Olhando para a Rua da Alfândega hoje, apinhada de edificações justapostas, é difícil imaginar como seria o local nos idos de 1745 - ano em que a Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia conseguiu um terreno destinado a construção de sua igreja. Naquele tempo a região era praticamente desabitada e conhecida como Campo de São Domingos, pois a cidade se estendia até a Rua da Vala (atual Uruguaiana).
Seguindo o costume da época, junto da igreja foi erguido um cemitério destinado ao sepultamento dos membros da Irmandade. Posteriormente esta concessão foi ampliada, permitindo o enterro de todos os escravos, mesmo daqueles que não pertenciam à congregação.
Este cemitério existiu até 1850, quando o Visconde de Monte-Alegre, então Conselheiro Chefe de Polícia, resolveu suspender os enterros nas igrejas e nos cemitérios contíguos às mesmas. Assim, os escravos passaram a ser sepultados nos cemitérios da Ordem 3.ª de São Francisco de Paula, em Catumbi e no da praia do Caju. E o terreno que servira de campo-santo foi arrendado em 1860, e depois vendido para, com o produto da operação, serem custeadas as obras da igreja, realizadas em 1868.
O redirecionamento para os cemitérios do Catumbi e do Caju resolveu o problema dos sepultamentos posteriores a proibição decretada pelo Visconde de Monte-Alegre. Mas o quê fazer com os restos mortais já ali depositados?
Capela das Almas. |
Pelo que se pode perceber, as ossadas foram recolhidas e guardadas numa ala da igreja localizada num estreito corredor à esquerda de quem entra. O local é todo azulejado e tem uma aparência moderna. De acordo com uma placa colocada à entrada, isto se deve a obras realizadas em 1975.
Placa que informa sobre a existência do cemitério de escravos. |
Velas e água para as almas dos cativos. |
Grilhão e correntes com papelotes pedindo graças. |
Restos mortais podem ser vistos por uma pequena vitrine. |
Ter encontrado este pedaço da história da cidade do Rio de Janeiro de forma tão inesperada foi uma grata surpresa e nos levou a refletir sobre o quê mais há para ser descoberto! Por isso, o jeito é continuar gastando sola e entrando em tudo que é porta que estiver aberta.
Este post é continuação do anterior. Para saber como esta história começou, clique aqui.
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