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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Um susto no Km 104! - Machu Picchu - Peru

Em abril de 2014 realizei um velho sonho de infância há muito adiado: conhecer Machu Picchu. E como não podia ser diferente, decidi fazer isso no melhor estilo gastadores de sola, ou seja, através da famosa Trilha Inca.

Uma vez decidido o destino e a forma de atingi-lo começaram os preparativos para a empreitada, com a contratação de uma operadora responsável pelo suporte e infraestrutura, escolha de equipamentos, corridas para aumentar o condicionamento físico e muita pesquisa na internet para saber o quê iria encontrar pelo caminho. Havia optado por fazer a Trilha Inca Curta, que é percorrida em apenas um dia, e lembro de achar estranho que, ao analisar os relatos sobre a trilha, todos se referiam ao ponto de partida como sendo o km 104 - nunca uma estação ou ponto de controle. Apenas aquele enigmático marco cravado na ferrovia.

Finalmente chegou o dia da viagem e lá fui eu cheio de expectativas. Depois de três dias de aclimatação em Cuzco devido a altitude, finalmente chegou o momento de dar início a tão desejada Trilha Inca. A operadora contratada enviou uma van que me levaria a Ollantaytambo para dali tomar o trem que segue para Águas Calientes. O motorista deu as orientações necessárias e informou que um guia estaria me aguardando na parada do trem - no quilômetro 104!  Até aí tudo certo, embarquei e curti o passeio despreocupadamente.

Na estação de Ollantaytambo, durante o embarque dos passageiros, o condutor perguntava a cada um aonde iria descer e, obviamente, disse que seria no tal quilômetro 104. A viagem seguiu sem maiores incidentes e a certa altura o trem parou em meio a uma mata fechada, literalmente no meio do nada. Havíamos chegado ao ponto de início da Trilha Inca Curta. Simplesmente não havia estação, plataforma ou qualquer tipo de estrutura. A composição parou e os que iriam percorrer a trilha desceram. Simples assim.

A ferrovia que leva a Águas Calientes segue por uma zona de mata.

Até aí tudo bem. Como vários passageiros haviam  descido comigo deduzi que era ali mesmo que tinha que estar e que bastava aguardar pelo guia, conforme o combinado.

Entretanto ... Aos poucos os grupos foram se organizando em torno de seus respectivos guias e se afastando para dar início a caminhada. Eu ali esperando e nada. Olhei em volta e comecei a ficar realmente preocupado, pois estávamos num lugar ermo. O trem partira e não havia possibilidade de retorno.

No Km 104 descem aqueles que irão fazer a Trilha Inca Curta.

Quando vi que a última leva se preparava para partir fui até o responsável pelo grupo para explicar minha situação e perguntar o quê deveria fazer. Afinal o meu guia não havia comparecido ao ponto de encontro e eu estava sozinho num lugar desconhecido. O rapaz foi muito gentil e me convidou a acompanhá-los até o Posto de Controle de Chachabamba. Segundo ele, lá eu poderia ficar aguardando e ao menos poderia contar com algum apoio dos guardas se necessário. Entretanto não poderia entrar no parque, uma vez que a presença de um guia é requisito obrigatório.

Posto de Controle de Chachabamba.

Confesso que nesse momento comecei a ficar aflito, mas felizmente o desconforto não durou muito tempo mais. Lá pelas tantas o rapaz que me orientara apontou para uma ponte que havíamos cruzado para chegar ali e disse, meio divertido:

- Creio que aquele ali é o teu guia!

Olhei para onde ele apontava a tempo de ver alguém correndo afobado, sem se preocupar com a fragilidade daquela velha ponte de madeira. De fato era ele que, após perceber que eu não estava no ponto de encontro, vinha em desabalada carreira rumo ao Posto de Controle!

Seu nome era Richard e, conforme me contou mais tarde, no dia anterior decidira dormir num povoado próximo à ferrovia e de lá ir ao meu encontro no quilômetro 104. Infelizmente, ao deixar a aldeia fora atacado e mordido na perna por um cachorro!! O estrago havia sido considerável, mas ele fora até lá, justamente para não deixar o cliente (no caso, eu) na mão.

