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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

De Manaus a Varre Vento de barco pelo Rio Amazonas - Varre Vento - AM

Quem acompanha nossas gastanças de sola sabe que esta não foi a primeira vez que estivemos no Amazonas. De outra feita aproveitamos a estada para conhecer Manaus e arredores, mas desta vez o objetivo era maior: ir para o interior para conhecer a floresta amazônica e seus habitantes.

Em Manaus ficamos hospedados na casa de parentes, com os quais já havíamos previamente combinado uma visita a um dos membros da família que ainda vive numa área rural às margens do Rio Amazonas. Uma vez que não há estradas na região, o único meio de chegar até lá é de barco, os famosos "motores" que transportam de tudo e desempenham um importante papel abastecendo e escoando a produção local das comunidades ribeirinhas.

Na noite anterior à viagem, depois de empacotar o equipamento, nos reunimos no pátio da casa para um bate papo antes de dormir. Nossos anfitriões estavam animados e emendavam história atrás de história sobre o Varre Vento, local de nascimento de boa parte dos presentes na ocasião.

No dia seguinte, as 06:00 estávamos de pé naquele frenesi que antecede uma grande aventura. As informações eram um pouco confusas. Para alguns o motor partia às 07:00, para outros, às 11:00. Por fim chegaram os carros que nos levariam ao porto, onde embarcamos por volta das 08:00 para zarpar às 09:00.

J. Cândido, o motor que nos conduziu nesta aventura.

Estava conosco Tia Zefa, matriarca da família e personalidade muito querida por todos devido a suas habilidades na arte da cura. Assim, conseguir lugar no imponente J. Cândido não foi problema, sendo que para ela o capitão, e dono do barco, nem cobrou a passagem. Pelo que pude apurar, há alguns anos Tia Zefa livrou um de seus filhos de uma doença braba e esta era sua forma de demonstrar gratidão pelo fato.

Vendedor circula entre os passageiros momentos antes do barco zarpar.

Enquanto aguardávamos a bordo pude notar que as viagens de barco possuem um forte impacto na economia local, sendo que os viajantes contam com uma infra-estrutura de apoio realmente impressionante. A começar pelos carregadores que oferecem seus serviços tanto para levar as bagagens dos que partem como descarregar as dos que chegam. E é bom lembrar que bagagem por aqui pode ser qualquer coisa, inclusive fardos de farinha, pirarucu salgado e por ai vai. Depois tem as barracas de lanches rápidos, comuns em todo o território nacional, e as que fornecem quentinhas para viagem! - muito úteis caso o passageiro não queira encarar o serviço de bordo. E há também os fornecedores de suprimentos diversos: redes de pesca, ferramentas agrícolas, azagaias, arpões, redes para deitar, cordas para atar as redes, sacas de mantimentos, etc.

No balanço da rede


Para quem nunca viajou num motor, é bom que se diga que não há bancos, poltronas ou cadeiras. Na área destinada aos passageiros, no teto, há ripas de madeira atravessando de ponta a ponta para que se possa pendurar as redes. No início é um pouco estranho, mas aos poucos a gente se acostuma e tudo passa a ser natural. Neste dia tivemos sorte, pois chegamos cedo e o barco foi relativamente vazio, de modo que foi fácil acomodar nossas redes próximas umas das outras.

Tia Zefa em sua rede.

Durante o trajeto não há muito o que fazer, a não ser curtir a paisagem, dormir ou jogar conversa fora. Na parte superior havia uma lanchonete onde era possível adquirir água mineral, refrigerantes, cervejas e lanches rápidos. Também havia mesas e cadeiras, dessas que se encontra em qualquer boteco Brasil afora. Uma brisa boa, que amenizava o forte calor manauara, era um convite a ficar por ali enquanto aos poucos a cidade ia ficando para para trás. A presença humana foi ficando cada vez menos evidente com a mata sendo pontilhada por pequenos flutuantes ancorados nas margens, algumas povoações e nada mais. Na água, barcos de todos os tipos e tamanhos, provando que o rio é de fato o meio de ligação daquela gente com a civilização.

O desembarque


Passadas quatro horas vieram nos avisar que estávamos nos aproximando do destino. Me juntei ao grupo que havia ficado no convés inferior - e que conhecia a localização da casa onde íamos ficar hospedados - para perguntar onde exatamente iríamos descer. "Ali naquela curva", foi a resposta. Fixei o olhar em busca de um pier ou atracadouro e só havia água e barranco. Foi quando descobri que o desembarque seria feito no meio do rio com o barco em movimento!

Hora do desembarque.

Essa é uma prática comum neste tipo de viagem e todos por ali estavam acostumados. Evita perda de tempo, uma vez que a embarcação não precisa atracar / desatracar e economiza o combustível que seria gasto nas manobras. Para chegar à terra seria utilizada uma lancha rápida que segue atada ao barco. Rapidamente transferimos a bagagem e nos acomodamos na pequena embarcação. Além do nosso grupo, haviam outros passageiros e diversas mercadorias - encomendas de moradores.


Lá se vai a voadora distribuir o pessoal.

Como o acesso à cidade é difícil, muitos ribeirinhos encomendam os suprimentos, que por sua vez são enviados via barco. As formas de realizar as encomendas variam conforme as possibilidades: um conhecido ou parente que vai a Manaus, passar um rádio aos barcos que cruzam ou, com sorte, ligar para alguém via celular. Uma vez feita as compras, basta levar até o capitão e avisar que é para fulano em tal lugar.

Suprimentos entregues aos moradores.

Uma vez entregue as encomendas e desembarcado outro passageiro, chegou a nossa vez. Nisso o piloto pergunta aonde gostaríamos de descer e a resposta vem pronta: "Ali, no terceiro tronco!" Na hora achei engraçado, mas pensando bem, que melhor ponto de referência num lugar em que não há ruas nem número nas casas e muito menos CEP?

Nossa casa em Varre Vento.

Ficamos alguns dias em Varre Vento, tempo suficiente para viver aventuras memoráveis e aprender muito com aquele povo simples que nos recebeu de braços abertos. Há alguns dias publicamos o relato de uma destas experiências no post Causos de viagem : a caldeirada de peixe - Varre Vento - AM. Também tivemos oportunidade de tirar muitas fotos em locais incríveis e você pode conferir o resultado no álbum Varre Vento em nossa página no Facebook.

