Águas Calientes;
Trilha Salkantay - 5º dia - Visita à Machu Picchu.

Seguindo o modelo da viagem anterior, quando realizamos a Trilha Inca, iremos alternando entre fotos e relatos de modo a transmitir o mais fielmente possível as emoções desta jornada.

Acompanhe nossas publicações no Instagram através da hashtag #gsmasalcantay.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Trilha Alternativa Salkantay : faltam 30 dias - Machu Picchu - Peru

Em 2014 o Gastando Sola Mundo Afora foi ao Peru para realizar um velho sonho: percorrer a Trilha Inca e visitar Machu Picchu. Seguir por aqueles velhos caminhos, serpenteando montanhas e sendo presenteado com paisagens de tirar o fôlego, foi uma experiência tão marcante que, uma vez concluída, a vontade era retornar ao início e começar tudo de novo.

Trecho da Trilha Inca

Demorou um pouco, mas finalmente vamos gastar sola nos caminhos incas novamente!! No próximo dia 04 de junho estaremos de volta à Cuzco para uma nova aventura, onde o destino é o mesmo - Machu Picchu -, mas o caminho é a Trilha Alternativa Salkantay. Diferentemente da Trilha Inca, que fica dentro de uma área protegida, a Trilha Salkantay é uma rota viva, utilizada até hoje pelos habitantes da região em seus deslocamentos e, por isso mesmo, não é necessário autorização especial para percorre-la. Serão quatro dias de caminhada, durante os quais realizaremos um trajeto que inclui a travessia do monte Salkantay, daí o nome da trilha. O ponto alto do percurso, literalmente, é a passagem desta montanha a 4.600m acima do nível do mar. Quem se atreve a encarar este desafio precisa estar preparado física e psicologicamente para longas caminhadas em locais de difícil acesso, onde o soroche (o mal da altitude) pode atacar a qualquer momento devido ao ar rarefeito. Em compensação, o viajante irá desfrutar de paisagens tão belas quanto variadas, que vão desde os picos nevados da Cordilheira dos Andes a trechos de floresta na parte baixa.

Detalhe da cidade de Machu Picchu

Preparando a mochila


Tendo em vista as particularidades da empreitada os preparativos já vem sendo feitos há bastante tempo. Isso inclui aquisição de equipamentos próprios para as condições climáticas e de terreno, bem como a adaptação da forma de transportar o equipamento fotográfico - fundamental para que possamos registrar com segurança todos os momentos desta aventura! Além disso, muita pesquisa para saber o quê vamos enfrentar e treinamento físico para aprimorar o condicionamento.

No decorrer desta fase preparatória nos deparamos com alguns depoimentos de pessoas despreparadas, que não faziam ideia de como era o lugar para o qual estavam indo. São registros curiosos, feitos por viajantes que, provavelmente, imaginaram que se tratava de mais um passeio turístico e não correram atrás de maiores informações. Por isso, ao retornar, vamos publicar uma matéria especial sobre como foram os preparativos e o quê consideramos fundamental para o sucesso da missão. Falaremos também sobre o quê funcionou bem e o quê poderia ter sido melhor.

No mais, só nos resta segurar a ansiedade, seguir com os preparativos e aguardar a data do embarque.
Salkantay está lá, esperando por nós!!

Para saber como foi a primeira viagem do GSMA ao Peru:

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Causos de viagem : pegando água no rio! - Boane - Moçambique

Num destes raros dias de pouca atividade resolvi por ordem no arquivo de fotos e, para variar, apenas iniciada a tarefa, as imagens foram ativando recordações, que viraram histórias e lá se foi a tarde e a oportunidade de finalmente organizar alguma coisa!

Foi assim que acabei encontrando a foto abaixo, tirada em novembro de 2005 durante uma trilha realizada na região de Boane - um dos distritos de Maputo, a capital de Moçambique.

Abastecimento de água precário obriga população a captar água direto no rio.

Lembro que na ocasião fiquei impressionado com a natureza exuberante do lugar, pois Boane é cortada pelo rio Umbeluzi, e a presença constante de água garante o viço da vegetação e a presença de diversos animais. Este rio também é importante por ser a fonte de captação da água que abastece a cidade de Maputo.

Éramos um grupo de aproximadamente 30 pessoas e a ideia era realizar uma caminhada partindo da Estação de Tratamento de Águas, margeando o rio. Durante o percurso fomos avistando pequenos povoados, suas machambas (roçados) e alguns rebanhos de cabras, criação comum por aquelas bandas.