Realizados os procedimentos de praxe para ingressar no parque fomos tratar do ferimento, que felizmente não era assim tão grave, embora inspirasse cuidados - o cachorro cravara os dentes com vontade!! Fizemos um curativo e cogitei seriamente em cancelar a trilha, pois é preciso lembrar que além do machucado havia a questão do animal estar contaminado com o vírus da raiva. Richard insistiu dizendo que estava bem. Além disso, o fato é que não havia muito o quê fazer, uma vez que onde estávamos não havia recursos. Ou seja, para consultar um médico era preciso ir até nosso destino final: Águas Calientes, passando por Machu Picchu.

Superado o susto inicial percorremos a trilha sem maiores percalços. A dificuldade, para mim, ficou por conta da altitude. Para se ter uma ideia, o Posto de Controle de Chachabamba está a uns 2.100m acima do nível do mar e Intipunku, o ponto mais alto da trilha, a 2.700m, o que significa uma caminhada de 14km de extensão com um desnível de 600m a ser vencido num ambiente de ar rarefeito. Para superar este desafio preparo físico é fundamental, mas a atitude mental não pode ser negligenciada. Com a fadiga pode vir o desânimo e se isto ocorrer será extremamente penoso concluir a jornada.

O guia Richard, refeito e pronto para seguir em frente.

Bom humor é fundamental


O susto foi grande, mas serviu para ensinar uma lição valiosa. Em momentos de apuro é fundamental manter a calma e o bom humor. Isso ajuda, e muito, a tomar decisões mais acertadas, mesmo quando as opções são limitadas.

No final daquele dia eu e Richard já havíamos estabelecido uma relação de convívio muito saudável, reforçada pela superação daquela dificuldade inicial e que dificilmente seria alcançada se eu me mostrasse irritado ou mesmo agressivo com o atraso. As vezes é fundamental saber se colocar no papel do outro para compreender melhor seus motivos.

Veja o álbum de fotos Trilha Inca Curta em nossa página no Facebook, clicando aqui.
Para saber mais sobre a Trilha Inca leia o post Trilha Inca Curta.

Enfim a pose clássica com Machu Picchu ao fundo - foto de Richard Cerón.

Blogs Participantes

Esse post integra a blogagem coletiva Perrengues de Viagem, uma iniciativa do grupo Pequenos Grandes Viajantes, do qual o GSMA faz parte !! Todo mês seus membros elegem um tema sobre o qual os participantes expõem o seu ponto de vista.

Aproveite para conhecer outras histórias sobre perrengues dos demais blogs participantes:
  1. Destinos por onde andei... - Perdida em Roma, Itália;
  2. Atravessar Fronteiras - Um perrengue de viagem que rendeu um DVD ao vivo
  3. Viajando por Aí - Cuidados em um safari: algumas regrinhas para não levar um susto
  4. Mariana Viaja - Sobre mosquitos e os perrengues que (por causa deles) já passei viajando...; 
  5. Cantinho de Ná - O passeio foi cancelado? Não insista, é a melhor decisão
  6.  Ligado em Viagem - Perrengues que já passamos em hotel e como evitá-los;
  7. Foco no Mundo - Perrengues no aeroporto: o que fazer quando algo dá errado?;
  8. Viagens Invisíveis - Nossos maiores perrengues de viagem.

sábado, 18 de junho de 2016

Trilha Salkantay, o caminho da aventura - Salkantay, Peru




Já estamos de volta ao Brasil, com algumas bolhas nos pés, muitas histórias pra contar e uma tremenda vontade de retornar e começar tudo de novo!! Nesta segunda viagem ao Peru não faltaram surpresas e aventuras. Foram 10 dias maravilhosos, de intensa vivência com aquele povo afetuoso e cordial, aprendendo sobre o modo de vida e a cultura herdada dos antigos habitantes do império inca: os quéchuas.

Ainda vai levar um tempo para desempacotar as bagagens e colocar tudo em ordem. Enquanto isso iremos contando como foi dormir em uma barraca sob -20 ºC, caminhar por quatro dias entre montanhas, florestas e vilarejos, bem como ter a oportunidade de transformar em imagens pequenos instantes maravilhosos que retratam como foi toda esta experiência.

