Foi assim que acabei encontrando a foto abaixo, tirada em novembro de 2005 durante uma trilha realizada na região de Boane - um dos distritos de Maputo, a capital de Moçambique.
Abastecimento de água precário obriga população a captar água direto no rio. |
Lembro que na ocasião fiquei impressionado com a natureza exuberante do lugar, pois Boane é cortada pelo rio Umbeluzi, e a presença constante de água garante o viço da vegetação e a presença de diversos animais. Este rio também é importante por ser a fonte de captação da água que abastece a cidade de Maputo.
Éramos um grupo de aproximadamente 30 pessoas e a ideia era realizar uma caminhada partindo da Estação de Tratamento de Águas, margeando o rio. Durante o percurso fomos avistando pequenos povoados, suas machambas (roçados) e alguns rebanhos de cabras, criação comum por aquelas bandas.
Lá pelas tantas alguém avistou hipopótamos na água e deu o alerta, uma vez que - para quem não sabe - hipopótamos são extremamente agressivos e são também a maior causa de morte em acidentes com animais selvagens na África. Redobrada a atenção, seguimos em frente até encontrarmos três garotas que iam ao rio buscar água. Por incrível que possa parecer, a população que vivia naquela área, muito próxima da estação de tratamento, não contava com água tratada e se abastecia diretamente no rio.
Neste dia estava acompanhado de uma moçambicana que imediatamente apressou o passo e foi ter com elas, preocupada com o perigo que representava a presença dos hipos no rio. Acompanhei o diálogo a distância, pois falavam num dos dialetos locais, e não conseguia entender patavina - entretanto, não pude deixar de notar a mudança de expressão no rosto da minha colega.
Assim que as meninas se afastaram perguntei o quê havia acontecido e minha amiga contou o seguinte:
- Disse a elas para terem cuidado porque havia hipopótamos na água e a mais velha respondeu que já sabiam disso. Elas não tem medo dos hipos, porque elas conseguem correr mais rápido do que eles. Além disso, eles se interessam mais em atacar as machambas do que as pessoas da aldeia.
- Então ela contou que medo mesmo elas tem é dos crocodilos que ficam espreitando escondidos e as atacam quando elas se abaixam para encher as vasilhas de água!
Nos olhamos em silêncio por alguns instantes e seguimos caminho em busca do grupo que já ia longe. Instintivamente guardamos uma distância segura das margens do rio e não tocamos mais no assunto até retornarmos à Maputo.