terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Cemitério de Escravos no Centro da Cidade - Rio de Janeiro - RJ

A visita à Igreja de Santo Elesbão e Santa Ephigênia trouxe a tona um aspecto pouco lembrado sobre a ocupação urbana do Rio: os cemitérios de irmandades.

Olhando para a Rua da Alfândega hoje, apinhada de edificações justapostas, é difícil imaginar como seria o local nos idos de 1745 - ano em que a Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia conseguiu um terreno destinado a construção de sua igreja. Naquele tempo a região era praticamente desabitada e conhecida como Campo de São Domingos,  pois a cidade se estendia até a Rua da Vala (atual Uruguaiana).

Seguindo o costume da época, junto da igreja foi erguido um cemitério destinado ao sepultamento dos membros da Irmandade. Posteriormente esta concessão foi ampliada, permitindo o enterro de todos os escravos, mesmo daqueles que não pertenciam à congregação.

Este cemitério existiu até 1850, quando o Visconde de Monte-Alegre, então Conselheiro Chefe de Polícia, resolveu suspender os enterros nas igrejas e nos cemitérios contíguos às mesmas. Assim, os escravos passaram a ser sepultados nos cemitérios da Ordem 3.ª de São Francisco de Paula, em Catumbi e no da praia do Caju. E o terreno que servira de campo-santo foi arrendado em 1860, e depois vendido para, com o produto da operação, serem custeadas as obras da igreja, realizadas em 1868.

O redirecionamento para os cemitérios do Catumbi e do Caju resolveu o problema dos sepultamentos posteriores a proibição decretada pelo Visconde de Monte-Alegre. Mas o quê fazer com os restos mortais já ali depositados?


Capela das Almas.

Pelo que se pode perceber, as ossadas foram recolhidas e guardadas numa ala da igreja localizada num estreito corredor à esquerda de quem entra. O local é todo azulejado e tem uma aparência moderna. De acordo com uma placa colocada à entrada, isto se deve a obras realizadas em 1975.

Placa que informa sobre a existência do cemitério de escravos.
A grande quantidade de velas acesas e de papelotes com pedidos de graças indica que a devoção popular não esqueceu da presença dos restos mortais ali depositados. Além das velas é comum encontrar copos com água, ali deixados com o propósito, segundo alguns, de captar as energias negativas do ambiente.


Velas e água para as almas dos cativos.

Grilhão e correntes com papelotes pedindo graças.
Na extremidade oposta à entrada encontra-se uma estátua de São Miguel Arcanjo que, como um guardião, vela pelos restos mortais depositados logo abaixo. Por uma pequena janela de vidro é possível ver diversos ossos humanos, ao que tudo indica, anteriormente sepultados no antigo Cemitério de Escravos da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Ephigênia.

Restos mortais podem ser vistos por uma pequena vitrine.

Ter encontrado este pedaço da história da cidade do Rio de Janeiro de forma tão inesperada foi uma grata surpresa e nos levou a refletir sobre o quê mais há para ser descoberto! Por isso, o jeito é continuar gastando sola e entrando em tudo que é porta que estiver aberta.

Este post é continuação do anterior. Para saber como esta história começou, clique aqui.

Fonte:

Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia. Wiki Urbs. Disponível em http://wikiurbs.info/index.php?title=Igreja_de_Santo_Elesb%C3%A3o_e_Santa_Efig%C3%AAnia Acessado em 10 fev. 2014.

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