segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Tiradentes: parar no tempo não significa perder o trem da história

Largo das Forras em Tiradentes - MG

Quando Tiradentes era Alferes do Exército Colonial Português, a pequena cidade que hoje leva seu nome era conhecida como Vila de São José del Rei e famosa pela mineração de ouro na superfície. A abundância de ouro trouxe a prosperidade e o desenvolvimento, mas sua escassez acabou por desencadear o processo que acabaria por converter o alferes em réu, mártir e, em 1889, com a ascensão da República, herói brasileiro.

Por mais de um século a cidade ficou esquecida, como se o tempo tivesse decido poupar as igrejas, as ruas de pedra e o casario da ruína, tornando-os testemunhas silenciosas do passado. Redescoberta há alguns anos, passou por um processo de revitalização que soube manter suas características originais. Tiradentes está tão bem preservada que é quase uma cidade cenográfica, tendo servido de locação para algumas produções de época tanto do cinema quanto da televisão.

Atualmente é um polo turístico singular e muito concorrido. Por um lado, recebe os visitantes com seu ar bucólico de cidadezinha mineira. Por outro, é palco de grandes eventos em diversas áreas (gastronomia, cinema, fotografia e motociclismo!) e oferece uma ampla e moderna infraestrutura para receber os milhares de turistas que a visitam todos os anos. E ai vai a primeira dica: para curtir a cidade com calma, fuja do final de semana. De segunda a sexta pode-se apreciar Tiradentes com a calma que a cidade merece.

Basta uma volta pelo Largo das Forras para perceber que é bom mesmo ir com calma, pois as ruas principais possuem calçamento tipo pé-de-mole ou de pedras viúvas (aquelas que não “casam” entre si). Em outras palavras, a próxima dica é calçar um sapato confortável para facilitar as andanças. Mas se caminhar não é o seu forte, tudo bem. Há charretes que levam os passageiros seguindo um roteiro que abrange os pontos principais e com direito a explanação do guia/cocheiro.

Igrejas

A religiosidade marcante do séc. XVIII está presente em todas os recantos, seja nos templos, nas estações da via sacra ou nas pequenas cruzes decoradas que dão um toque todo especial às casas de Tiradentes. No período em que estivemos na cidade, apenas três igrejas estavam abertas a visitação:
  • A Igreja Matriz de Santo Antônio: construção imponente que se destaca na paisagem, sendo visível do alto da Serra São José. A visitação é cobrada, mas podemos garantir que visitar seu interior vale o valor do ingresso. Por motivos de segurança, não é permitido tirar fotos. De acordo com alguns moradores, este é o segundo templo no Brasil em quantidade e ouro, informação amplamente contestada pelos moradores de Ouro Preto!
  • Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos: enquanto a Matriz destinava-se as classes mais abastadas, outras igrejas atendiam aos setores menos favorecidos da população, inclusive aos escravos. É o caso desta igreja. De uma singeleza comovente, conta a tradição que ela foi construída por escravos africanos em suas poucas horas de folga. Internamente apresenta o altar mor finamente decorado e apenas dois pequenos altares laterais. As pinturas do teto são um atrativo a parte. O curioso com relação a este templo é que ele está localizado de frente para a cadeia. Contam os antigos que este arranjo visava facilitar a vigilância dos negros pela guarda ali aquartelada.
  • Igreja da Santíssima Trindade: foi a primeira a ser construída, mas está em pleno uso até hoje. Na parte posterior encontra-se uma ampla área ajardinada, salas destinada ao atendimento da população e uma loja de artigos religiosos.
Igreja Matriz de Santo Antônio
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Igreja da Santíssima Trindade


Chafariz de São José

Está situado na parte baixa da cidade e sua construção é datada de 1749. Destinado a abastecer o povoado, divide-se em três partes principais: carrancas e tanque para coleta de água, área para lavagem de roupa e cocho para dar de beber aos animais. A tubulação responsável pelo fornecimento de água foi escavada na pedra pelos escravos e o ponto de coleta se situa no bosque atrás da edificação, o qual está aberto para visitação até as 16h00. Não deixe de examinar atentamente a tubulação para identificar as escavações feitas pelos escravos para capturar o ouro que descia da serra junto com a água.
O Chafariz em ação!