Hora de voltar


O retorno a Manaus foi tranquilo e dentro do esperado. O dono da casa passou um rádio avisando que haveria passageiros aguardando e o barco enviou uma lancha para recolher o pessoal. No caminho uma surpresa: a piracema havia começado e, literalmente, atravessamos um cardume que subia o rio em saltos que passavam acima de nossas cabeças!

Desta vez era um barco bem menor que o J. Cândido e já estava lotado quando subimos a bordo, o que gerou uma certa dificuldade para acomodar as redes. Era noite e a maioria já estava deitada, pronta para dormir - o trajeto da volta levou oito horas ...

Alguns poucos ainda ficaram nas cadeiras contemplando as estrelas e jogando conversa fora. Lá pelas tantas o capitão subiu para perguntar se alguém gostaria de jogar dominó com a tripulação. Resolvi descer para conhecer a embarcação e lá estavam eles atracados no jogo. Ocupando o espaço disponível caixas e caixas térmicas com peixes destinados à venda nos diversos mercados da Capital. O frete ajuda a custear a viagem e é a única forma de escoamento da produção à disposição dos pequenos produtores rurais.

Hora do lazer a bordo.

Vencidos pelo cansaço, voltamos para as redes para um merecido descanso. Despertamos já em Manaus, no porto da Feira da PanAir, em plena madrugada.

Porto de Manaus na madrugada.

Não há muitos relatos sobre viagem de barco pelo Amazonas, por isso sugerimos a leitura do post da Vaneza Com Z: Amazonas: viagem de barco recreio pelo Rio Negro.

Você também pode estar interessado nos relatos de nossa primeira viagem ao Amazonas:

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Causos de viagem : a caldeirada de peixe - Varre Vento - AM

Em setembro de 2015 a equipe do GSMA retornou ao Amazonas, desta vez com o objetivo de conhecer um pouco do vasto interior da floresta amazônica. Após uma rápida passagem por Manaus embarcamos num motor (em caso de dúvida, consulte o nosso glossário manaura!) rumo a localidade de Varre Vento, distante umas quatro horas descendo o rio Amazonas. Diga-se de passagem que a época do ano não foi escolhida ao acaso, pois este é o período em que as chuvas diminuem e o nível do rio fica mais baixo.

A jornada até Varre Vento e outras peripécias que aconteceram nesta aventura serão contadas oportunamente em outras postagens. Desta vez quero apenas compartilhar uma lição que aprendi e que demonstra o quanto estamos distantes da realidade das pessoas que habitam aquela região.

Uma casa em Varre Vento


Ao chegar, fomos muito bem recebidos pelo dono da casa e sua família. Em pouco tempo estávamos à vontade e conversando como velhos conhecidos. Durante a conversa fiquei sabendo que as terras onde estávamos haviam ficado submersas até poucos dias atrás e que, portanto, ainda não havia sido providenciado uma horta. De fato a casa, apesar de ser construída no estilo palafita, ainda apresentava sinas da passagem da água e a única "plantação" que havia era um pequeno canteiro improvisado numa velha canoa cheia de terra, montada sobre um jirau, onde recém despontavam algumas folhinhas. Posteriormente verifiquei que este é um recurso comum na região como forma de manter os canteiros protegidos tanto da água quanto dos bichos domésticos que andam livremente pelo quintal.

No igarapé.

Lá pelas tantas o dono da casa veio me dizer que um dos meninos (agregado) iria sair para pescar e perguntou se eu não queria ir junto. Segundo ele, haviam muitos convidados e era preciso reforçar a despensa para alimentar o povo, uma vez que na janta seria servido uma caldeirada de peixe! Sempre fui bom de garfo e jamais rejeitei um convite para jantar, ainda mais quando o cardápio inclui este prato típico que aprendi a apreciar em diversos restaurantes das grandes cidades litorâneas. Confesso que estranhei um pouco o fato de ter que buscar o peixe na água, pois normalmente eu pescava meus peixes numa peixaria. Mas com o Amazonas em frente e um imenso igarapé nos fundos, a ideia até que fazia sentido.

A pescaria


Hora de lançar a malhadeira.

E lá fomos nós, três pescadores e um fotógrafo a deitar as malhadeiras em meio aquela paisagem fascinante (para mim, por certo) e um tanto selvagem. Na primeira puxada de rede constatei que o igarapé era habitado por piranhas, que atacaram alguns dos peixes que haviam ficado presos - ou seja - cair na água, nem pensar. Um pouco mais tarde um jacaré atacou uma das redes em busca de comida, causando enorme estardalhaço na água e um belo rombo na malha. O interessante é que o único que achava aquilo novidade era eu. Meus companheiros de pesca encaravam com serena naturalidade todos estes acontecimentos. Inclusive um deles se pôs a pescar piranhas com anzol, pois, segundo ele, "as bichinhas dão um belo ensopado". Deu trabalho e foi cansativo, mas valeu a pena. Além de uma boa quantidade de peixes consegui tirar muitas fotos, as quais vou postando de tempos em tempos no nosso perfil no Instagram (@gastandosola) sob a hashtag #varrevento.

Peixe atacado por piranha.

Piranha vermelha, muito comum na região.

Tá na mesa!


De volta à casa, hora de tratar os peixes e prepará-los para a panela. Mas antes disso, foi preciso ligar a bomba para puxar água do rio e abastecer a caixa d'água, pois água encanada é um luxo que por lá não existe.

Por fim o jantar! E lá vou eu rumo à mesa pensando numa moqueca estilo baiana, com tudo dentro. Mas a realidade é um pouco diferente e o que encontro é um caldo ralo, feito apenas com os peixes e alguns temperos. Para acompanhar, farinha e um ou outro complemento que havíamos trazido de Manaus.

Tratando os peixes para a caldeirada.

Foi aí que caiu a ficha, como se dizia no meu tempo. Estas pessoas moram no meio do nada. O posto comercial mais próximo está a duas horas de rabeta. A enchente levou tudo, é preciso plantar novamente para se ter o quê comer. Enquanto a roça não produz, resta a pesca ou a caça. Parei e olhei em volta. O pessoal animado contava histórias e se divertia, servindo-se do que havia sido posto sem a menor cerimônia. O diferente ali era eu, que só naquele momento começava a perceber a realidade a minha volta. A fome era grande. Servi uma porção generosa de peixe e farinha e comecei a comer devagar, ouvindo a história de como o menino que nos levara na pescaria tinha conseguido aquela cicatriz de mordida de jacaré na perna. Em silêncio, agradeci pela oportunidade de estar ali. Quanto a caldeirada, é preciso dizer que estava uma delícia!

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O estranho caso da velha que explodiu - Manaus - AM

Quem viaja sempre tem história pra contar, pois o que não falta numa viagem são imprevistos, surpresas e emoção frente ao inesperado. Por vezes os relatos soam tão estranhos para quem não vivenciou aquele momento que chega a ser difícil para o ouvinte acreditar no que conta o viajante. O mesmo acontece com quem pesca, mas neste caso, de tanto exagerar no tamanho dos peixes que escaparam, o termo pescador é quase um sinônimo de mentiroso, não é mesmo?

E o que acontece quando se viaja para um lugar em que todo mundo é pescador? O diário de bordo volta com histórias a rodo, é claro!!

Senta que lá vem a história


Durante nossa estada em Manaus tivemos a oportunidade de confraternizar com grandes figuras, nascidas e criadas em meio a uma natureza exuberante, que só faz excitar a imaginação, e que nos brindaram com causos maravilhosos. De um modo geral todos tem um fundo de verdade e uma certa dose de exagero, remetendo a aspectos da sabedoria popular, lendas amazônicas e provas de coragem. Verdadeiros? Isso já é outra história ...

Entre uma prosa e outra fomos anotando as mais pitorescas, todas contadas dentro de um linguajar próprio, recheado de palavras exclusivas da região. Para facilitar o entendimento, acabamos por reunir os termos num pequeno glossário, reproduzido no final deste post.

Dentre as muitas que ouvimos recordo aquela da sucuri gigante que cava túneis por baixo da Amazônia, causando desmoronamentos na superfície. Uma sonda da Petrobrás até já localizou o bicho. Eles só não matam a cobra porque ela é tão grande que iria contaminar todo o Rio Amazonas! Gostou? Então tome outra: certa feita um caboclo entrou no rio para flechar um tambaqui parrudo. Ia pisando com cuidado no fundo barrento quando sentiu algo duro. Pensando ser um tronco, subiu, firmou a azagaia e retesou o arco. Quando ia flechar a presa, o "tronco" começou a se mexer e veio à tona um enorme jacaré com o caboclo por cima!! Dotado da agilidade que só o medo é capaz de fornecer, surfou o bichão até conseguir chegar na margem, desgostoso por ter perdido a oportunidade de pegar um peixão. Mas de todas as histórias que ouvimos nenhuma se compara a esta:

O Estranho Caso da Velha que Explodiu


Conta o povo que há muito tempo vivia lá pros lados de Varre Vento o Caboclo Chicotada. De origem incerta - alguns dizem que ele era filho de boto e outros de cobra - o certo é que era um mateiro valente, hábil no uso do tessada, versado nas artes da mandinga e capaz de enfrentar qualquer misura sem pestanejar.

Caboclo segue rio acima em seu casco.

Certa feita estava o Caboclo Chicotada em Manaus, negociando uma partida de pirarucu salgado que trouxera para vender na capital, quando soube que uma velha senhora, sua conterrânea, havia partido desta para a melhor enquanto visitava parentes na cidade.

Consternado pela notícia foi apresentar seus respeitos aos poucos familiares reunidos num pequeno velódromo. Entre os suspiros das mulheres e o murmúrio dos homens, ficou sabendo que nenhum barqueiro queria levar o corpo da defunta para ser sepultado em sua terra natal, como manda a tradição. Superticiosos ao extremo, alegavam ser mau agouro transportar um caixão - seja num imponente motor ou num modesto casco. Sabedores de sua valentia, os parentes da falecida apelaram ao Chicotada para que levasse a finada vozinha em sua canoa na viagem de volta.

Sensível aos apelos daquela pobre gente e alheio ao medo que costuma assolar aqueles que temem o sobrenatural, Chicotada não se fez de rogado e aceitou a missão. Assim, ao raiar do outro dia, um pequeno cortejo deixava o velódromo rumo a uma pequena praia no Rio Negro, onde Chicotada e outros quatro caboclos aguardavam para dar início ao transporte daquela carga inusitada.

Feitas as despedidas, lá se foram os canoeiros remando debaixo de um sol forte rumo ao Campo Santo de Varre Vento. Na Amazônia tudo é grande, principalmente as distâncias, por isso não é de estranhar que Chicotada e seus amigos levaram dois dias para alcançar o seu destino.

Como o nível do rio estava baixo devido a época do ano, ao chegarem em Varre Vento os remadores tiveram dificuldade em localizar um ponto de atracação que facilitasse o transporte do esquife. Por isso, decidiram desembarcar primeiro os remadores para procurarem o melhor caminho rumo ao Cemitério. Para evitar qualquer imprevisto, deixaram Chicotada tomando conta da canoa com a defunta e se embrenharam mata a dentro.

Cansado pelo tanto que havia remado para chegar até ali e afogueado pelo calor, o caboclo começou a sentir um aperto de fome a subir pelas entranhas. Conhecedor dos segredos da mata, não tardou a localizar um ingazeiro carregado de frutas que estendia seus ramos sobre a água. Sem perda de tempo remou mais alguns metros e começou a se fartar com aquela delícia que a mãe natureza oferecia.

Entretido em matar quem estava lhe matando, mal percebeu quando um assobio agudo cortou o silêncio que reinava no local. Lá se foi um ingá goela adentro e mais outro e outro e enfim dezenas de ingás já haviam se passado quando o assobio se fez presente, desta vez mais forte:

- Fiuuuuuuuu ...

Agora Caboclo Chicotada escutara bem escutado. A mão direita segurava mais um ingá rumo a boca, mas estava parada, suspenso o movimento no meio do caminho. Que diacho de assobio era aquele? Em toda sua vida, Chicotada nunca escutara nada igual. Bicho não era. Misura também não ...

- Fiuuuuuuuuuu ...

Desta vez o barulho foi mais alto. Chicotada levou a mão ao tessada e fez menção de levantar, mas um poderoso estrondo o fez cair na água, junto com a tampa do caixão!!

Ainda aturdido pela violência do baque, Chicotada segurou na borda do barco enquanto o banzeiro provocado pela explosão se espalhava pelo igarape. Ao sentir o pitiú que empesteava o ar compreendeu logo o que havia ocorrido. A pobre senhora passara desta para a melhor há três dias e o forte calor que haviam enfrentado na viagem devia ter apressado a decomposição. Como o caixão estava bem fechado, os gases formados durante este processo foram se acumulando até que a madeira não pode mais suportar a pressão.

O barulho foi tão forte que os companheiros voltaram correndo, a tempo de encontrar o Caboclo Chicotada tentando voltar para dentro da canoa enquanto recitava seu vasto repertório de impropérios e palavrões que fariam corar até mesmo um frade de pedra!!

Uma vez arrumada a bagunça, o cortejo seguiu rumo a última morada daquela pobre senhora que hoje é mais lembrada pelas circunstâncias de seu enterro do que pelas benfeitorias feitas em vida.

Quanto ao Caboclo Chicotada, contam que seguiu rio acima em busca do portal de acesso ao povo que vive no centro da terra. Mas isto já é uma outra história ...

Glossário Manauara


Azagaia: flecha tipo arpão com ponta de metal, muito utilizada em pescarias;
Açacu ou pau-de-açacu: árvore que exala uma resina que em contato com a pele provoca queimadura;
Banzeiro: ondas, também se diz quando as águas do rio estão agitadas;
Cambada: fieria de peixes;
Cambito: gancho de madeira utilizado para baixar o mato na hora de cortá-lo;
Canoa: barco com mais de 4 m de comprimento;
Carapanã: mosquito;
Casco: canoa pequena, sem motor;
Catraia: barco a remo;
Caxiri: pó alucinógeno;
Dim-dim: sacolé;
Ficou chibata: algo que ficou bom, ficou nota dez;
Ingau: ilha de superfície formada pela vegetação do rio;
Jato: barco de maior velocidade;
Kikao ou Quicao: hot dog, cachorro-quente;
Lancha: barco bem equipado e confortável;
Malhadeira: rede de pesca;
Mambeca: capim flutuante, utilizado como isolante para fazer fogo dentro da canoa;
Maromba: plataforma flutuante utilizada para colocar o gado durante a época da cheia
Misura: assombração;
Motor ou barco de linha: embarcação destinada ao transporte de passageiros;
Pegar o beco: ir embora;
Pegar corda: acreditar numa lorota;
Pegar menino: fazer o parto, ofício de parteira;
Picolé da massa: picolé feito com a polpa da fruta;
Pitiú: catinga, cheiro forte;
Poronga: lamparina de querosone;
Porronco: cigarro de palha;
Quicão: cachorro-quente;
Rabeta: lancha de pequeno porte com motor;
Regatão: barco que cruza o rio abastecendo os ribeirinhos, tipo um mercado flutuante;
Tambaqui: espécie de peixe muito apreciado na culinária amazônica;
Tessada: facão;
Tratar o peixe: limpar e temperar o pescado;
Velódromo: lugar onde se velam os mortos, capela mortuária;

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Flutuante dos Botos - Novo Airão - AM

Depois de rodar quase 200km Amazônia adentro, passar uma noite tranquila e degustar um café regional com direito a tapioca recheada, finalmente era hora de conhecer o tão falado Flutuante dos Botos - para saber como tudo começou, veja a primeira parte desta história em Uma aventura inesperada (clique aqui).

O boto cor-de-rosa.

Casas flutuantes são comuns por aqui não só pela facilidade de locomoção, mas também devido as constantes, e dramáticas, mudanças nos níveis dos rios. E não só as casas flutuam, pois há também mercados de artesanato, armazéns, postos de saúde, agências bancárias e, acredite, até chiqueiros que utilizam este sistema.

Um pouco de história


Há pouco mais de dez anos o flutuante era apenas a residência de D. Marilza e suas duas filhas, Marisa e Monike. Quando tinha por volta de oito anos, Marisa começou a alimentar os botos que circulavam por ali e acabou criando um vínculo com alguns deles. É importante salientar que esta foi uma atitude pioneira numa época em que a conscientização sobre a necessidade de preservar o meio-ambiente ainda não havia chegado até os ribeirinhos da região. Mesmo nos dias atuais o boto cor-de-rosa é caçado indiscriminadamente para servir de isca ou para extração dos órgãos genitais para confecção de poções as quais a crendice popular atribui propriedades afrodisíacas. A docilidade que fez com que eles se aproximassem da menina Marisa é também o elemento que facilita o trabalho destes pescadores inescrupulosos.

Aos poucos o número de animais atraídos pelas crianças foi crescendo e a interação entre eles também. Além de alimentá-los, elas passaram a nadar com eles, o que lhes valeu o apelido de Encantadoras de Botos. Não demorou para que a história se espalhasse e atraísse o interesse da imprensa. O flutuante já foi tema de dois documentários internacionais, teve uma participação no filme Fundo do Abismo e já foi tema de reportagens de diversas emissoras brasileiras. Personalidades do calibre de Bill Gates, Richard Rasmussem, Lawrence Wahba, Sandra Annenberg, entre outros, já deram o ar da graça por aqui. Hoje a atração é geradora de renda para toda a cidade de Novo Airão devido ao grande número de turistas atraídos pela possibilidade de ficar tão próximo a um boto amazônico.

A coisa tomou tal dimensão que em 2010, por iniciativa do Conselho Consultivo do Parque Anavilhanas (onde o flutuante está inserido) foi criado o Grupo de Trabalhos para analisar o assunto, o GT-Botos.

Apenas os monitores podem alimentar os botos.

O resultado deste trabalho foi uma proposta de ordenamento do turismo com botos que procurou conciliar todos os aspectos envolvidos: biológicos, ecológicos, além das variáveis culturais, sociais e econômicas. A partir daí foram implementadas as seguintes medidas de ordem prática:

  • Somente funcionários treinados podem alimentar os animais; 
  • O limite é de 2 kg/dia de peixe para cada boto;
  • Não é mais permitido nadar com os animais. Os visitantes podem entrar na plataforma submersa desde que se comportem de maneira passiva, sem molestar os animais;
  • Antes da observação é ministrada uma palestra sobre os botos e a atividade de interação desenvolvida;
  • O número de pessoas na plataforma emersa e submersa é controlado;
  • Está proibida a navegação em um raio de 20 metros ao redor do flutuante.

Curumim na esperança de ganhar mais um peixinho.

Turismo consciente


Pelas conversas que tivemos com a equipe que nos atendeu, mas principalmente pelo que pudemos observar durante o tempo que permanecemos no local, há uma grande preocupação com o bem-estar dos botos. Aqui não há redes ou telas prendendo os animais, os quais vem e vão livremente e nem sempre são os mesmos. O convívio da equipe com eles é tão natural que os mais assíduos tem até nome e são tratados de acordo com suas preferências.

No dia em que visitamos o Flutuante, deram o ar da graça Chico, um macho irrequieto e guloso que corria os demais querendo abocanhar todos os peixes, uma fêmea e Curumim, outro macho, mais velho que os demais e também o mais fácil de identificar porque tem a mordida cruzada. Segundo a monitora, Curumim tinha o bico normal até ser arpoado por um pescador e escapar. A ponta do arpão ficou presa em sua boca e foram os outros botos que a arrancaram, deixando torta sua queixada.

Eles adoram um carinho no papo.

Durante a exposição que antecede o contato, Marisa foi passando algumas orientações importantes sobre os hábitos, o comportamento e a maneira como deveríamos nos comportar. Tocar nos botos faz parte da atração, mas é preciso seguir algumas regras para evitar incidentes desagradáveis, afinal, apesar de fofinhos, são animais selvagens: nunca encostar na parte de cima da cabeça (a bossa onde fica o "sonar" do animal). O correto é acariciar a parte de baixo ou das costas para o rabo. Desde 2010 não é mais permitido nadar com os botos, mas o Flutuante conta com uma plataforma submersa onde os visitantes podem se apoiar para ter um contato mais próximo com os bichinhos.

Uma curiosidade interessante a respeito dos botos é que eles tem personalidade própria. Por exemplo, quando o boto Dani aparece é proibido entrar na água, pois ela - é uma fêmea - gosta de interagir com as pessoas mordendo. Embora a mordida seja uma forma de brincar, os turistas acabavam se machucando ao se assustar e puxar o membro mordido instintivamente, o que ocasionava arranhões e cortes superficiais na pele.

Uma experiência emocionante


Enquanto estava na plataforma submersa fotografando por diversas vezes um deles vinha e roçava nas minhas pernas como se estivesse querendo chamar minha atenção. Em outro momento, a Renata (da equipe do blog) estava sentada com os pés dentro da água quando sentiu que Chico vinha e mordiscava levemente seus dedos. Apesar de não domesticados, são animais que aprenderam a conviver com as pessoas e parecem gostar de brincar com elas.

Não sei se terei a oportunidade de encostar num boto dentro da água novamente, mas posso garantir que a sensação que tive naquele dia não será esquecida facilmente! Sob uma pele macia e escorregadia é possível sentir que há muita força naquele corpo adaptado a vida aquática e que na verdade ele é que está dando a oportunidade de viver aquela experiência. Sai de lá com um sentimento bom e, a julgar pela expressão dos demais visitantes, não fui o único.

De olho no chapéu. Quem conhece a lenda do boto sabe porque!!

Veja o início desta aventura no post Uma aventura inesperada (clique aqui).

Para ver estas e outras fotos, acesse o álbum Novo Airão - Amazonas (clique aqui) em nossa página no Facebook.

Flutuante dos Botos


Endereço: Rua Antenor Carlos Frederico, s/n, Novo Airão - Amazonas.
Horário: 08h00 às 17h00. Os botos são alimentados em intervalos regulares às 09, 10, 11, 12, 14. 15, 16 e 17 horas.
Ingresso: R$ 25,00 por pessoa. Crianças até 10 anos são isentas.
Dica: vá com trajes de banho para poder curtir os botos dentro da água.


Veja também estes outros posts sobre o Amazonas:



Fontes


AMA BOTO. História. Novo Airão. Disponível em http://amaboto.com.br/historia/. Acessado em 27 jan. 2015.

PARQUE NACIONAL DE ANAVILHANAS. ICMBio. Turismo com botos vermelhos. Novo Airão. Disponível em http://www.icmbio.gov.br/parnaanavilhanas/turismo-com-botos-vermelhos.html. Acessado em 27 jan. 2015.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Uma aventura inesperada - Novo Airão - AM

Visitar o Flutuante dos Botos em Novo Airão foi um dos pontos altos de nossa visita ao Amazonas - e também o mais surpreendente! O Flutuante é ótimo, não há dúvidas, mas a surpresa mesmo ficou por conta de como chegamos até lá. Uma história que merece ser contada.

Como tudo começou


Era segunda-feira e o dia corria tranquilo enquanto aguardávamos o transporte que nos levaria a uma praia no município de Manacapuru, próximo a Manaus. Na véspera uma prima da Renata (integrante da equipe do blog), havia nos convidado para realizar este passeio, mas como já passava das 15h00 comecei a ficar apreensivo com a possibilidade de chegar lá com pouca luz.

Felizmente a prima não demorou muito e demos início ao deslocamento, seguindo em direção à Ponte do Rio Negro para então pegarmos a rodovia AM-070. A conversa a bordo era animada e o tema principal eram os atrativos da região. Lá pelas tantas, depois de rodar um bom trecho, nossa motorista perguntou meio de sopetão:

- Vocês já viram os botinhos de Novo Airão?!

- Ainda não! Respondemos em coro.

Na verdade, nós nunca tínhamos sequer ouvido falar em Novo Airão. Puxando pela memória lembrei de ter lido sobre um lugar onde os botos interagiam com os visitantes quando preparava o material para a viagem e me parecia que era próximo a Manaus. Por isso, quando ela quis saber se preferíamos ver os botinhos ou ir a praia a resposta veio pronta:

- Os botos, é claro!!

Boto Cor-de-rosa.

Para quem não sabe, os rios da Amazônia são povoados por uma espécie muito peculiar de cetáceo, o Boto-Cor-de-Rosa. Trata-se de uma espécie única, encontrada somente na região e que se caracteriza pela coloração avermelhada da pele. São animais de comportamento social e pouco agressivos, que com frequência acompanham as embarcações saltando e fazendo evoluções. Com o ecoturismo em alta logo surgiu uma demanda pelo avistamento dos botos. Turistas do mundo inteiro querem conhecer a Amazônia e seus habitantes - e pagam bem para isso! -, criando assim um nicho de mercado voltado para roteiros que incluem o contato com animais da floresta, entre eles a visitação onde é possível brincar com os botos em seu ambiente natural.

É logo ali


Tomada a decisão, seguimos lépidos e fagueiros estrada afora confiantes que muito em breve estaríamos na água, brincando com os botinhos. Ledo engano ...

Depois de rodar por umas duas horas nossa motorista revelou que não conhecia a localização exata do flutuante e que não fazia ideia de que era tão longe. Como já passava das 17h00 comecei a pensar que não chegaríamos a tempo, uma vez que este tipo de atração costuma encerrar suas atividades ao final da tarde. Além disso, sempre é bom lembrar que estávamos na Amazônia. Ou seja, nesse ponto da viagem a paisagem era deserta, com a estrada cercada pela floresta. O ponteiro indicativo do combustível começava a baixar perigosamente e a probabilidade de encontrarmos um posto de combustível por ali era cada vez menor.

A certa altura avistamos um tronco caído na estrada, ocupando meia pista. Como não era muito grosso seguimos em frente sem desviar. Para nossa surpresa, com a aproximação do carro, o "galho" começou a se mover rapidamente tentando escapar, sem sucesso. Sentimos as rodas passando sobre a enorme cobra (possivelmente uma jovem sucuri) com receio de tê-la esmagado. Entretanto, olhando pelo retrovisor ainda pudemos vê-la seguindo em direção das árvores como se nada tivesse acontecido ...

Alguns quilômetros adiante outro "galho" na pista. Desta vez, mais preparados, desviamos e estacionamos o carro alguns metros adiante. Agora era uma papa-ovo de uns três metros de comprimento!

A papa-ovo de olho na lente.

Durante o percurso paramos umas duas ou três vezes para perguntar o caminho e a que distância ficava Novo Airão. O caminho era aquele mesmo e para aqueles caboclos acostumados a medir distâncias com dimensões amazônicas Novo Airão era "logo ali"... Resumindo, a chegada se deu por volta das 18h30, depois de percorrermos 200 km de estrada. Nada mal para quem pretendia dar um pulinho na praia e voltar.

Contando os trocados


Nem preciso dizer que o Flutuante dos Botos já havia fechado há muito tempo e só iria reabrir no dia seguinte, por volta das 08h00 da manhã. Para compensar um pouco a frustração, restou a bela paisagem do anoitecer as margens do Rio Negro. 

Cai a noite sobre o Rio Negro.

Devido ao avançado da hora decidimos pernoitar na cidade para, no dia seguinte, visitar os botos e retornar a Manaus. O plano era simples, mas esbarrou num pequeno problema: em Novo Airão os estabelecimentos comerciais não aceitam cartões de débito ou crédito! E há apenas uma agência bancária, sendo que nós todos possuímos conta em outros bancos.

O jeito foi sacar as carteiras e ver quanto cada um tinha em dinheiro para então saber quanto se poderia gastar com hospedagem, jantar, café da manhã e gasolina. O valor dos ingressos para visitar os botos foi o primeiro a ser separado, pois não havia dúvidas sobre o quê era prioridade naquele momento. Afinal, viajar aquela distância e não ver os botinhos estava fora de questão.

Depois de percorrer todos os hotéis e pousadas disponíveis optamos pela Pousada da Lana onde o pernoite custava apenas R$ 40,00 o quarto. Estava longe de ser um cinco estrelas, mas os lençóis eram limpos, o colchão decente e o banheiro privativo.

Resolvida a questão do pernoite, passamos para a próxima tarefa: jantar. Esta foi fácil de resolver, uma vez que após percorrer praticamente todas as ruas da cidade em busca de pouso já sabíamos nos localizar e fomos direto numa lancheria com mesinhas ao ar livre. Foram três sanduíches de bom tamanho e um refrigerante litro por apenas R$ 24,00 - menos que o preço de uma refeição para uma pessoa no Rio de Janeiro.

Um dinossauro na praça


Aqui não há muitas opções de lazer e, como é comum em cidades do interior, a praça principal acaba servindo como ponto de encontro dos moradores. Como logo podemos descobrir, a noite nos reservava outras surpresas, sendo que a primeira foi avistar em plena praça a estátua de um enorme dinossauro!

O dinossauro que dá nome a praça.

A silhueta daquele animal pré-histórico em uma praça no interior do Amazonas foi uma visão surpreendente, com uma pitada de surrealismo e algo divertido. Não encontramos uma explicação oficial para o fato, mas, de acordo com algumas versões, a estátua é uma referência aos sítios arqueológicos da região onde teriam sido encontrados vestígios de antigos animais. Diga-se de passagem que o lugar é conhecido como Praça do Dinossauro.

Enquanto fotografávamos o dino notamos uma forte movimentação de moradores e fomos conferir o que estava acontecendo. Era o pessoal da cidade se reunindo para ensaiar as apresentações que seriam feitas durante o Festival do Peixe Boi, evento que ocorre na cidade no final de dezembro de cada ano. O grupo estava afinado e a batida era forte e contagiante.

Bateria dos Moradores de Novo Airão.

Será que valeu a pena?


Depois de uma noite tranquila só restava um item na agenda: visitar os tão famosos botinhos que nos haviam feito percorrer 200 km de estrada e viver a melhor parte da viagem numa aventura completamente inesperada. Se valeu a pena? É claro que sim. Não foi a primeira - e tomara que não tenha sido a última - vez que nos desviamos do planejamento original para descobrir que se perder é uma das melhores formas de encontrar novos caminhos.

Depois de um bom café com tapioca seguimos até as margens do Rio Negro onde o Flutuante aguardava os visitantes para a primeira sessão do dia, mas o relato desta visita é assunto para outra postagem!


Na manhã seguinte, o Flutuante aberto!

Porque Novo Airão?

Quando ouvi falar em Novo Airão a primeira coisa que me veio a mente é o porquê da palavra Novo. Onde estaria Airão, a Velha, a cidade original? E o que teria acontecido com ela? Depois de algumas pesquisas, descobri no Portal Amazônia o seguinte:
A história da cidade começou no final do século 19, com um devastador ataque de formigas. O incidente aconteceu na comunidade de Airão Velho, hoje uma cidade fantasma. A invasão dos insetos ao município obrigou a população a se mudar para a outra margem do rio Negro. Airão Velho abriga hoje apenas ruínas de uma igreja, enquanto a nova sede se desenvolveu e é lar de 15 mil habitantes. 
Acompanhe o desfecho desta aventura no post Flutuante dos Botos (clique aqui).

Veja estas e outras fotos em Abaretiba, nossa página no Facebook, no álbum Novo Airão - Amazonas (clique aqui).