Veja os álbuns com as fotos de cada dia de trilha em nossa página no Facebook:
Trilha Salkantay - 1º dia de Mollepata a Soraypampa;
Trilha Salkantay - 2º dia de Soraypampa a Collpapampa;
Trilha Salkantay - 3º dia de Collpapampa a Santa Teresa;
Trilha Salkantay - 4º dia - Tirolesa e caminhada desde a hidrelétrica até Águas Calientes;
Trilha Salkantay - 5º dia - Visita à Machu Picchu.

Seguindo o modelo da viagem anterior, quando realizamos a Trilha Inca, iremos alternando entre fotos e relatos de modo a transmitir o mais fielmente possível as emoções desta jornada.

Acompanhe nossas publicações no Instagram através da hashtag #gsmasalcantay.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Trilha Alternativa Salkantay : faltam 30 dias - Machu Picchu - Peru

Em 2014 o Gastando Sola Mundo Afora foi ao Peru para realizar um velho sonho: percorrer a Trilha Inca e visitar Machu Picchu. Seguir por aqueles velhos caminhos, serpenteando montanhas e sendo presenteado com paisagens de tirar o fôlego, foi uma experiência tão marcante que, uma vez concluída, a vontade era retornar ao início e começar tudo de novo.

Trecho da Trilha Inca

Demorou um pouco, mas finalmente vamos gastar sola nos caminhos incas novamente!! No próximo dia 04 de junho estaremos de volta à Cuzco para uma nova aventura, onde o destino é o mesmo - Machu Picchu -, mas o caminho é a Trilha Alternativa Salkantay. Diferentemente da Trilha Inca, que fica dentro de uma área protegida, a Trilha Salkantay é uma rota viva, utilizada até hoje pelos habitantes da região em seus deslocamentos e, por isso mesmo, não é necessário autorização especial para percorre-la. Serão quatro dias de caminhada, durante os quais realizaremos um trajeto que inclui a travessia do monte Salkantay, daí o nome da trilha. O ponto alto do percurso, literalmente, é a passagem desta montanha a 4.600m acima do nível do mar. Quem se atreve a encarar este desafio precisa estar preparado física e psicologicamente para longas caminhadas em locais de difícil acesso, onde o soroche (o mal da altitude) pode atacar a qualquer momento devido ao ar rarefeito. Em compensação, o viajante irá desfrutar de paisagens tão belas quanto variadas, que vão desde os picos nevados da Cordilheira dos Andes a trechos de floresta na parte baixa.

Detalhe da cidade de Machu Picchu

Preparando a mochila


Tendo em vista as particularidades da empreitada os preparativos já vem sendo feitos há bastante tempo. Isso inclui aquisição de equipamentos próprios para as condições climáticas e de terreno, bem como a adaptação da forma de transportar o equipamento fotográfico - fundamental para que possamos registrar com segurança todos os momentos desta aventura! Além disso, muita pesquisa para saber o quê vamos enfrentar e treinamento físico para aprimorar o condicionamento.

No decorrer desta fase preparatória nos deparamos com alguns depoimentos de pessoas despreparadas, que não faziam ideia de como era o lugar para o qual estavam indo. São registros curiosos, feitos por viajantes que, provavelmente, imaginaram que se tratava de mais um passeio turístico e não correram atrás de maiores informações. Por isso, ao retornar, vamos publicar uma matéria especial sobre como foram os preparativos e o quê consideramos fundamental para o sucesso da missão. Falaremos também sobre o quê funcionou bem e o quê poderia ter sido melhor.

No mais, só nos resta segurar a ansiedade, seguir com os preparativos e aguardar a data do embarque.
Salkantay está lá, esperando por nós!!

Para saber como foi a primeira viagem do GSMA ao Peru:

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Retrospectiva Contagem Regressiva #02

Machu Picchu


Após percorrer os 14km da Trilha Inca Curta alcançamos Intipunku, a Porta do Sol, por volta das 16h00, horário local. Dali se avista Machu Picchu a distância e fiquei impressionado com a visão da cidadela marcada pelos raios oblíquos do sol que começava a descer por trás da cordilheira. A partir deste ponto é só descida, mas é preciso percorrer um bom trajeto para se chegar até ela.

