sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Fortaleza dos Reis Magos - Natal - RN

O constante assédio de corsários franceses e a presença de tribos hostis à ocupação portuguesa, levou Felipe II - neste período Portugal fazia parte do reino da Espanha pelo tratado da União Ibérica - a determinar a ocupação efetiva do território as margens do Rio Potengi. Dadas as circunstâncias, o melhor a fazer era criar condições de defesa contra os constantes ataques e então, no dia 06 de janeiro de 1598, Dia de Reis pelo calendário católico, ergueu-se uma paliçada que teve o mérito de repelir os invasores.

Com o passar do tempo a fortificação inicial foi constantemente ampliada até tornar-se a Fortaleza dos Reis Magos como a conhecemos hoje. Tanto a escolha da localização como o projeto revelam um profundo conhecimento de estratégia e engenharia militar.

A edificação foi erguida sobre arrecifes e fica completamente isolada durante a maré cheia, o que acrescenta uma vantagem defensiva considerável para os recursos da época. Devido a isto, o acesso deve ser feito por uma passarela que leva até a entrada do forte, hoje reformulada para facilitar o ingresso dos turistas. Originalmente, um engenhoso sistema de corredores forçava o enfileiramento dos passantes em meio as amuradas, tornando alvo fácil uma tropa invasora. Além disso, o pouco espaço em frente à porta impedia o uso de arietes para arrombá-la. Internamente, o recinto era desenhado de maneira a facilitar a construção de barricadas em caso de invasão.

Apesar disto, em 1633 a Fortaleza é tomada pelos holandeses e passa se chamar Kasteel Keulen (Castelo Ceulen), tendo sido retomada pelos portugueses somente em 1654.

Acesso à fortaleza é feito por uma passarela.

Da Fortaleza tem-se uma bela vista da cidade de Natal e da Praia do Forte.

Além das estratégias de defesas já citadas, a Fortaleza apresenta outras soluções de engenharia bastante interessantes. É o caso da edificação do pátio central, um misto de paiol, capela e poço. Em parte, a reunião deve-se pela necessidade de economia de espaço, mas há outros motivos de ordem militar. O paiol ficava equidistante das edificações internas para, em caso de incêndio, causar o mínimo de dano e ao mesmo tempo elevado do solo úmido, sujeito a alagamentos que poderiam danificar a pólvora ali armazenada.



Capela, paiol e poço reunidos
numa única edificação.
Vista do acesso ao paiol, na parte superior
da capela.

O poço era de água salobra devido a proximidade com a água salgada do mar e destinado ao consumo pelos praças da fortificação. Um sistema de coleta da água da chuva nos telhados alimentava uma sisterna para uso exclusivo do comandante e do oficialato.

Histórias de arrepiar


Como toda instalação militar, a Fortaleza tem um calabouço, o qual foi muito utilizado no decorrer de sua história. Consta que suas instalações foram utilizadas como prisão política para os envolvidos na Revolução Pernambucana de 1817, por exemplo.

Entretanto, há duas salas que foram projetadas para aplicação de penas de extrema crueldade. Na primeira, uma peça de grossas paredes e isolada do exterior, o prisioneiro ficava detido por um longo período em completa escuridão. Ao final deste tempo, era jogado no pátio num dia de muita luz para que o choque lhe causa-se cegueira permanente. Segundo o guia que nos atendeu, este suplício foi utilizado ao menos uma vez.

A segunda fica num dos extremos da construção e possui um grande alçapão que pode ser aberto apenas pelo lado de dentro. Abaixo, a uma elevada altura em relação ao solo, encontram-se pedras de arrecife, pontiguadas e cortantes. Na hora da maré baixa o supliciado era jogado sobre estas pedras de modo a ferir-se, mas não morrer. Feito isto, ficava agonizando até que a maré alta se encarrega-se de afogá-lo.



As edificação internas destinavam-se à parte administrativa, calabouço e alojamentos.

Apesar das histórias lúgrubes, ou talvez até por elas, este é um local que vale a pena ser visitado, não só pelo seu valor histórico, mas também pela beleza do lugar. A Fortaleza dos Reis Magos é considerado o ponto preferido dos turistas que visitam Natal e uma volta pelas suas muradas torna fácil entender porque.

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