Veja também estes outros posts sobre o Amazonas:



Fonte:


PORTAL AMAZÔNIA. Novo Airão, lar de riquezas naturais no coração da Amazônia. Manaus, 24 set. 2011. Disponível emhttp://www.portalamazonia.com.br/cultura/turismo/novo-airao-lar-de-riquezas-naturais-no-coracao-da-amazonia/. Acessado em 16 jan. 2015.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Catedral de Nossa Senhora da Conceição - Manaus - AM

A Igreja Matriz de Manaus é uma bela construção em estilo neoclássico, localizada no centro da cidade e voltada para o Rio Negro, conforme o costume português durante o período colonial. É considerada a primeira obra arquitetônica de Manaus, embora o prédio atual tenha sido erguido apenas na segunda metade do século XIX.

Fachada da Matriz, dedicada à N. S. da Conceição.

Um pouco de história


No ano de 1695 missionários carmelitas ergueram uma pequena capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição junto à Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro. Infelizmente não restam mais vestígios desta primeira ocupação, uma vez que ela foi demolida em 1781 para dar lugar a construção de uma outra, a qual nunca foi concluída. Por volta de 1786, por ordem do então governador Manuel da Gama Lobo de Almada, a obra inacabada foi demolida para que outra maior fosse erguida em seu lugar.

Em 1850 um violento incêndio reduz a cinzas a igreja e tem início um lento processo de reconstrução que chegaria ao cabo somente em 15 de agosto de 1878 com a benção e inauguração do templo com a configuração atual. Em 1946 é elevada a condição de Catedral.

Altar-mor visto a partir da nave principal.

Por ser uma construção relativamente recente, a Catedral de Manaus possui um interior sóbrio, bem diferente daquele encontrado nas igrejas barrocas de Minas, por exemplo. Sua beleza singela se revela nos detalhes das pinturas e das estátuas que ladeiam o altar-mor. Boa parte dos materiais empregados em sua construção foram importados da Europa, inclusive os seis sinos que vieram de Portugal.

Detalhe do anjo sobre o altar-mor.

300 anos de resistência!


Como se pode perceber a partir da análise da história da Catedral Manauara, sua trajetória até os dias de hoje tem sido marcada por derrubadas e reconstruções (seja em virtude de melhorias ou de sinistros), donde se pode concluir que sua existência revela o grande apreço que a população lhe devota  e que isto a dotou de uma robusta capacidade de resistir aos sucessivos infortúnios.

Quando visitamos a igreja, em dezembro de 2014, era possível encontrar andaimes espalhados pelo local, como se estivesse ocorrendo alguma reforma. Entretanto, numa das colunas havia um aviso do IPHAN informando que as obras haviam sido embargadas devido a desconformidades em relação ao trabalho de restauro realizado.

Escadaria com os painéis da Via Sacra.

Do lado de fora, duas escadarias em forma de lira conduzem os fiéis da praça ao átrio (a igreja está sobre uma pequena elevação). Ladeando estas escadas há um muro com painéis de azulejos representando as estações da Via Sacra. Infelizmente estes muros encontram-se em lastimável estado de conservação e ameaçam ruir, pondo em risco os passantes e os belos murais de azulejos.

Entre as duas escadas há uma área aberta com evidentes sinais de abandono. Como ela está subdividida por paredes de alvenaria, inicialmente julgamos que se tratava de bancas para comércio. Uma pesquisa posterior revelou que ali funcionava um zoológico e as divisórias eram na verdade as antigas jaulas onde ficavam confinados os animais. Com a transferência destes inquilinos a área ficou jogada a própria sorte.

Somado a isto o cenário caótico formado pelos camelôs alojados na praça e a balbúrdia do trânsito - há um terminal de ônibus com várias linhas ali - a impressão que se tem é de completo abandono. Uma lástima, pois se este recanto tivesse o tratamento adequado certamente seria um ponto turístico tão apreciado quanto o Teatro Amazonas.

O descaso do poder público é evidente, por isso talvez seja hora dos manauaras demonstrarem novamente seu amor pela Catedral exigindo que algo seja feito, antes que uma nova reconstrução entre para a história.


Veja estas e outras imagens em Abaretiba, nossa página no Facebook, no álbum Catedral de Nossa Senhora da Conceição.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Bosque da Ciência - Manaus - AM

Ao saber que iria visitar um local no qual seria possível ver peixe-boi ao vivo logo imaginei que se tratava de alguma estação experimental no meio do mato. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que se tratava do Bosque da Ciência, uma iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA que fica em plena cidade de Manaus, com acesso fácil, estacionamento gratuito e ingressos a R$ 5,00!

Um pedaço da floresta no coração da cidade


São aproximadamente 13 hectares de área verde onde adultos e crianças podem se divertir e aprender sobre o meio ambiente, a natureza e a importância de sua preservação de uma forma totalmente lúdica e divertida.
 
Na Casa da Ciência tem de tudo um pouco.

Um exemplo disto é o museu conhecido como Casa da Ciência, um espaço destinado a funcionar como centro de exposições didáticas que contam um pouco da história da Amazônia. Aqui o visitante encontra painéis informativos, exemplares da fauna e da flora amazônica, maquetes, aquários, amostras de produtos e a reprodução do modo de vida do seringueiro.

Nem peixe nem boi


O bosque conta com outras atrações interessantes, como a trilha suspensa, as ariranhas, os jacarés e os poraquês (peixe-elétrico). Mas indiscutivelmente as estrelas do show são os imensos peixes-boi que vivem em tanques com janelas de vidro para observação dos visitantes.

Todos querem ver o peixe-boi!

Por ser um animal extremamente dócil e muito procurado por sua carne, óleo e couro, o peixe-boi da Amazônia foi caçado até quase a extinção, sendo que a partir da década de 70 tiveram início diversas iniciativas de preservação deste mamífero aquático.

Cauda de peixe-boi.

Os estudos sobre a biologia e conservação do peixe-boi da Amazônia iniciaram-se em 1974 no Laboratório de Mamíferos Aquáticos - LMA, do INPA, o qual já reabilitou com sucesso mais de 60 filhotes, cujas mães foram vítimas de caçadores. Nestes tanques, em 1998, nasceu Erê, o primeiro filhote de peixe-boi da Amazônia reproduzido em cativeiro.

Peixes-boi no tanque de aclimatação, aguardando reintegração no ambiente natural.

Órgãos de defesa ambiental como o IBAMA e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar costumam trazer para cá filhotes órfãos recolhidos durante as operações de fiscalização e repressão à caça ilegal. Via de regra os filhotes chegam desnutridos e precisam passar por um período de reabilitação para só então serem transferidos para os tanques de crescimento, onde vivem em média por três anos. Uma vez que atinjam as condições ideais de maturidade, passam algum tempo em tanques de água turva para se adaptarem as condições da vida selvagem. Após este período, são reintroduzidos no ambiente natural.