Visitar Machu Picchu é uma experiência muito pessoal e tem um significado próprio para cada um. Entretanto, a grandiosidade daquela obra levada a cabo num local tão inacessível é algo que salta aos olhos do turista mais distraído. Até hoje não se sabe ao certo com qual finalidade ela foi erquida, mas o certo é que a Cidade Sagrada é um testemunho da engenhosidade e poder de organização dos incas.

No dia seguinte, seguindo o conselho de Richard - o guia que me acompanhava - retornamos à Machu Picchu no primeiro ônibus, às 05h15 da manhã. Isso nos deu a oportunidade de percorrer o sítio arqueológico praticamente vazio! E foi assim que consegui obter a foto abaixo, praticamente sem ninguém a vista. Poucas horas depois este local estaria fervilhando de turistas e a lhama sendo disputada como modelo para um sem número de clicks.

Praça Central de Machu Picchu


Foto publicada no post Machu Picchu - Peru em 26 de abril deste ano.

Como parte das comemorações do aniversário do GSMA estamos publicando fotos de momentos marcantes deste primeiro ano de caminhada.

Promoção Gastando Sola No Morro da Conceição



O GSMA está completando 1 ano de existência e vamos comemorar com uma caminhada no Morro da Conceição. Será no dia 14 de setembro e o blog está promovendo o sorteio de 30 participantes que irão desfrutar do passeio gratuitamente. Para participar, basta se inscrever clicando aqui! Só não esqueça de clicar no botão QUERO PARTICIPAR.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Retrospectiva Contagem Regressiva #03

Trilha Inca Curta


Para manter o controle sobre seu vasto território, os incas construíram um sistema de estradas com mais de 30.000 km de extensão, ligando Cuzco a regiões onde hoje se encontram países como Argentina, Chile e Brasil. Boa parte desta infraestrutura viária desapareceu após a colonização predatória empreendida pelos espanhóis, mas, como estes não cruzaram o rio Urubamba, os trechos remanescentes ali localizados permaneceram relativamente intactos até serem redescobertos no início do século XX. Este fato histórico também explica porque Machu Picchu chegou até nossos dias tão bem preservada.

A Trilha Inca é um do trechos que ligavam Cuzco à cidade sagrada de Machu Picchu e é considerada uma das trilhas mais famosas que existem, atraindo trilheiros de diversas partes do mundo, tanto pelo desafio da altitude quanto pelas belas paisagens e sítios arqueológicos que se avista no decorrer do percurso. Boa parte do calçamento preserva as pedras originais e encontra-se em bom estado devido as constantes obras de manutenção e restauração sob responsabilidade do governo peruano.

Ao longo do caminho há abrigos onde se pode fazer paradas técnicas para organizar o equipamento, reidratar e realizar lanches rápidos. É proibido comer ao longo do caminho, principalmente nos sítios arqueológicos, e também não se pode deixar nada para trás. Todo o lixo produzido deve ser levado para ser descartado no Posto de Controle de Machu Picchu.

A foto abaixo mostra o primeiro refúgio que se encontra após passar pelo posto de controle de Chachabamba. A geografia acidentada, a altitude e a escassez de terreno plano fazem com que a subida se torne penosa em alguns trajetos, daí a necessidade destes pontos de descanso encravados nas encostas das montanhas.

Refúgio na encosta da montanha.

Foto publicada no post Trilha Inca Curta em 23 de abril deste ano.

Como parte das comemorações do aniversário do GSMA estamos publicando fotos de momentos marcantes deste primeiro ano de caminhada.

Promoção Gastando Sola No Morro da Conceição



O GSMA está completando 1 ano de existência e vamos comemorar com uma caminhada no Morro da Conceição. Será no dia 14 de setembro e o blog está promovendo o sorteio de 30 participantes que irão desfrutar do passeio gratuitamente. Para participar, basta se inscrever clicando aqui! Só não esqueça de clicar no botão QUERO PARTICIPAR.

sábado, 26 de abril de 2014

Machu Picchu - Peru

Vencida a Trilha Inca, faltava apenas adentrar Machu Picchu para que o roteiro ficasse completo. Mas, devido ao adiantado da hora (a visitação encerra às 17h00), esta etapa teve que ficar para o dia seguinte.

Assim, seguindo a orientação do guia, às 05h15 já estávamos na fila para pegar o primeiro ônibus da linha que liga Águas Calientes à Machu Picchu. O trajeto dura em média uns 30 minutos, de modo que - quando finalmente entramos na Cidade Sagrada dos Incas - Inti, o Deus Sol, ainda não havia se levantado.

Além da penumbra, uma pesada neblina cercava as ruínas, conferindo ao lugar um tom ainda mais misterioso. O guia ia seguindo tranquilo entre escadarias e paredes de pedra, falando sobre a vida dos habitantes originais e dando detalhes sobre as construções. Enquanto caminhávamos entretidos neste misto de tour e bate-papo, a luz foi surgindo aos poucos e revelando em detalhes as formas que apenas se insinuavam na umidade da manhã.

Pela manhã, a cidade parece flutar entre nuvens.

Como chegamos cedo haviam relativamente poucos turistas ao redor, permitindo uma visitação mais tranquila. O governo peruano autoriza 2.500 visitantes por dia. Considerando que a cidade foi projetada para abrigar em torno de 500 moradores fica fácil perceber que no auge da visitação as ruínas viram um formigueiro de gente.

Visitar Machu Picchu é uma experiência muito pessoal e cada um guarda a lembrança daquilo que mais lhe impressionou. Entretanto, a grandiosidade daquela obra levada a cabo num local tão inacessível é algo que salta aos olhos do turista mais distraído. Até hoje não se sabe ao certo com qual finalidade ela foi erquida, mas o certo é que ela ficou como testemunho da engenhosidade e poder de organização dos incas.

Praça Central com setor agrícola ao fundo.

Há muito que ver por aqui e os guias apresentam um roteiro pré-definido com os principais pontos de interesse. Assim que este roteiro foi concluído, nos despedimos e pude dar início ao que mais gosto: gastar sola a esmo, desta vez em Machu Picchu!

Intiwatana, a pedra de amarrar o sol.

Um detalhe que me chamou a atenção foi a sobriedade e simplicidade das habitações. Os incas não utilizavam móveis e seus poucos utensílios eram guardados em nichos nas paredes. Mesmo o rei dispunha de aposento muito semelhante aos de seus súditos. A única diferença é que para ele havia um ... banheiro! Na verdade um recinto estreito com uma fossa sem assento. O interessante é que havia escoamento dos dejetos para fora da cidade e, quando pesquisadores modernos localizaram o ponto de deságue, foi encontrado um bracelete de ouro, provavelmente perdido por algum soberano ao fazer uso do "trono" real.

Setor residencial.

O local é muito bem sinalizado e pode-se ficar andando a vontade. Diversos guarda-parques espalhados em locais estratégicos orientam e cuidam para que os turistas não cometam excessos ou danifiquem o patrimônio. Infelizmente nem todo visitante tem um entendimento claro sobre a importância do local que está visitando e a presença dos guardas se torna realmente necessária. Um detalhe importante: não há banheiros, nem lanchonetes ou lojas de conveniência por aqui. Todas estas facilidades ficam do outro lado do portão de acesso e quem sai não pode retornar.

Guarda-parque observa movimentação dos visitantes.

Terraços para produção agrícola.

Machu Picchu foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985 e um dos compromissos assumidos pelo governo peruano é o de manter conservada suas características originais. Cumprir este compromisso não é tarefa fácil e no decorrer do dia pude constatar que um verdadeiro exército de operários se movimenta discretamente, cuidando para que tudo fique em ordem. É preciso impedir que o mato tome conta dos muros de pedra, por exemplo, ou que o sistema de abastecimento de água se converta num criatório de mosquitos. Estas atividades tão necessárias precisam ser feitas apesar da presença do público, pois o parque está sempre aberto a visitação. Por isso é comum que alguns setores estejam temporariamente inacessíveis devido a obras de restauro.

Operários retiram vegetação que cresce entre as pedras.

Instalação pedagógica demonstra técnica de construção dos incas.

Próximo do meio-dia o nevoeiro já havia se dissipado e o sol finalmente pode se fazer presente, dando um novo colorido a paisagem. Após uma última volta pela vielas estreitas era hora de subir as escadas de pedra pela última vez e me dirigi ao portão de saída, rumo a estação de ônibus. Em menos de uma hora estava em Águas Calientes, num restaurante, aguardando que meu pedido ficasse pronto. Em questão de minutos o tempo fechou e um aguaceiro se abateu sobre a cidade. Imediatamente lembrei dos que ainda estavam lá em cima e agradeci a Inti por ter me permitido conhecer Machu Picchu em sua prença.

A Casa do Vigia.

Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook. E se gostou, curta!

Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru, o artigo Cuzco, a versão cotidiana de uma cidade turística - Peru e o relato do caminho até Machu Picchu em Trilha Inca Curta.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Trilha Inca Curta - Machu Picchu -Peru

Todos os caminhos levam a Cuzco


O alto nível de organização demonstrado pelos Incas explica, ao menos em parte, a grandeza e a força de seu império. Além de guerreiros, os Filhos do Sol eram também agricultores, artesãos, mercadores e construtores de primeira linha. Ergueram cidades e centros de produção agrícola em espaços conquistados a duras penas às montanhas, em locais que mesmo hoje seriam considerados inacessíveis.

Para conectar Cuzco, a capital do império, com as diversas localidades espalhadas por boa parte da América do Sul, teceram uma malha de estradas com mais de 30.000 km. Ou seja, os caminhos incas não se restringiram apenas ao Peru, abrangendo países como Argentina, Equador, Chile e Brasil. Boa parte destas vias de comunicação existem até hoje e alguns trechos tem sido utilizados para prática de trilhas. É o caso dos caminhos que levam à Machu Picchu.

A Trilha Inca


É um dos trechos remanescentes do antigo caminho que ligava Cuzco à Machu Picchu, ainda com calçamento de pedras original cobrindo boa parte de seu leito. Pode ser considerado uma das rotas de trilha mais famosas que existem, atraindo trilheiros de diversas partes do mundo, tanto pelo desafio da altitude quanto pelas belas paisagens e sítios arqueológicos que se avista no decorrer do percurso. É importante saber que os conquistadores espanhóis não passaram para o lado esquerdo do rio Urubamba, de modo que os vestígios incas nesta região escaparam da destruição que vitimou outras localidades e encontram-se muito bem conservados. Este fato histórico também explica porque Machu Picchu chegou até nossos dias tão bem preservada.

Há duas opções de Trilha Inca:
  • Trilha Inca Curta: inicia no quilômetro 104 da ferrovia que liga Cuzco a Águas Calientes e dura dois dias. A extensão é de 14 km e a altitude máxima é de 2700m. O pernoite é feito em hotel, na cidade de Águas Calientes;
  • Trilha Inca ou Trilha Longa: inicia no quilômetro 82 da mesma ferrovia e dura quatro dias. Sua extensão é de 40 km, sendo que a altitude máxima chega a 4200m e os pernoites são feitos em barracas.
Ambas as trilhas levam a Intipunku, a Porta do Sol, e dali a Machu Picchu.

Desta vez o Gastando Sola Mundo Afora foi conferir como é a Trilha Curta e já podemos adiantar que não faltaram emoções nesta jornada. Isto sem falar que retornamos ao Brasil planejando voltar ao Peru para a Trilha Longa.

Um susto no km 104

 Enquanto me preparava para a viagem ao Peru e lia sobre a Trilha, estranhava o fato de todos dizerem que ela começa no km 104 e nunca citarem uma estação ou ponto de controle.

Quando o trem parou no meio do nada e o condutor anunciou que aquele era o famoso km 104 tive minha resposta. Não há estação ou qualquer outro tipo de estrutura. O trem simplesmente para e os que irão realizar a trilha descem.

Km 104 - aqui tem início a Trilha Inca Curta.

Havia combinado com  a agência que encontraria meu guia neste ponto para dali darmos início a caminhada, mas não foi o que aconteceu. Aos poucos os grupos foram se organizando e seguindo em frente e nada do guia aparecer. Preocupado perguntei a um dos guias presentes no local como deveria proceder, pois estava sozinho. Seguindo sua orientação, fui com o grupo até o Posto de Controle de Chachabamba. Pelo visto é relativamente comum ocorrer este tipo de problema e o melhor é aguardar no posto, uma vez que é proibida a trilha desacompanhada de guia.

Felizmente o desconforto não durou muito tempo. Com um sorriso maroto o jovem que me orientara apontou para um rapaz que vinha correndo pela ponte pênsil e disse:

- Creio que aquele lá é o teu guia!

Feitas as apresentações, fico sabendo que Richard, o guia, fora atacado e mordido na perna por um cachorro.  De início pensei em cancelar a trilha, mas ele insiste dizendo que não há problema. E na verdade não há muito o quê fazer mesmo. Para consultar um médico será necessário ir até Águas Calientes de qualquer forma.

Caminhando nas alturas


O caminho segue as curvas de nível da montanha.

A trilha em si não apresenta maiores dificuldades. O caminho é estreito na maior parte do tempo, mas bastante regular e desimpedido - afinal, esta era uma estrada para uso rotineiro e não poderia ser diferente.

Alguns trechos da trilha preservam o calçamento original.

A dificuldade fica por conta da altitude. O Posto de Controle de Chachabamba está a uns 2100m e Intipunku, o ponto mais alto, a 2700m acima do nível do mar, o que significa uma rampa de 14km de extensão com um desnível de 600m a ser vencido num ambiente de ar rarefeito. Para superar este desafio preparo físico é fundamental, mas a atitude mental não pode ser negligenciada. Com a fadiga pode vir o desânimo e se isto ocorrer será extremamente penoso concluir a jornada.

Ao longo do caminho há abrigos onde se pode fazer paradas técnicas para organizar o equipamento, reidratar e realizar lanches rápidos. É proibido comer ao longo da trilha, principalmente nos sítios arqueológicos, e também não se pode deixar nada para trás. Todo o lixo produzido deve ser levado para ser descartado no Posto de Controle de Machu Picchu.

Um dos abrigos existentes ao longo da trilha.

Felizmente a paisagem ao redor se encarregava de nos distrair e motivar para seguir adiante. Neste dia o tempo estava firme e a temperatura amena, o que também favoreceu o sucesso da empreitada. Com algumas horas de marcha atingimos o sítio arqueológico de Wiñay Wayna, um impressionante centro de produção agrícola constituído por terraços que ocupam boa parte da montanha. Era daqui que os Incas tiravam o sustento da terra, aproveitando cada centímetro da encosta graças a esta admirável obra de engenharia.


Setor residencial de Wiñay Wayna, com terraços ao fundo.

O complexo de Wiñay Wayna é monumental e sua altura equivale, aproximadamente, a um prédio de 15 andares. Digo isto porque para seguir na trilha é necessário subir por uma escada que conduz ao topo da construção, para de lá seguir adiante. Enquanto tomava fôlego num dos platôs intermediários, pude comprovar a dificuldade da subida observando membros de outros grupos. Realmente não é fácil.

Escadaria de Wiñay Wayna, um desafio a ser vencido.

Enquanto descansava, também aproveitava para mascar algumas folhas de coca adquiridas na visita que fiz ao Mercado de San Pedro, uns dias antes. Estas folhas são consideradas medicinais e utilizadas diariamente pela população local. Seu efeito é imediato e são muito eficazes contra o soroche, o mal das alturas.

Sanduíche de abacate

Por volta das 13h45 atingimos o setor de acampamentos e aproveitamos para almoçar. Este setor é o último ponto de parada da Trilha Longa e a partir daqui as duas trilhas percorrem o mesmo caminho. Há uma área destinada às barracas, banheiros e chuveiros. Aqui se pode até cozinhar, mas nossa refeição foi leve e, para mim, diferente: sanduíches de abacate com tomates, queijo e presunto. Não sei se devido a fome, a habilidade do guia ou a altitude, mas estava uma delícia!

Na saída do setor de acampamentos fica o Posto de Controle de Wiñay Wayna, última parada antes do destino final: Machu Picchu.