Lá pelas tantas alguém avistou hipopótamos na água e deu o alerta, uma vez que - para quem não sabe - hipopótamos são extremamente agressivos e são também a maior causa de morte em acidentes com animais selvagens na África. Redobrada a atenção, seguimos em frente até encontrarmos três garotas que iam ao rio buscar água. Por incrível que possa parecer, a população que vivia naquela área, muito próxima da estação de tratamento, não contava com água tratada e se abastecia diretamente no rio.

Neste dia estava acompanhado de uma moçambicana que imediatamente apressou o passo e foi ter com elas, preocupada com o perigo que representava a presença dos hipos no rio. Acompanhei o diálogo a distância, pois falavam num dos dialetos locais, e não conseguia entender patavina - entretanto, não pude deixar de notar a mudança de expressão no rosto da minha colega.

Assim que as meninas se afastaram perguntei o quê havia acontecido e minha amiga contou o seguinte:

- Disse a elas para terem cuidado porque havia hipopótamos na água e a mais velha respondeu que já sabiam disso.  Elas não tem medo dos hipos, porque elas conseguem correr mais rápido do que eles. Além disso, eles se interessam mais em atacar as machambas do que as pessoas da aldeia.

E continuou,

- Então ela contou que medo mesmo elas tem é dos crocodilos que ficam espreitando escondidos e as atacam quando elas se abaixam para encher as vasilhas de água!

Nos olhamos em silêncio por alguns instantes e seguimos caminho em busca do grupo que já ia longe. Instintivamente guardamos uma distância segura das margens do rio e não tocamos mais no assunto até retornarmos à Maputo.





quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

De Manaus a Varre Vento de barco pelo Rio Amazonas - Varre Vento - AM

Quem acompanha nossas gastanças de sola sabe que esta não foi a primeira vez que estivemos no Amazonas. De outra feita aproveitamos a estada para conhecer Manaus e arredores, mas desta vez o objetivo era maior: ir para o interior para conhecer a floresta amazônica e seus habitantes.

Em Manaus ficamos hospedados na casa de parentes, com os quais já havíamos previamente combinado uma visita a um dos membros da família que ainda vive numa área rural às margens do Rio Amazonas. Uma vez que não há estradas na região, o único meio de chegar até lá é de barco, os famosos "motores" que transportam de tudo e desempenham um importante papel abastecendo e escoando a produção local das comunidades ribeirinhas.

Na noite anterior à viagem, depois de empacotar o equipamento, nos reunimos no pátio da casa para um bate papo antes de dormir. Nossos anfitriões estavam animados e emendavam história atrás de história sobre o Varre Vento, local de nascimento de boa parte dos presentes na ocasião.

No dia seguinte, as 06:00 estávamos de pé naquele frenesi que antecede uma grande aventura. As informações eram um pouco confusas. Para alguns o motor partia às 07:00, para outros, às 11:00. Por fim chegaram os carros que nos levariam ao porto, onde embarcamos por volta das 08:00 para zarpar às 09:00.

J. Cândido, o motor que nos conduziu nesta aventura.

Estava conosco Tia Zefa, matriarca da família e personalidade muito querida por todos devido a suas habilidades na arte da cura. Assim, conseguir lugar no imponente J. Cândido não foi problema, sendo que para ela o capitão, e dono do barco, nem cobrou a passagem. Pelo que pude apurar, há alguns anos Tia Zefa livrou um de seus filhos de uma doença braba e esta era sua forma de demonstrar gratidão pelo fato.

Vendedor circula entre os passageiros momentos antes do barco zarpar.

Enquanto aguardávamos a bordo pude notar que as viagens de barco possuem um forte impacto na economia local, sendo que os viajantes contam com uma infra-estrutura de apoio realmente impressionante. A começar pelos carregadores que oferecem seus serviços tanto para levar as bagagens dos que partem como descarregar as dos que chegam. E é bom lembrar que bagagem por aqui pode ser qualquer coisa, inclusive fardos de farinha, pirarucu salgado e por ai vai. Depois tem as barracas de lanches rápidos, comuns em todo o território nacional, e as que fornecem quentinhas para viagem! - muito úteis caso o passageiro não queira encarar o serviço de bordo. E há também os fornecedores de suprimentos diversos: redes de pesca, ferramentas agrícolas, azagaias, arpões, redes para deitar, cordas para atar as redes, sacas de mantimentos, etc.

No balanço da rede


Para quem nunca viajou num motor, é bom que se diga que não há bancos, poltronas ou cadeiras. Na área destinada aos passageiros, no teto, há ripas de madeira atravessando de ponta a ponta para que se possa pendurar as redes. No início é um pouco estranho, mas aos poucos a gente se acostuma e tudo passa a ser natural. Neste dia tivemos sorte, pois chegamos cedo e o barco foi relativamente vazio, de modo que foi fácil acomodar nossas redes próximas umas das outras.

Tia Zefa em sua rede.

Durante o trajeto não há muito o que fazer, a não ser curtir a paisagem, dormir ou jogar conversa fora. Na parte superior havia uma lanchonete onde era possível adquirir água mineral, refrigerantes, cervejas e lanches rápidos. Também havia mesas e cadeiras, dessas que se encontra em qualquer boteco Brasil afora. Uma brisa boa, que amenizava o forte calor manauara, era um convite a ficar por ali enquanto aos poucos a cidade ia ficando para para trás. A presença humana foi ficando cada vez menos evidente com a mata sendo pontilhada por pequenos flutuantes ancorados nas margens, algumas povoações e nada mais. Na água, barcos de todos os tipos e tamanhos, provando que o rio é de fato o meio de ligação daquela gente com a civilização.

O desembarque


Passadas quatro horas vieram nos avisar que estávamos nos aproximando do destino. Me juntei ao grupo que havia ficado no convés inferior - e que conhecia a localização da casa onde íamos ficar hospedados - para perguntar onde exatamente iríamos descer. "Ali naquela curva", foi a resposta. Fixei o olhar em busca de um pier ou atracadouro e só havia água e barranco. Foi quando descobri que o desembarque seria feito no meio do rio com o barco em movimento!

Hora do desembarque.

Essa é uma prática comum neste tipo de viagem e todos por ali estavam acostumados. Evita perda de tempo, uma vez que a embarcação não precisa atracar / desatracar e economiza o combustível que seria gasto nas manobras. Para chegar à terra seria utilizada uma lancha rápida que segue atada ao barco. Rapidamente transferimos a bagagem e nos acomodamos na pequena embarcação. Além do nosso grupo, haviam outros passageiros e diversas mercadorias - encomendas de moradores.


Lá se vai a voadora distribuir o pessoal.

Como o acesso à cidade é difícil, muitos ribeirinhos encomendam os suprimentos, que por sua vez são enviados via barco. As formas de realizar as encomendas variam conforme as possibilidades: um conhecido ou parente que vai a Manaus, passar um rádio aos barcos que cruzam ou, com sorte, ligar para alguém via celular. Uma vez feita as compras, basta levar até o capitão e avisar que é para fulano em tal lugar.

Suprimentos entregues aos moradores.

Uma vez entregue as encomendas e desembarcado outro passageiro, chegou a nossa vez. Nisso o piloto pergunta aonde gostaríamos de descer e a resposta vem pronta: "Ali, no terceiro tronco!" Na hora achei engraçado, mas pensando bem, que melhor ponto de referência num lugar em que não há ruas nem número nas casas e muito menos CEP?

Nossa casa em Varre Vento.

Ficamos alguns dias em Varre Vento, tempo suficiente para viver aventuras memoráveis e aprender muito com aquele povo simples que nos recebeu de braços abertos. Há alguns dias publicamos o relato de uma destas experiências no post Causos de viagem : a caldeirada de peixe - Varre Vento - AM. Também tivemos oportunidade de tirar muitas fotos em locais incríveis e você pode conferir o resultado no álbum Varre Vento em nossa página no Facebook.

Hora de voltar


O retorno a Manaus foi tranquilo e dentro do esperado. O dono da casa passou um rádio avisando que haveria passageiros aguardando e o barco enviou uma lancha para recolher o pessoal. No caminho uma surpresa: a piracema havia começado e, literalmente, atravessamos um cardume que subia o rio em saltos que passavam acima de nossas cabeças!

Desta vez era um barco bem menor que o J. Cândido e já estava lotado quando subimos a bordo, o que gerou uma certa dificuldade para acomodar as redes. Era noite e a maioria já estava deitada, pronta para dormir - o trajeto da volta levou oito horas ...

Alguns poucos ainda ficaram nas cadeiras contemplando as estrelas e jogando conversa fora. Lá pelas tantas o capitão subiu para perguntar se alguém gostaria de jogar dominó com a tripulação. Resolvi descer para conhecer a embarcação e lá estavam eles atracados no jogo. Ocupando o espaço disponível caixas e caixas térmicas com peixes destinados à venda nos diversos mercados da Capital. O frete ajuda a custear a viagem e é a única forma de escoamento da produção à disposição dos pequenos produtores rurais.

Hora do lazer a bordo.

Vencidos pelo cansaço, voltamos para as redes para um merecido descanso. Despertamos já em Manaus, no porto da Feira da PanAir, em plena madrugada.

Porto de Manaus na madrugada.

Não há muitos relatos sobre viagem de barco pelo Amazonas, por isso sugerimos a leitura do post da Vaneza Com Z: Amazonas: viagem de barco recreio pelo Rio Negro.

Você também pode estar interessado nos relatos de nossa primeira viagem ao Amazonas: