No último dia 06, as 05h40 da manhã, teve início a jornada rumo a Machu Picchu, a Cidade Sagrada dos Incas. Como o roteiro previa a realização da Trilha Inca Curta, um trajeto de 14km a pé pelas montanhas, optou-se por uma estadia de três dias em Cuzco para aclimatação devido a altitude.
Esta decisão não podia ser mais acertada. Para quem vive ao nível do mar, a mudança brusca para uma região de ar rarefeito produz uma série de efeitos no organismo, sendo a fadiga e a dificuldade para praticar atividades físicas simples a mais comum. Além disso, a cidade de Cuzco se revelou um lugar repleto de histórias, usos e costumes que precisavam ser descobertos e registrados.
Cusco, Cuzco ou Q'osqo?
Antes de prosseguir é bom que se diga que aqui foi adotada a forma atual de grafia do nome da cidade: Cuzco, com "z", para diferenciar de
cusco, que em espanhol significa "cachorro".
Q'osqo é a forma quechua (idioma incaico) de designar a cidade e significa
centro ou
umbigo, uma vez que Q'osqo era a capital do Império Inca. Como os colonizadores espanhóis não conseguiam pronunciar o nome do lugar corretamente, acabaram por chamá-la Cusco, certamente com um viés pejorativo.
Do Rio a Lima
A viagem incluía uma parada em Lima, capital do Peru, para troca de aeronave. Como este foi o primeiro destino de um voo internacional, todos os procedimentos de imigração e aduana foram realizados aqui. O Aeroporto Internacional Jorge Chavez é um dos mais modernos da América Latina, tendo recebido prêmios internacionais em reconhecimento a qualidade dos serviços oferecidos.
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Área de embarque internacional do aeroporto de Lima. |
Curiosamente, para despachar a bagagem foi necessário dar a volta pela rua para entrar novamente no setor das companhias aéreas. Felizmente fazia sol!
De Lima a Cuzco
Logo após a decolagem a paisagem litorânea fica para trás e surgem cadeias de montanhas que formam uma bela paisagem. O percurso é curto e em uma hora e meia aproximadamente se chega a Cuzco. Aqui o aeroporto é menor e mais simples, mas funcional. Na saída, uma multidão formada por funcionários das agências de viagens que vem recepcionar seus clientes, taxistas e vendedores aguarda os turistas. A confusão é grande e é bom ficar atento. Sem esquecer que o corpo pode começar a apresentar os primeiros sinais da falta de oxigenação. O jeito é respirar fundo e caminhar devagar.
La Plaza de Armas
A primeira orientação dada aos recém chegados é para que repousem no primeiro dia e tomem muito chá de coca, uma forma milenar de combater o
soroche (mal da altitude). Mas como repousar com tanta novidade correndo lá fora? O jeito foi largar a mala no quarto, passar a mão no equipamento fotográfico e sair gastando sola pelas ruas de Cuzco.
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Chafariz da Plaza de Armas, com o Inca Dourado. |
Em pouco tempo se chega a
Plaza de Armas, local instituído pelo conquistador Francisco Pizarro por ocasião da tomada de Cuzco em 1533 em substituição à praça principal dos incas, localizada no mesmo lugar até hoje.
É nesta praça que se ergue imponente a Igreja de São Domingos, Catedral de Cuzco, e é também aqui que se concentra o setor turístico da cidade, com inúmeros restaurantes, casas de câmbio, hotéis, museus, lojas de artesanatos e ambulantes. Isto sem falar nas mulheres e crianças vestidas com trajes típicos que se oferecem para fotos por apenas
un sole, señor (Sl 1,00 equivale a aproximadamente R$ 1,00).
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Igreja da Companhia de Jesus. |
Após algumas voltas pela praça era hora de ampliar o círculo e explorar seus arredores. Não foi preciso andar muito para perceber que a cidade é uma mescla de arquitetura inca e colonial, pois são muitos os prédios que apresentam a base composta por pedras polidas e perfeitamente encaixadas, característica dos incas, com paredes mais modernas erguidas sobre elas.
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Rua típica do centro histórico de Cuzco. |
Outro detalhe característico é o recorte dos telhados e a presença de balcões de madeira ricamente decorados, o que não deixa dúvidas sobre a origem espanhola das construções.
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Balcões de madeira são comuns por aqui. |
Um povo orgulhoso e hospitaleiro
Não há como ouvir o relato dos guias sobre as atrocidades cometidas pelos colonizadores na conquista da América Latina e ficar indiferente. Afinal, aqui ocorreu o genocídio de uma civilização inteira. Vidas foram massacradas e sua cultura destituída de qualquer valor. Na ânsia de sufocar as manifestações religiosas originais, os espanhóis ergueram suas igrejas sobre os palácios incas e substituíram seus deuses por santos católicos.
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Cruz enfeitada por ocasião da quaresma. |
Mesmo assim, dizem os guias com uma indisfarçável ponta de orgulho, o povo soube como abraçar os novos símbolos impostos e mesclar com suas crenças, num forte sincretismo que se manifesta principalmente agora, na semana santa. O culto a Pachamama seguiu na adoração à Virgem Maria e os artistas da escola cusquenha de arte implantaram símbolos pagãos em diversas obras que enfeitam a catedral de Cuzco. Um exemplo desta resistência cultural é o rosto do conquistador Francisco Pizarro no corpo de Judas, no quadro
A Última Ceia.
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Artesã em trajes típicos oferece seus trabalhos na Plaza de Armas. |
Mas, a julgar pela passagem por Lima e pelas experiências vividas em Cuzco, pode-se dizer que o povo peruano é, além de muito orgulhoso de seu passado, bastante amável e sabe como receber bem o turista. Em mais de uma ocasião tive a oportunidade de constatar isto pela gentileza com que fui tratado por pessoas das mais diversas ocupações, inclusive transeuntes sem relação com prestação de serviços turísticos.
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Señor Inácio, com quem aprendi algo sobre as técnicas cirúrgicas dos incas. |
E com relação à segurança, posso afirmar que fiz minhas caminhadas pela cidade completamente distraído e com a câmera fotográfica no pescoço, como há muito não fazia. Proeza impensável no Rio de Janeiro dos dias atuais.
Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em
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Trilha Inca Curta - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu - um dia na cidade sagrada dos Incas.
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