Bom humor é fundamental

Os quilômetros finais foram percorridos sem maiores incidentes. Após um trecho inicial de subida constante a trilha fica mais suave, alternando partes planas com aclives não muito acentuados. Pelo menos até chegar próximo a Intipunku, onde o último obstáculo a ser vencido é uma escadaria bastante íngreme, a qual escalei utilizando pés e mãos.

No topo, Richard me recebe com uma risada divertida e pergunta:

- Amigo Paulo, sabes como chamamos a esta escada? Matagringos!!

Penso com meus botões que o nome não podia ser mais adequado e que, sim, existe humor na trilha.

Em pouco tempo chegamos a Intipunku, de onde se avista a Cidade Sagrada dos Incas. São 16h00 e o sol  começava a declinar, realçando a silhueta da cidadela entre as montanhas. Uma imagem e emoção inesquecíveis.



Machu Picchu vista da trilha.

A pose clássica com Machu Picchu ao fundo - foto de Richard Cerón.

A partir de Intipunku a trilha se converte numa descida constante, oferecendo diversos pontos de onde se pode admirar Machu Picchu de cima. Devido ao horário, os visitantes estão de saída e a cidadela está vazia, como deve ter ficado por séculos até ser redescoberta no início do século XX.

A entrada em Machu Picchu se dará no dia seguinte, após um merecido repouso em Águas Calientes, mas isto já é uma outra história.

Veja os álbuns de fotos sobre essa aventura em Gastando Sola, nossa página no Facebook. E se gostou, curta!

Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru e o artigo Cuzco, a versão cotidiana de uma cidade turística - Peru.

domingo, 13 de abril de 2014

Machu Picchu: destino alcançado!



Machu Picchu ao entardecer

No dia 10 de abril, às 16h00, chegávamos a Intipunku, a Porta do Sol, coroando uma longa caminhada pelo antigo caminho dos incas. Era o final da trilha, mas não da aventura.

De Intipunku a Machu Picchu se vai em uma hora de marcha (foto de Richard Cerón).

De Intipunku se avista Machu Picchu e fomos agraciados com um belo entardecer. Os raios oblíquos do sol destacavam a silhueta das construções de pedra e, devido ao horário, a Cidade Sagrada dos Incas estava praticamente vazia. Era como se ela estivesse se revelando ao mundo pela primeira vez, mais uma vez. Uma visão e uma emoção inesquecíveis.

De Intipunku se avista  Machu Picchu ao longe (foto de Richard Cerón).

A partir de hoje iniciamos uma série sobre esta surpreendente viagem ao Peru, na qual foi possível conhecer um pouco da história, usos e costumes deste povo que tem razões de sobra para se orgulhar de seu passado.

Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook:
Trilha Inca Curta  - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu  - um dia na cidade sagrada dos Incas.

sábado, 5 de abril de 2014

Destino: Machu Picchu



Na madrugada deste domingo terá início a primeira aventura internacional do Gastando Sola Mundo Afora e o destino não podia ser melhor: Machu Picchu. O roteiro inclui uma rápida passagem por Lima, dois dias em Cusco e a Trilha Inca Curta, a ser percorrida também em dois dias.

Há muito que ver em Cusco, pois ela foi a capital do Império Inca e está repleta de sítios arqueológicos que contam a saga dos antigos habitantes das Américas. Aqui também são visíveis as marcas do  desastroso contato com os colonizadores espanhóis. Além do interesse natural pelos atrativos de Cusco, esta etapa tem o propósito de aclimatar o organismo para enfrentar o temido soroche, o mal da altitude, uma vez que a cidade fica a mais ou menos 3.400 m acima do nível do mar.

Depois terá início a jornada até a Cidade Sagrada dos Incas. Desta vez será a Trilha Curta, que tem início no km 104 da ferrovia que liga Cusco a Águas Calientes e percorre o caminho trilhado pelos Incas para chegar até ela. A caminhada é feita em meio as belas paisagens das montanhas e inclui os sítios arqueológicos de Chachabamba, Wiñay Wayna, Intipunku, o Portal do Sol e, é claro, Machu Picchu.

Acompanhe todos os lances desta aventura aqui no blog e também pelo Instagram/gastandosola com a hashtag #gsmaperu e pelo Facebook/Abaretiba.