Poço dos Escravos

Localizado na parte alta, num beco atrás da rua ????, foi escavado pelos escravos que trabalhavam na construção da Igreja Matriz para evitar o trabalho de ir e vir até o Chafariz de São José.

Passagens não tão secretas
E por falar em becos, aqui vai outra dica: fique atento aos caminhos secundários que cortam as ruas principais de Tiradentes. Estas vielas, ou becos, eram destinadas aos escravos em seus deslocamentos a serviço dos patrões e hoje facilitam a vida dos moradores locais. Além de cortar caminho, é possível descobrir recantos aprazíveis e pedaços da história da cidade.

Artesanato

Opções não faltam e é possível encontrar antiquários e lojas de artesanato por toda parte. Seguindo a tradição do século XVIII, o comércio apresenta maior concentração de lojas na rua Direita, mas também há lojas na rua da Cadeia e no Largo das Forras. Se os preços estiverem um pouco salgados, a dica é ir direto à fonte, no caso o Distrito de Bichinho. Fica a uns 6km de Tiradentes e lá se concentram os ateliês dos artesãos. A região é conhecida especialmente pelos trabalhos em estanho e móveis rústicos feitos com madeira de demolição.

Em frente ao Chafariz de São José encontramos algo realmente diferente. Um artesão local que confecciona miniaturas do casario reciclando garrafas pet. O resultado final é muito bom. Além de serem ecologicamente corretas, as miniaturas são extremamente resistentes e sobrevivem a qualquer viagem.

Restaurantes

Considerando que Tiradentes é um polo gastronômico em franca expansão fica fácil entender a presença de tantos restaurantes com cozinha internacional e pratos pra lá de sofisticados. Contudo, em nossa modesta opinião, estando em Minas nada melhor que aproveitar para provar a verdadeira comida mineira, certo? Além disso, depois de explorar cada canto da cidade o corpo pede algo que dê sustança (como se diz por aqui). E foi assim que encontramos uma opção familiar, com mesinhas na rua e o verdadeiro sabor do fogão a lenha. Fica no mesmo largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

Trilhas e Trilhos

Ecoturismo está em alta por aqui e as agências montaram roteiros diversificados para atender aos diversos tipos de turistas que visitam a cidade.

Os mais aventureiros (e bem preparados fisicamente) podem fazer uma das trilhas que cortam a Serra de São José. O caminho é íngreme e nem sempre bem demarcado, por isso vá sempre com um guia experiente.

Também há city tour, visita a cavernas e cachoeiras, além da possibilidade de fazer seu próprio roteiro alugando bicicletas ou quadriciclos.

E por último, mas não menos importante, o passeio de Maria Fumaça Tiradentes x São João Del Rei. Existe a opção de comprar apenas a passagem de ida, uma vez que a ligação entre as duas cidades é feita por ônibus regulares. Como a Maria Fumaça faz apenas duas viagens por dia esta é uma forma do visitante ter mais tempo para aproveitar a visita. Se for utilizar a linha de ônibus Presidente, procure pegar a condução na Rodoviária, pois alguns motoristas tem o péssimo hábito de ignorar as pessoas que esperam nas paradas ao longo do trajeto.

Como chegar

Vindo de avião ou ônibus, é preciso ir a São João Del Rei que fica a uns 17km de Tiradentes.

De carro

Vindo de Belo Horizonte: BR-040 (até Congonhas) e BR-383 (direção a São João del Rei);
Vindo do Rio de Janeiro: BR-040 (até Barbacena) e BR-265 (direção a São João del Rei);
Vindo de São Paulo: BR-381 (até Lavras) e BR-265.

De ônibus


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