Para saber mais sobre o Bosque da Ciência visite a página oficial clicando aqui.

Veja estas e outras imagens em Abaretiba, nossa página no Facebook, no álbum Bosque da Ciência - INPA (clique aqui).

Bosque da Ciência

Endereço: R. Otávio Cabral, s/n - Manaus - AM.
Telefones: (092) 3643-3192, 3643-3312 e 3643-3293.
Horário: Terça à sexta das 9h às 12h e das 14h às 17h. Sábados, domingos e feriados das 9h às 16h.
Atenção: Às segundas-feiras o Bosque é fechado para manutenção!
Venda de ingressos: Pela manhã das 9h às 11h30m e a tarde das 14h às 16h.
Valor do Ingresso: R$ 5,00 - crianças até 12 anos e idosos a partir de 60 anos não pagam. Visitas de grupos Escolares terão entrada franca, porém, precisa ser feita uma solicitação através de ofício.
Como chegar: de ônibus pela linha 519, de micro-ônibus linha 810.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Expedição Amazonas - Manaus - AM

No dia 09 de dezembro a equipe do GSMA partiu rumo à Manaus para conhecer uma das regiões mais belas, enigmáticas e fascinantes do planeta: a Floresta Amazônica! Foram 13 dias inesquecíveis gastando sola pelas ruas da antiga capital dos seringueiros, navegando ao encontro das águas, caminhando na floresta, provando pratos típicos e, principalmente, aprendendo muito com o povo da terra.

A viagem


Saímos por volta das 12h30min do Galeão, no Rio de Janeiro, para um voo tranquilo de quatro horas até o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes em Manaus. Como há uma diferença de duas horas no fuso horário desembarcamos às 14h30min horário local. O aeroporto possui instalações amplas e confortáveis, resultado da reforma destinada a atender aos torcedores que visitaram a cidade por ocasião da Copa do Mundo de 2014.

Primeiras impressões


Aqui no eixo Rio-São Paulo, sempre que o assunto é Amazônia, via de regra o enfoque recai sobre aspectos relativos a flora, fauna, desmatamento, questões indígenas entre outros. Com isso nos acostumamos a pensar na Amazônia sempre do ponto de vista do bioma e acabamos por esquecer que ali também existem cidades e muita interação entre o homem e a natureza.

Talvez por isso minha primeira impressão sobre Manaus foi de que aquelas avenidas urbanizadas não deveriam estar ali e que toda aquela atividade tipicamente citadina estava fora de lugar. Mas foi só a primeira impressão, pois logo percebi que o errado nesta história era eu e que o Estado do Amazonas precisa de uma capital a sua altura!

Outra bola fora, fruto do desconhecimento, foi imaginar que o imenso rio que se avistava ao longe fosse o Amazonas, quando na verdade era o Rio Negro. Isso que dá não fazer a lição de casa direito antes de viajar.

Ponte Rio Negro, ligando Manaus a Iranduba.

Felizmente o pessoal que nos apanhara no aeroporto já devia estar acostumado com estas questões e respondia a nossas perguntas com bom humor e simpatia. Assim ficamos sabendo que de fato a cidade de Manaus vem enfrentando um período de acelerado crescimento urbano e sofrendo com a decorrente especulação imobiliária. E que este processo teve um impulso considerável com a inauguração em 2011 da Ponte do Rio Negro, que liga a capital a Iranduba, uma vez que a facilidade de acesso permitiu a construção de diversos condomínios residências neste município.

Praia da Ponta Negra, no centro da cidade.

Outro aspecto que cedo despertou nossa atenção foi a relação do amazonense com os rios que cercam, e servem, a região. Há diversos terminais de passageiros e uma grande Hidroviária na cidade. Isto sem falar na quantidade de pequenos barcos e canoas que se avista por toda parte.

A babel de barcos no Terminal A Jato.

Destes terminais partem os motores (barcos de passageiros) com destino as cidades do interior do Estado, como Labreas e Parintins, e mais além, podendo chegar até Belém do Pará. As viagens costumam durar vários dias e a maioria dos passageiros se acomoda em redes no convés da embarcação. Através dos motores os ribeirinhos realizam mudanças, se abastecem com provisões e transportam quem necessita do atendimento médico inexistente em seu local de origem.

Vendo a vida passar.

A natureza ao alcance da mão


Mas o Amazonas não é apenas Manaus e Manaus não é apenas cidade. Já na região metropolitana se pode perceber uma natureza exuberante que a cerca com rios, áreas de selva e um céu que pode trocar o azul profundo pelo aguaceiro num piscar de olhos.

Pôr do sol no Rio Amazonas, na região metropolitana de Manaus.

Desta natureza onipresente vem a fartura que sustenta tanto o caboclo do interior como o manauara e vem se convertendo num item importante da gastronomia brasileira. O crescente interesse que os frutos da floresta vem despertando no setor gastronômico já ultrapassou as fronteiras brasileiras, tornando-os elementos importantes do cardápio tributário amazonense. Destaque para os peixes, tantos e de tão variadas formas e sabores que os mercados daqui destinam uma área específica para eles.

Manta de pirarucu salgado.

Na escola ensinavam que pirarucu é o bacalhau brasileiro. Mas você já provou pirarucu? Se não, saiba que a versão salgada é apenas uma das formas de saborear sua carne e que o ventrecho deste peixe na brasa é um dos pratos mais apreciados pelo povo da terra. E não faltam motivos para isso, pois o sabor é realmente surpreendente.

Cuiu-cuiu, aspecto pré-histórico e sabor de primeira.

Surpresa mesmo ficou por conta do Cuiu-cuiu, um peixe da família dos cascudos que possui um aspecto que lembra um animal pré-histórico, mas tem uma carne também muito apreciada pelos locais. O bicho é tão impressionante que num dos passeios que fizemos um exemplar acabou virando souvenir e hoje faz parte da coleção do GSMA.

Durante nossa estada no Amazonas recolhemos muitas histórias, informações e imagens que, a  partir de hoje, publicaremos numa série de posts sobre temas específicos. Em nossa página do Facebook você já pode ir se deliciando com as fotos que postamos durante a viagem:


Veja também estes outros posts sobre o Amazonas: