Cuzco é um lugar repleto de singularidades. Aqui a cultura ancestral convive com a herança colonial e os tempos modernos sem conflitos aparentes. E isto não é difícil de perceber, mesmo estando muito próximo do Centro Histórico ou de outros pontos turísticos. Foi o que descobri na manhã do segundo dia, quando sai bem cedinho gastando sola pelas ruas para ver a cidade despertar.
Uma cena comum: mulheres com suas lhamas em busca de turistas para fotos. |
Mulheres tradicionalmente vestidas atravessam a rua sob o olhar vigilante da guarda de trânsito. |
E nem foi preciso ir muito longe. Bastou caminhar algumas quadras e parar numa esquina por alguns instantes para sentir que o tempo aqui flui em outro ritmo, bem mais devagar, trazendo cenas que mesclam a vida pacata do interior com a rotina de uma cidade grande. Como esta, da guarda de trânsito que acompanhou vigilante duas senhoras que precisavam atravessar a rua. Diga-se de passagem que o zelo se justifica, pois um dos pontos negativos de Cuzco é o trânsito confuso - e sempre engarrafado ao cair da tarde.
Grupo local no assédio aos hóspedes de um grande hotel. |
Quando chegava ao Centro Artesanal de Cuzco avistei, do outro lado da rua, um grupo parado em frente a um hotel de luxo e, pelo volume dos sacos que portavam, não foi difícil deduzir que eram vendedores de regalos e artesanías. Cada vez que um hóspede com cara de turista saia pela porta do hotel o grupo se acercava oferecendo suas mercadorias numa corrida para ver quem alcançava primeiro o freguês.
Enquanto fazia pontaria com a teleobjetiva para capturar a caça ao turista que se desenrolava mais adiante, um rapaz com uma grande pasta debaixo do braço chegou bem perto e ficou olhando, curioso. Era Henry, um simpático vendedor de quadros que deve ter achado muito estranho aquele gringo fotografando sabe-se lá o quê! Em pouco tempo a conversa corria solta como se fossemos velhos conhecidos. Depois de explicar a ele o propósito de minha visita prometi publicar sua foto e anunciar seu produto no blog. Então, promessa cumprida. Quando em Cuzco, procurem pelo Henry na praça em frente ao Centro de Artesanato e digam que fui eu quem o indicou.
Corredores do Centro de Artesanato são decorados com bandeiras de vários paises. |
Foi assim que me deparei com a tenda da Marlene, uma sorridente artesã que ficou muito orgulhosa em explicar que era ela e sua família quem produzia as peças pelas quais eu demonstrava interesse. Eram pequenos Toritos de Pukara feitos em porcelana vitrificada, pintados a mão com pigmentos orgânicos. Gostei tanto que levei cinco, voltei dois dias depois e levei mais cinco. Uma excelente lembrança para os amigos, o problema agora é conseguir me desapegar deles.
Marlene, misto de artesã e vendedora. |
Alguns passos mais rápidos depois (as vezes esquecia que por lá o ar é rarefeito) e a respiração começou a ficar ofegante. Era a deixa para uma parada estratégica para um chá de coca. Na rua Matara, onde me encontrava, não faltam opções de bares e lancherias que oferecem o chá, então não foi preciso procurar muito. O curioso, para nós que temos outra ideia do que seja a coca, é que aqui ela é considerada um produto natural, oferecido abertamente e do qual sabem muito bem como obter os efeitos terapêuticos desejados. Quando bate o mal-estar provacado pela altitude, é um santo remédio.
Mate de coca industrializado. Um pouco amargo, mas eficaz contra o soroche. |
Portal de Santa Clara, próxima a Igreja de São Francisco. |
Cruzando pelo portal e seguindo em frente chega-se a praça onde fica o famoso Mercado Municipal ou Mercado de San Pedro, como também é conhecido. Não é um ponto turístico, mas se você, como eu, gosta de saber como vive o povo da região, a visita é obrigatória.
Logo na entrada chama a atenção uma grande faixa anunciando aos amigos do alheio que lhes está proibida a entrada. Aos que se arriscarem, pena de prisão e espancamento! Talvez seja este o segredo da tranquilidade do lugar.
Cartaz na entrada do mercado avisa que está proibido o ingresso de amigos do alheio no recinto. |
No Mercado San Pedro encontra-se principalmente gêneros alimentícios e utilidades para o lar, com destaque para as frutas e hortaliças disponíveis em grandes quantidades e com excelente aspecto. Várias carnicerias (açougues) expõem sua mercadoria abertamente e sem refrigeração. Interessante que aqui não há moscas. Será pela altitude?
Açougueira preparando a carne. |
Máscaras festivas. O nariz longo é uma alusão aos colonizadores espanhóis. |
Além das bancas, há também vendedores ambulantes espalhados pelo mercado, expondo seus produtos no chão com a maior naturalidade.
Vendedora regando seus legumes. |
Vendedora em meio aos corredores do mercado. |
Vou de banca em banca cumprimentado a todos e perguntando sobre os produtos que oferecem. A recepção é amigável, como sempre, e todos parecem achar graça no meu interesse por coisas, para eles, tão comuns. As entrevistas, além de enriquecerem meu repertório culinário, acabam por proporcionar um benefício muito importante: uma senhora especializada em ervas medicinais me oferece um pacote de folhas de coca por Sl 1,00 (um sole = um real). Receoso, pergunto se pode ocorrer algum efeito colateral e ela, sem cerimônias, põe a língua para fora para mostrar que está mascando enquanto falamos. Com um sorriso explica que não há perigo e mostra a quantidade a ser usada em cada aplicação. Dias depois, encarando as escadarias de Wiñai Wayna, lembrarei desta lição com carinho.
Um gesto de solidariedade. |
Leia também o relato do primeiro dia: Cuzco - Peru.
Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook:
Cusco - flagrantes de um passante;
Mercado de San Pedro - aqui se encontra de tudo;
Trilha Inca Curta - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu - um dia na cidade sagrada dos Incas.
Veja os álbuns de fotos sobre a viagem ao Peru em Abaretiba, nossa página no Facebook:
Cusco - flagrantes de um passante;
Mercado de San Pedro - aqui se encontra de tudo;
Trilha Inca Curta - rumo à Machu Picchu;
Águas Calientes - reabastecer para continuar a jornada;
Machu Picchu - um dia na cidade sagrada dos Incas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário